A Igreja recorda no Martirológio para o dia 4 de setembro: "In monte Nebo, terræ Moab, sancti Móysis, legislatoris et Prophétæ.” No monte Nebo, na terra de Moab, santo Moisés, legislador e Profeta. No livro História Santa, escrito por Dom Jean de Monléon, O.S.B., Moisés é descrito como a figura modelo da Antiga Aliança: um homem escolhido por Deus desde o nascimento, preparado por circunstâncias muito improváveis e conduzido a um caminho de obediência que o tornaria o grande mediador entre o Senhor e o povo hebreu.
Neste último Domingo, o décimo segundo após Pentecostes, cantamos um dos mais belos ofertórios do ano litúrgico, cuja figura central não é outro senão Moisés. Relata a Escritura e a liturgia sagrada que ele rezava diante do Senhor, suplicando a suspensão do castigo com o qual Deus havia ameaçado o povo por causa de suas iniquidades. Em razão daquela intercessão, o Senhor se arrependeu do que ameaçou fazer ao povo, um modelo para todo sacerdote.
Os hebreus viviam como escravos no Egito, cerca de mil anos antes de Cristo. Temendo o crescimento daquele povo, o faraó ordenou a morte dos recém-nascidos do sexo masculino.
Para salvar Moisés, sua mãe o colocou em um cesto e o depositou nas águas do rio Nilo. A filha do faraó o encontrou e o criou como filho adotivo.
O nome "Moisés" significa “retirado das águas”. Ele foi educado na corte do faraó, adquirindo conhecimentos e habilidades que mais tarde se tornariam instrumentos de sua missão.
Ao chegar à idade adulta, Moisés vê um egípcio maltratando um hebreu, e o mata. Descoberto, foge para o deserto de Madiã. Ali, casa-se com Séfora, filha de Jetro, e passa a viver como pastor.
Moisés, que cresceu no conforto de um palácio, foi reduzido à simplicidade da vida de pastor. Foi nesse silêncio que se preparou a visão da sarça ardente.
No monte Horeb, Moisés viu uma sarça que ardia em chamas, mas não se consumia. Ele se aproximou, e Deus lhe falou do meio da sarça. Deus o enviou para libertar Israel da escravidão do Egito.
Moisés, relutante, apresentou suas objeções: teme sua falta de eloquência e questiona sua capacidade de enfrentar o faraó. "Quem sou eu para ir ao faraó? E se o povo não me ouvir?"
O Senhor tranquilizou-o e prometeu acompanhá-lo, dando sinais, como a transformação do cajado em serpente, para confirmar sua autoridade diante do povo e do faraó. Perguntado por Seu Nome, recebeu a resposta: "Eu Sou Aquele que É."
De volta ao Egito, Moisés e Aarão (seu irmão mais velho) enfrentaram o faraó. Endurecido de coração, o faraó não libertou os hebreus da escravidão. Deus, então, enviou dez pragas como castigo — e, mesmo assim, o faraó seguia obstinado.
1. Águas do Nilo transformadas em sangue: A primeira praga foi o rio de sangue. Moisés transformou as águas do rio Nilo em sangue; todos os peixes morreram, e o rio se tornou impróprio para consumo.
2. Rãs: A segunda praga cobriu o Egito de rãs. Elas saíam do rio e invadiam casas, cozinhas, quartos e lugares públicos. A vida doméstica foi afetada drasticamente.
3. Piolhos: O terceiro castigo trouxe insetos que atormentaram homens e animais. Moisés transformou o pó da terra em pequenos insetos, causando irritação e sofrimento físico.
4. Moscas: Uma nuvem de moscas invadiu o Egito, enchendo casas, cozinhas e lugares de convivência. Ficou impossível de se viver normalmente.
5. Pestilência nos animais: Uma doença matou o gado egípcio, incluindo bois, ovelhas e camelos. Os animais de criação, fonte de alimento e riqueza do Egito foram devastados.
6. Úlceras: Moisés trouxe, então, úlceras dolorosas sobre os egípcios e os animais.
7. Chuva de granizo: Uma tempestade de granizo destruiu plantações, árvores e construções, causando enormes prejuízos.
8. Gafanhotos: Os gafanhotos devoraram tudo que restou das plantações.
9. Trevas: Deus fez o Egito mergulhar em trevas durante três dias.
10. Morte dos primogênitos: A última praga, a mais severa, causou a morte de todos os primogênitos egípcios. Dom Monléon afirma que, apesar do rigor, essa praga é acompanhada da Páscoa. A Páscoa, instituída antes da décima praga, tornou-se o ponto culminante. O sangue do cordeiro nos umbrais das portais protegeu os israelitas do Anjo Exterminador. Após a décima praga, o povo hebreu pode iniciar seu êxodo.
