Doutrina
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05.12.2025

Como aumentar minha confiança em Deus?

PL
Equipe do Padre Leonardo Wagner
Formação Católica

As virtudes são de dois tipos: virtudes naturais e virtudes sobrenaturais. Precisamos ter isso em mente, porque a forma como a confiança natural funciona e como a confiança sobrenatural funciona são bem diferentes.

A palavra confiança vem de duas palavras latinas: cum fide, que significam “com fé”. Fides (fé) também pode significar confiança. Ter confiança em alguém significa que você confia nele, que você o considera digno de confiança — e a confiança é basicamente reconhecer que ele fará o que é reto para você por causa de sua integridade, isto é, por causa do nível de virtude dele.

Portanto, você tem confiança em alguém porque vê nele a capacidade de lhe dar o que deve ser dado. Isso é muito importante, porque, por exemplo, o matrimônio é baseado na confiança: confiança de que o outro será fiel, cumprirá os deveres de estado etc. Mas isso significa que você crê na integridade do outro.

Integridade

Integridade significa que não falta nada, nada que deveria estar presente. Uma pessoa íntegra é aquela que sempre age da maneira correta, sem faltar no bem. Isso se distingue da honestidade, que é um modo positivo de falar da mesma coisa: honestidade é a virtude pela qual a pessoa procura sempre fazer o bem.

Portanto, o fundamento da confiança é a integridade (não falta nada que deveria estar ali) e a honestidade (o desejo de sempre fazer o bem). Quanto mais alguém é assim, mais se pode confiar nele.

A confiança, no plano natural, é regulada pela prudência. A prudência é a virtude pela qual conhecemos os meios para atingir o fim, atento às circunstâncias. Uma pessoa prudente terá confiança em algumas pessoas e não em outras, porque reconhece que algumas não têm integridade: você simplesmente não sabe o que elas vão fazer. Esse é o problema de seguir as emoções: alguém movido apenas por emoções não é confiável, porque você não sabe se, amanhã, estará dominado por emoções boas ou más. Já quem busca a virtude tende sempre ao bem, e portanto pode ser confiável.

Prudentemente, você observa o caráter de alguém ao longo do tempo. É preciso tempo para saber se alguém é confiável. Psicologicamente, temos uma estrutura interna que nos permite ir testando a confiabilidade alheia: pequenas conversas, observar o raciocínio da pessoa, sua coerência etc.

Confiança

A confiança natural, portanto, se desenvolve pela experiência, que é uma parte da prudência, por meio da memória: lembrar-se das ações da pessoa e julgar prudentemente se deve confiar nela ou não.

Agora, quando passamos às virtudes sobrenaturais, o objeto delas é Deus.

A confiança, tanto natural quanto sobrenatural, é uma virtude que está na vontade. É um ato pelo qual a pessoa se entrega, permite-se depender do outro sabendo que o outro lhe fará o bem. No plano natural, essa entrega depende da virtude da outra pessoa. No plano sobrenatural, o objeto é Deus, e em Deus não há nada que impeça uma confiança perfeita.

Deus é a própria Bondade. Ele só pode causar o bem. Portanto, do lado de Deus, não há nada que impeça que tenhamos confiança absoluta. Porém, do nosso lado, existem obstáculos; podemos ser infiéis à graça da confiança em Deu que Ele mesmo quer nos dar.

A hierarquia dos bens

Deus busca o maior bem da criação. Para cada indivíduo, Ele busca o nosso maior bem espiritual, mesmo que isso implique sacrificar bens menores. Santo Tomás explica que há três tipos de bens: o bem ontológico, que é existir; o bem físico, como a integridade do corpo, a saúde etc.; e bens morais/espirituais, ligados à razão e à vida moral.

Deus está disposto a sacrificar bens menores para o nosso bem espiritual, porque esses bens menores serão restaurados na ressurreição. Já os bens espirituais — virtudes, união com Deus — são eternos.

Aqui é onde as pessoas tropeçam: quando Deus permite perdas materiais, doenças, sofrimentos familiares, elas pensam: “Deus não se importa comigo”. Mas isso é erro. Ele está buscando o maior bem: a nossa santificação.

A confiança sobrenatural consiste em saber que Deus sempre dará o que é melhor para a nossa salvação, mesmo quando não parece bom aos nossos olhos.

Pessoas que passam por possessão, por exemplo, frequentemente ouvem tentações assim dos demônios: “Se Deus te amasse, Ele não deixaria isso acontecer.” Mas isso é falso. Deus permite apenas sofrimentos dos quais pode tirar um bem maior.

Como confiar em Deus

O ponto essencial é: se não temos confiança em Deus, o problema está em nós, não nEle. Falta de confiança em Deus é, na verdade: negar sua onipotência (Ele não pode nos ajudar); ou negar sua bondade (Ele não quer nos ajudar), e isso é um insulto à natureza de Deus.

A confiança em Deus cresce como qualquer virtude sobrenatural: Ele no-la infunde, mas nós precisamos fazer atos de confiança, como nas jaculatórias: 

“Jesus, eu confio em Vós.”
“Meu Deus, eu me abandono à Vossa providência.”
"Senhor, eu confio que o que permitis é para o meu bem.”

Tudo isso podemos dizer e rezar mesmo sem sentir nada.

A confiança é central na vida espiritual. Deus, como um bom treinador, “aumenta o peso” quando crescemos. Como nos outros exemplos: quando os santos dominavam uma virtude, Deus permitia novas provações para elevá-los ainda mais.

No matrimônio, não há união verdadeira sem confiança. Com Deus é semelhante: sem total confiança, não há entrega total. Portanto, a confiança perfeita é necessária para a união profunda com Deus. Se estamos apegados às coisas, não há confiança. O medo é o oposto de confiança: é perceber um mal futuro que achamos impossível superar.

O medo diz: 

“Deus não vai me ajudar.” 

Mas a confiança responde: 

“Mesmo se eu sofrer, Deus tirará um bem maior disso.”

Quando Deus retira as consolações, está purificando a vontade. Ele quer a nossa vontade, nossa entrega total, e não apenas nossos sentimentos. A confiança também é vital no matrimônio: mesmo quando há feridas, se há honestidade e boa vontade, a confiança pode existir — ainda que prudentemente, de acordo com o grau que o outro é íntegro.

Deus, sendo sempre íntegro e sumamente bom, é digno de toda a nossa confiança.

Referências:

Pe. L. Grimes. Tratado dos Escrúpulos. Petrópolis: Editora Vozes, 1952.

Santo Tomás de Aquino. The Summa Theologiæ of St. Thomas Aquinas. 2. ed. rev. 1920. Online Edition by Kevin Knight. Disponível em: https://www.newadvent.org/summa/.

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