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O que aconteceu em Pentecostes?

Doutrina
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7/6/2025
Equipe do Padre Leonardo Wagner

Pentecostes foi um acontecimento único: ocorreu uma vez e jamais se repetirá. Ele consistiu essencialmente na infusão do Espírito Santo nos Apóstolos e em Nossa Senhora. 

Daquela infusão derivaram diversos efeitos, dos quais o primeiro e principal foi a fundação da Igreja Católica.

Una, Santa, Católica e Apostólica

Enquanto Cristo andava pela terra, preparava os fundamentos da Igreja que fundaria, e sempre falava dela no futuro: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja.” 

Além de estar no futuro, percebemos também que está no singular: “Igreja” e não "igrejas". 

Isso significa que, para Deus, há apenas uma Igreja: a Igreja Católica, que Ele estabeleceu e à qual deu os direitos divinos sobre o depósito da fé e sobre os sacramentos. 

Qualquer um que use os sacramentos fora da Igreja — como fazem os protestantes —, o fazem em contrariedade à justiça divina.

Compreensão perfeita do depósito da fé

O segundo efeito de Pentecostes foi a infusão de um entendimento perfeito do depósito da fé nos Apóstolos. 

Antes daquele dia, eles estavam frequentemente confusos sobre os ensinamentos de Cristo. Logo antes da Paixão, estavam batalhando por lugares de importância, e antes da Ascensão, perguntaram se Cristo restabeleceria naquele momento o Reino de Israel.

Com a vinda do Espírito Santo, passaram a entender com clareza tudo o que lhes fora ensinado. Isso era necessário, pois, como primeiros membros do Magistério, deveriam propagar e proteger o verdadeiro sentido da fé.

Infusão dos dons necessários

Um terceiro efeito foi a infusão nos Apóstolos dos dons necessários para ensinar, pregar e proteger a fé. 

Por exemplo, receberam o dom do Temor de Deus, que os afastava das criaturas e os atraía para o Criador; foram confirmados na graça, o que os tornava incapazes de cometer pecado mortal — e, segundo alguns, nem mesmo venial. Isso garantia a credibilidade de seu testemunho.

Receberam a Fortaleza, infundida como virtude e como dom, para que pudessem pregar com coragem e sofrer pelo Evangelho. 

Receberam também o dom do Entendimento, que os capacitava a compreender intuitivamente as verdades da fé, e o dom da Sabedoria, que os permitia contemplar as coisas divinas como Deus as vê.

Dom de línguas

Receberam ainda o dom de línguas. Muito se confunde sobre esse dom atualmente. Santo Tomás de Aquino ensina que esses dons são “gratiae gratis datae”, ou seja, graças concedidas gratuitamente por Deus para o bem da Igreja, e não para a santificação pessoal nem como sinal de aprovação divina. Não se pode merecer tais dons para satisfação própria.

Muitos que alegam ter o dom de línguas hoje em dia estão equivocados. Há casos em que o que se fala é linguagem demoníaca, ou mesmo apenas ruído sem sentido. Satanás pode induzir falsos dons para confundir e enganar. Por isso, é perigoso aceitar fenômenos que não se compreende. 

O verdadeiro dom de línguas, conforme os Padres e Doutores da Igreja, aparece de três formas: (1) falar e entender perfeitamente um idioma desconhecido; (2) falar em um idioma e ser compreendido por todos em seus próprios idiomas; (3) louvar a Deus em língua estrangeira de modo compreensível.

São Paulo adverte: o dom de línguas não deve ser usado com todos falando ao mesmo tempo, mas um por vez, com intérprete, e o intérprete deve ser alguém que realmente conhece a língua.

Assistência contínua do Espírito Santo

Desde Pentecostes, o Espírito Santo permanece na Igreja Católica. Ele guia o Magistério, infunde graças nos fiéis, e, sob condições estritas, garante a infalibilidade dos pronunciamentos oficiais. 

Mesmo quando membros do Magistério parecem falhar, o Espírito Santo permanece, e a responsabilidade é de cada indivíduo em cooperar com a graça recebida.

Não precisamos de um novo Pentecostes, mas de fidelidade às graças de estado recebidas por aqueles que ocupam o Magistério e por todos os fiéis. 

O que a Igreja necessita não é de novidades espirituais, mas da renovação da fidelidade ao Pentecostes e à contínua assistência do Espírito Santo.

Veni, Sancte Spiritus!

Referências:

Santo Agostinho. Sermões. In: NICENE AND POST-NICENE FATHERS, Série I, v. 6. Trad. Philip Schaff. Ed. digital. Disponível em: https://www.newadvent.org/fathers/1603.htm.

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