Porém ao partir, o povo foi perseguido pelos exércitos egípcios. Diante da impossibilidade de atravessar o mar, pareceu condenado. Moisés, em obediência a Deus, estendeu seu cajado, e as águas do Mar Vermelho se abriram. O povo passou a pé enxuto, enquanto os egípcios pereceram.
No deserto, o momento mais importante foi a subida ao monte Sinai. Moisés recebeu as Tábuas da Lei — os Dez Mandamentos. O povo de Israel, liberto da escravidão do Egito, deveria agora aprender a libertar-se da escravidão interior do pecado.
Entretanto, ao descer do Sinai ainda com a face resplandecente de glória por ter conversado com o Senhor, Moisés encontrou o povo adorando um bezerro de ouro, com a colaboração de Aarão. Moisés quebrou as Tábuas em sinal de indignação e para mostrar que a Aliança foi quebrada pelo pecado do povo.
Moisés intercedeu diante de Deus em favor do povo. Após a intercessão, o Senhor forneceu novas Tábuas a Moisés. Esse gesto simboliza a misericórdia divina: mesmo após a quebra da aliança, a reconciliação é possível.
O Senhor deu instruções detalhadas a Moisés no monte Sinai para a fabricação da Arca da Aliança com madeira de acácia revestida de ouro puro, alças de transporte de ouro, tampo (propiciatório) com duas imagens de querubins.
Bezalel (tribo de Judá) foi o artesão principal, auxiliado por Aoliabe (tribo de Dã) e outros. Sua função era guardar as Tábuas da Lei, ser o ponto central do Tabernáculo a ser construído e sinal visível da presença divina.
No Tabernáculo, a Arca representava o coração da vida religiosa do povo e a mediação entre Deus e os hebreus. Apenas o sumo sacerdote podia aproximar-se do Santo dos Santos, e Moisés era o responsável por organizar e supervisionar toda a construção e utilização da Tenda.
A vida de Moisés foi marcada pela paciência diante das murmurações e revoltas. O povo reclamava da sede, da fome e da dureza da peregrinação que durou quarenta anos.
Deus providenciou água da rocha e o maná do céu, além de uma nuvem que os cobria durante o dia e uma coluna de fogo que os guiava durante a noite.
No entanto, em certo momento, Moisés feriu a rocha em vez de falar a ela conforme o mandamento divino. Essa desobediência, ainda que pequena aos olhos humanos, teve grande impacto espiritual. Por isso, Moisés não entrou na Terra Prometida.
Durante a peregrinação pelo deserto, os hebreus começaram a reclamar contra Deus e contra Moisés por causa da falta de água e comida, e também pelas dificuldades do deserto.
Como consequência da sua ingratidão e murmuração, Deus enviou serpentes venenosas que picavam o povo, causando muitas mortes. O povo, arrependido, reconheceu seu pecado e pediu a Moisés que intercedesse junto a Deus.
Moisés fez conforme o Senhor ordenou, e todos os que olhavam para a serpente de bronze que ele fabricou e colocou em uma haste, eram curados do veneno, permanecendo vivos.
Chegando à Terra Prometida, do alto do monte Nebo, Moisés contemplou a vista, mas, como castigo por sua desobediência, não entrou ali. Morreu naquele mesmo monte, e seu sepulcro permanece desconhecido até os dias de hoje, como afirma a Escritura.
Na epístola de São Judas Tadeu, o apóstolo comenta que São Miguel Arcanjo batalhou com satanás pelo corpo de Moisés — episódio que permanece misterioso, pois não nos foram revelados maiores detalhes sobre o acontecimento.
Suspeita-se que também no monte Nebo esteja escondida a Arca da Aliança, que seria usada por Enoque e Elias no Apocalipse para celebrar a Última Santa Missa, a qual levaria a cabo a conversão dos judeus e a morte dos dois profetas, com o consequente advento de Nosso Senhor Jesus Cristo para derrotar o Anticristo.
Moisés sempre foi tido pela Igreja como o autor do Pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia, e foi ele quem Cristo escolheu para conversar no Monte Tabor, tendo como testemunhas de Sua Transfiguração os discípulos Pedro, Tiago e João. Após Sua Paixão e Morte de Cruz, o Senhor ressuscitou e apareceu aos discípulos de Emaús para explicar como a Escritura apontava para aqueles eventos, "começando por Moisés".
Que ele continue intercedendo por nós, pobres pecadores, que ainda peregrinamos neste deserto em direção à Terra Prometida.
Dom Jean de Monléon, O.S.B.. História Santa: Catena Aurea do Antigo Testamento. Tomo 1. Campinas, Ecclesiae, 2023.