
Quanto mais as pessoas se tornam desconectadas da realidade através de jogos virtuais, redes sociais e inteligência artificial, a capacidade delas de se comunicar adequadamente se torna cada vez mais difícil.
Santo Tomás trata do assunto em termos de dizer a verdade. Ele diz que nossas faculdades humanas, que são baseadas na lei natural, são ordenadas e estruturadas para dizer a verdade. Isso significa que nossas faculdades são projetadas para transmitir aos outros a compreensão conceitual da verdade que entendemos.
Uma pessoa tem um conceito em sua mente que quer transmitir a outra pessoa. Como não podemos comunicar conceitos diretamente (como fazem os anjos); precisamos usar um meio. Então, a partir do conceito, em um ato de juízo e por um ato da vontade, movemos a imaginação para formar uma imagem correspondente a esse conceito.
Por exemplo, se quero transmitir o conceito de um gato, preciso imaginar esse ser de quatro patas. Depois, movo minha potência cogitativa para fazer associações com termos específicos que correspondam a essa imagem e posso mover a faculdade da fala para transmitir essas palavras específicas.
A imagem na imaginação tem um conjunto de palavras às quais corresponde. Eu então verbalizo essas palavras específicas, que têm uma estrutura gramatical, e essa estrutura é, tecnicamente, apenas um reflexo de como entendemos conceitualmente e na imaginação determinados fatos.
Nesse processo, várias coisas podem dar errado. Ao passar do conceito para a imagem, se eu quiser dizer uma falsidade, isso afetará a imagem, e direi algo falso. Se minha intenção for dizer a verdade — por exemplo, “todos os gatos têm quatro patas” — a imagem correta precisa ser criada na imaginação.
Algumas pessoas são melhores nisso do que outras. Às vezes, a imagem precisa ser mais complexa ou mais sutil, e algumas pessoas são simplesmente ruins nisso. Assim, pode-se formar uma imagem que não corresponde conceitualmente ao que se quer dizer. Muitos já experimentaram isso ao tentar explicar algo muito complexo ou sutil e não encontrar a palavra certa.
A comunicação também pode falhar na própria potência cogitativa. Ela olha para a imagem na imaginação, volta à memória e faz associações. Podem se formar hábitos na potência cogitativa que são contrários à realidade.
Por exemplo, se durante toda a vida alguém foi condicionado a ouvir que tal pessoa é má, quando essa imagem surge, a associação automática será negativa, mesmo que a realidade seja diferente. Quanto mais refinada a potência cogitativa, mais refinadas serão as associações. Quanto maior o vocabulário, mais precisa será a comunicação.
Depois que a palavra é falada, o som atinge os ouvidos da outra pessoa. No cérebro dela, ocorre todo um processo associativo: ela não ouve o que você pensa; ela ouve o que você diz. Se as palavras não transmitem exatamente o conceito, a pessoa formará uma imagem diferente e, portanto, um conceito diferente. Aristóteles diz que a perfeição do ensino consiste em criar os fantasmas corretos no aluno — isto é, as imagens corretas.
Os anjos comunicam diretamente conceitos. Não há falsidade, a não ser que um anjo esconda deliberadamente parte do conceito. Nesse caso, a falsidade não está no meio de transmissão, mas no conceito inicial.
Entre cerca dos 10 meses aos 5 anos de idade, formam-se na criança as associações fundamentais entre palavras e coisas. Quem controla a educação das crianças, portanto, controla esses fundamentos.
Se estou emocionalmente alterado ao falar, a potência cogitativa pode escolher palavras imprecisas ou exageradas, porque as emoções puxam o juízo para o excesso ou para a deficiência. O mesmo ocorre no ouvinte: se ele está emocionalmente agitado, fará associações falsas. É por isso que, antes de comunicar, é necessário acalmar as emoções.
Toda comunicação é recebida segundo o modo do receptor, ou seja, você pode dizer algo perfeitamente, mas se houver um curto-circuito do outro lado, não adianta repetir. É preciso reformular, adaptar, observar o estado do ouvinte. A comunicação só funciona se houver boa vontade de ambos os lados e desejo de chegar à verdade. Sem isso, não há vida comum possível.
A palavra “comunicação" vem do latim “cum unum": tornar-se um. A verdadeira unidade não é emocional, mas intelectual, baseada na conformidade com a verdade objetiva.
Boa comunicação gera unidade, por definição; já a má comunicação gera desunião. Sem comunicação habitual, a unidade psicológica se deteriora. Isso vale para casamentos, comunidades e sociedades inteiras.
Se alguém mente uma vez, não há certeza de que dirá a verdade novamente. A integridade era considerada sagrada, como ouvíamos de nossos avós: “Ele deu a palavra; empenhou o fio do bigode…” Hoje, tudo isso se perdeu. A única forma de restaurá-la é uma longa e consistente fidelidade à verdade.
Lembremo-nos do artigo que publicamos anteriormente sobre a virtude teologal da fé, e como a integridade é um atributo necessário para essa virtude. Peçamos a Nossa Senhora da Fé que nos ajude a sermos fiéis a Deus e aos irmãos, dizendo sempre a verdade com caridade.
Santo Tomás de Aquino. The Summa Theologiæ of St. Thomas Aquinas. 2. ed. rev. 1920. Online Edition by Kevin Knight. Disponível em: https://www.newadvent.org/summa/.