Espiritualidade
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minutos de leitura
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18.12.2025

Confiança e abandono à Providência de Deus

PL
Equipe do Padre Leonardo Wagner
Formação Católica

Lemos nos santos Evangelhos o episódio da tempestade no mar da Galileia, no qual o vento e o mar obedecem à ordem de Nosso Senhor. De repente, essas forças da natureza que se agitavam em uma grande tempestade, diante da repreensão de Nosso Senhor, acalmam-se em uma grande bonança.

Ah, se as nossas almas fossem tão obedientes quanto as ondas e os ventos! Ansiedade inútil e preocupação inquieta: o que perturba o mar de nossas almas vem do orgulho e da falta de fé, e, em última análise, da falta de humildade e de caridade.

O orgulho faz com que nos apeguemos à nossa própria vontade e não à de Deus. Ele nos faz amar a nossa vontade, os nossos planos, os nossos desejos, o nosso calendário, acima de Deus.

Nosso orgulho nos faz pensar que temos ou que deveríamos ter poder sobre coisas que estão além do nosso controle — isso nada mais é do que amor-próprio, que alimenta os fogos do inferno: o apego à própria vontade.

É muito fácil lermos as notícias do dia e logo nos perdermos em uma ansiedade inútil. Estamos cercados por um mar de gente que transforma a sociedade numa tempestade de desobediência contra Deus e sua santa Lei.

Porém, não importa quantas pessoas conspirem nesta pequena revolução contra Deus: todos os seus esforços serão insuficientes e elas fracassarão completamente.

É possível que elas causem uma grande desordem neste mundo, mas não podem chegar ao ponto de mudar a lei de Deus, nem interferir de modo algum em Sua Providência. Deus, em Sua Providência, utiliza até mesmo a desobediência deles para realizar a salvação de Seus filhos.

As pessoas são, de fato, livres para serem individualistas e para também influenciarem nesse sentido o meio onde vivem; são livres para perseguir um projeto de vida que seja inútil e levá-lo até o inferno.

Elas podem arruinar a si mesmas; mas não podem arruinar a Providência de Deus, assim como um homem que grita contra o vento não pode mudar sua direção.

O cuidado paterno de Deus

São Francisco de Sales diz que o abandono é a virtude das virtudes, o creme da caridade, o perfume da humildade, a doçura da paciência e o fruto da perseverança. O abandono nasce da fé infusa e da caridade; seus frutos na alma são a paz perfeita e a caridade zelosa.

Nosso Senhor ama com um amor extremamente terno todos aqueles que se abandonam inteiramente ao Seu cuidado paterno, permitindo-se ser governados por Sua Divina Providência, sem considerar se os seus desígnios a seu respeito são doces ou amargos, certos de que tudo o que procede de Seu coração paterno será para o seu bem e proveito.

Pode-se colocar a confiança em Deus rezando algo assim:

Pai, entrego a minha alma, o meu corpo e tudo o que possuo em Vossas mãos, para que façais deles, em Vosso amor, o que Vos agradar. Aconteça o que acontecer, nada me afastará da firme resolução de aquiescer à Vontade Divina a meu respeito e a respeito de tudo o que me pertence. Desejo sepultar a minha vontade na Vossa, ou antes, desejo que Nosso Senhor queira em mim e por mim segundo o Seu beneplácito. Lanço o cuidado de mim mesmo em Suas poderosas mãos. Amém.

Tal abandono pode ser praticado em todo tempo e em todas as circunstâncias.

Jamais seremos reduzidos a tal condição que não seja possível oferecer à Sua Majestade uma santa submissão à Vontade Divina. É uma alegria saber que não há homem tão pobre, tão desvalido, tão degradado, tão impotente neste mundo que não possa fazer a maior oferta possível a Deus — a oferta da sua vontade. Ora, isso requer uma grande fé. 

Dizem que não devemos emprestar nada que não possamos dar. 

Sentimo-nos muito mais à vontade confiando alguma coisa a alguém quando se trata de algo que realmente não precisamos. Se temos uma cópia de um documento, por exemplo, é mais fácil confiar essa cópia do que confiar a via única do mesmo documento a alguém.

Porém, devemos abandonar-nos sem reservas à Divina Providência; quando o fazemos, Nosso Senhor cuida de tudo e dispõe de tudo para o bem. Ao contrário, se reservamos algo que não estamos dispostos a confiar-Lhe, Ele nos deixa como que dizendo: “Vós pensais ser suficientemente sábios para administrar esse assunto sem Mim; fazei-o então, e vede o que disso resultará”.

Se preferimos não confiar tudo a Deus, ou é porque achamos que o nosso caminho é o melhor e carecemos de fé, ou porque duvidamos de que Ele realmente queira o que é melhor para nós, duvidando de Seu amor.

A paz da alma conformada à vontade divina

Deus e Sua Providência são uma só e a mesma coisa; se amamos a Deus, devemos amar a Sua Providência. Devemos saber e confiar que, assim como Deus é amor e não quer nada de mau, também a Sua Providência é amor — não apenas para o mundo inteiro, mas para tudo o que acontece em nossa vida.

O amor à Providência de Deus, este abandono amoroso, produz a paz da alma. Se cumprimos nosso dever de estado, nossa obrigação, é vontade de Deus que façamos isso — não é necessário se preocupar com outras coisas.

Se o inferno é povoado unicamente por aqueles que amam a própria vontade, o céu está cheio daquela grande ordem de santos e anjos que aceitam perfeitamente a Vontade de Deus, a Providência de Deus, que amam exatamente o lugar onde Deus os colocou.

Se a nossa vida não está perfeitamente ordenada à Vontade de Deus e ao lugar onde Ele nos colocou em relação aos outros, então precisamos consertar isso agora, antes que seja tarde demais.

Se a nossa alma está tempestuosa, ela deve ser repreendida por Cristo; e não apenas isso, ela deve aceitar a repreensão e se acalmar. O abandono é a melhor preparação para a morte.

A pessoa que passou a vida aceitando toda enfermidade, toda desgraça, todo tratamento injusto como vindo da mão de Deus, como remédio que Deus usa para nos purificar do amor-próprio e nos tornar prontos para o céu, abraçará a morte com amor; ela será o ato culminante de um longo hábito de abandono.

Não confundamos o abandono com inatividade passiva: a pessoa que ama zelosamente a Providência de Deus está sempre atenta para ver o que Deus lhe pede a cada momento.

“Arregacemos as mangas”, trabalhando como se tudo dependesse de nós, mas rezando e confiando, como se tudo dependesse de Deus.

Referências:

Padre Jean-Pierre de Caussade. Abandono à Providência divina. São Paulo: Editora Livre, 2020.

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