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A santidade e os dons do Espírito Santo

Espiritualidade
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9/6/2025
Equipe do Padre Leonardo Wagner

À medida que a pessoa cresce em santidade, os dons do Espírito Santo tornam-se mais ativos. Isso acontece porque os impedimentos à atuação do Espírito Santo — especialmente os apegos desordenados e a falta de virtude — são superados pelo progresso na vida espiritual. 

Quando esses obstáculos são removidos por meio das virtudes naturais e sobrenaturais, os dons se manifestam com maior frequência e eficácia.

Santo Tomás de Aquino ensina que quanto mais cresce o estado de graça santificante na alma, mais intensamente os dons do Espírito operam. 

Embora não possamos usar voluntariamente esses dons — pois são infusos e operam de maneira passiva, sob o impulso divino — podemos dispor-nos melhor a recebê-los cultivando virtudes correspondentes e pedindo sua atuação.

Assim como acontece com as virtudes teologais, os dons não são plenamente operativos enquanto a alma estiver desordenada. 

Uma vez que a pessoa se purifica e cresce em santidade, os dons tornam-se constantes e eficazes em sua vida. 

O verdadeiro santo é aquele no qual esses dons estão sempre ativos. São Padre Pio, por exemplo, manifestava de modo claro o dom de conselho; Santa Teresinha do Menino Jesus era marcada por um profundo temor de Deus e uma piedade consumada.

Se esses dons não estão operando em sua vida, é um sinal de que há trabalho a ser feito na alma.

A reverência devida a Deus

Imagine que encontrássemos um elemento explosivo em nossa cozinha.

Qualquer movimento em falso poderia causar uma explosão que nos eliminaria instantaneamente. Quem deveria manusear tal substância? Certamente não alguém inexperiente, mas alguém treinado, cuidadoso, capaz de lidar com tal potência com reverência e precisão.

Agora pense: se tomamos tais precauções diante de uma substância material, por que somos tão descuidados diante de Deus, que é infinitamente mais poderoso? 

Um homem no Antigo Testamento apenas tentou impedir que a Arca da Aliança caísse, tocando-a com a mão e Deus o matou. 

Isso nos mostra que estamos lidando com um Deus que pode, com um simples pensamento, acabar com todo o universo.

No entanto, qualquer pessoa nos dias de hoje, sem formação, sem reverência, pode subir ao altar, manusear a Santíssima Eucaristia, tratar a liturgia com leviandade, como se Deus não se importasse. 

O temor de Deus, que é o princípio da sabedoria (como diz a Escritura), praticamente desapareceu. Não tememos mais ofendê-l'O. 

Isso acontece hoje porque julgamos Deus segundo nossos sentimentos e emoções, em vez pensarmos n’Ele como Ele mesmo se revelou.

Deus não é uma emoção

Julgamos Deus à luz de nossas emoções. Se uma oração não é respondida como desejávamos, concluímos que Ele nos abandonou. 

Se algo nos faz sentir bem, concluímos que é de Deus. 

Mas Santa Teresa d’Ávila advertiu: a primeira coisa que Deus faz com quem deseja santificar é torná-lo miserável — porque a alma precisa ser purificada.

Não compreendemos Deus porque O julgamos segundo os padrões do mundo e de nós mesmos. Os santos, ao contrário, compreendem como se deve lidar com Deus porque têm sabedoria — um dom do Espírito que lhes permite vê-l'O como Ele é.

Os sete dons do Espírito Santo

As virtudes são hábitos, mas os dons do Espírito Santo são disposições.

Essas disposições são infusas na alma por Deus, para que Ele faça delas uso quando desejar; a fim de que a pessoa seja mais facilmente movida por Ele.

  1. Temor de Deus
    É o início da sabedoria. Não se trata de medo servil, mas de reverência profunda e desejo de não ofender aqu'Ele que é infinitamente bom e poderoso. O temor de Deus nos coloca em nosso devido lugar e nos preserva do pecado.

  2. Fortaleza
    É a força interior, infundida por Deus, que permite sustentar grandes sofrimentos por amor a Ele, inclusive o martírio. Sem esse dom, é impossível perseverar em situações extremas. Os mártires, como São Lourenço e os três jovens da fornalha ardente são testemunhos dessa graça.

  3. Piedade
    Inclina-nos a reconhecer Deus como Pai e a tratar os outros como verdadeiros filhos de Deus. Em tempos de ataque à paternidade, à masculinidade e à autoridade, este dom é vital. A piedade leva-nos ao amor fraterno, à caridade concreta e ao respeito pela dignidade alheia.

  4. Conselho
    É a iluminação divina diante de situações complexas, quando não conhecemos todos os fatores. Permite-nos agir corretamente mesmo sem entender tudo, porque Deus nos guia de modo misterioso, como por um instinto espiritual.

  5. Entendimento
    É uma intuição clara e profunda das verdades da fé. É o dom que nos permite reconhecer com nitidez que algo é verdadeiro ou falso, mesmo antes de podermos argumentar logicamente. Quando se ouve alguém dizer que mulheres deveriam ser ordenadas sacerdotes, o dom do entendimento nos alerta imediatamente: “isso não está certo”.

  6. Ciência
    Enquanto a sabedoria nos ajuda a ver Deus como Ele se vê, o dom da ciência nos permite ver a criação como Deus a vê. Reconhecemos a ordem da criação, a beleza do cosmos, o propósito inscrito na natureza. É por isso que sabemos que certos absurdos modernos, como o ambientalismo ideológico, são enganos: se Deus colocou combustíveis fósseis na terra, é porque fazem parte de sua providência.

  7. Sabedoria
    É o ápice dos dons. Nos faz saborear as coisas divinas, julgando todas as coisas à luz de Deus. Um santo dotado de sabedoria percebe a realidade com os olhos da eternidade. Vive para Deus, respira por Deus, e tudo o mais se ordena a esse fim último.


Conclusão

À medida que a alma se purifica, os dons do Espírito tornam-se mais ativos, moldando nossas ações, escolhas e toda a vida espiritual. 

Como diz Santo Agostinho: “Deus nos move sem nós”, ou seja, age em nós sem que tenhamos controle — mas sempre em vista do bem.

Esses dons operam com mais intensidade à medida que a graça santificante aumenta. Por isso, devemos buscar a santidade, purificar a alma dos apegos desordenados, pedir frequentemente esses dons e praticar as virtudes que lhes correspondem. Quando isso ocorre, Deus infunde em nós uma disposição cada vez maior para sermos movidos por Ele.

Esse é o caminho dos santos.

Façamos uma resolução de rezar todos os dias ao despertar, pedindo a Deus que sejamos repletos dos sete dons do Espírito Santo.

Referências:

Santo Agostinho. O sermão da Montanha, Teodoro Editor, Niterói, 2018.
São Basílio de Cesareia. Tratado do Espírito Santo. In: Patrística, vol. 14, Paulus.

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