No ano de 1194 nasceu Frederico II, filho do imperador Henrique VI e de Constança da Sicília, herdando o trono do Reino da Sicília, que inclui a ilha e o sul da Itália.
Frederico foi coroado Rei da Alemanha em 1212 e, oito anos depois, Imperador do Sacro Império Romano-Germânico. O imperador entrou em conflito com o Papa Gregório IX, apesar de recuperar Jerusalém pela diplomacia durante a VI Cruzada.
Em 1239, Gregório IX excomungou Frederico II pela perseguição que este estava promovendo às cidades leais ao Papa. O imperador respondeu com uma ofensiva militar contra territórios papais, incluindo a Úmbria.
Em 1240, Frederico mobilizou um grande exército, incluindo contingentes sarracenos em Lucera, na Apúlia (sul da Itália). O objetivo era sufocar as cidades papais e abrir caminho para Roma.
O vale de Spoleto, onde está Assis, foi devastado por saques e intimidações. O convento de San Damiano, fundado por São Francisco e cuja abadessa era Santa Clara, ficava fora das muralhas de Assis — portanto, desprotegido.
Penetrando nos limites do mosteiro e até mesmo no próprio claustro das virgens, os sarracenos estavam para devastar também aquela casa religiosa, quando Santa Clara, doente como estava, ordenou que a levassem até o inimigo, precedida por um ostensório de prata e marfim no qual o Corpo do Senhor era guardado com grande devoção no sacrário.
Prostrando-se diante do seu Senhor, chorou suplicando:
"Meu Senhor, será possível que queiras entregar nas mãos dos pagãos as Tuas indefesas servas, às quais ensinei por amor de Ti? Rogo-Te, Senhor, protege estas Tuas servas que agora não posso salvar por mim mesma.”
Uma voz ressoou em seus ouvidos, vinda do sacrário:
"Sempre vos protegerei!”
Tomados por um pânico repentino, os sarracenos bateram em retirada, e os que já estavam sobre o muro, caíram para trás.
As guerras contra o Papado continuaram, mas Frederico enfrentou rebeliões internas e declínio de saúde, morrendo em 13 de dezembro de 1250.
Santa Clara entrou no Céu no dia 12 de agosto de 1253 após uma longa doença. Conta o Padre Alban Butler que ela viveu os últimos 28 anos de sua vida sustentada apenas pela Santíssima Eucaristia.
Ela não nasceu pobre, mas em uma nobre família italiana, filha de Favarone di Offreduccio e Ortolana Scifi, no ano de 1194.
No Domingo de Ramos que caiu no dia 17 de março de 1212, ela se vestiu como de costume em vestes elegantes para ir à Santa Missa, mas, por uma inspiração divina, permaneceu em seu lugar e não foi até a mesa da comunhão para receber o ramo das mãos do bispo.
Vendo o ocorrido, o próprio Bispo de Assis desceu do altar para entregar o ramo à jovem nobre de dezoito anos, cuja timidez a havia detido em seu lugar. Ela já havia aprendido de São Francisco a desprezar o mundo e estava, em segredo, decidida a viver somente para Deus.
Naquela mesma noite, ela fugiu de casa para a Igreja da Porciúncula, onde foi recebida por São Francisco. No altar de Nossa Senhora, o santo cortou-lhe os cabelos e a revestiu com o seu hábito de penitência — um pedaço de saco grosseiro —, cingido com seu cordão.
Em uma humilde casa nos arredores de Assis, fundou a sua Ordem, sendo depois acompanhada por sua irmã Inês, então com quatorze anos, e, mais tarde, por sua mãe e outras damas nobres. Andavam descalças, observavam abstinência perpétua, mantinham silêncio constante e praticavam a pobreza perfeita.
Porém, o início não foi nada fácil.
Seus parentes foram buscá-la no convento, e queriam levá-la à força dali. Com uma mão, ela se agarrou no altar, e com a outra, mostrou seus cabelos cortados — sinal de sua renúncia ao mundo e seus ornatos.
Sua irmã Inês, que fora ali para buscá-la, ficou comovida por esse exemplo e também decidiu ficar. Foi a vez de tentarem levar Inês à força. Ao gritar por Clara, ficou Inês imbuída de uma força sobrenatural que a deteve no lugar.
Obedecendo à ordem de São Francisco, Clara aceitou o cargo de superiora, exercendo-o durante quarenta e dois anos. Deu às clarissas severas regras sobre a pobreza.
O milagre com o Santíssimo Sacramento ficou para a história e para a iconografia, mas muitos outros operou a nossa santa, ainda em vida.
Ela foi canonizada apenas dois anos depois de sua morte pelo Papa Alexandre IV, e não se pode imaginar o que teria sido do Papado se a investida de Frederico II tivesse sido bem-sucedida, sem essa vitória de Santa Clara.
Pe. Alban Butler. The Lives of the Saints, Benziger Bros, 1894.
Pe. João Batista Lehmann. Na luz perpétua. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 1953.
Tomás de Celano. Legenda Sanctae Clarae Virginis. In: Antonianum, Collegio (Ed.). Fontes Franciscani. Grottaferrata: Editrici Francescane, 1995.