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Como São João Batista confirma a data do Natal em 25 de dezembro?

História da Igreja
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25/6/2025
Equipe do Padre Leonardo Wagner

Muitos inimigos da Igreja (dentre eles, principalmente os protestantes) nos acusam de escolher uma festa idolátrica do Império Romano para comemorar o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Ontem celebramos a Natividade de São João Batista, mas o que uma coisa tem a ver com a outra?

Primeira objeção: relação com a Saturnália

Os críticos da Igreja alegam que o dia 25 de dezembro foi escolhido artificialmente para substituir ou incorporar o festival pagão da Saturnália, dedicado ao deus Saturno, celebrado no solstício de inverno, quando os dias começam a ficar mais longos.

Entretanto, a Saturnália era celebrada entre os dias 17 e 22 de dezembro, não no dia 25. Se a intenção da Igreja fosse substituir tal festival, o mais lógico seria fixar o Natal dentro dessas datas.

Além disso, há registros patrísticos que indicam que o dia 25 de dezembro já era considerado como a data do nascimento de Cristo antes mesmo de Constantino legalizar o cristianismo (em 313), ou seja, em uma época em que a Igreja era perseguida e não tinha poder para impor datas sobre o calendário oficial romano.

Segunda objeção: substituição do culto ao Sol Invictus

Outra objeção afirma que o Natal foi instituído para substituir a festa do Sol Invictus (Deus Sol), cujo culto teria sido celebrado em 25 de dezembro.

Porém, os registros históricos indicam que a primeira menção da celebração do Sol Invictus nesse dia data do ano 354, posteriormente à popularização do cristianismo. Constantino já havia permitido o culto cristão desde 313 e o Concílio de Niceia foi realizado em 325.

Foi o imperador Juliano, o Apóstata, que tentou restaurar o paganismo e, nesse esforço, promoveu o culto do Sol Invictus. Ou seja, a tentativa foi de substituir o Natal já existente, não o contrário.

Terceira objeção: pastores não estariam no campo no inverno

A objeção mais popular entre os críticos é que, segundo o Evangelho de São Lucas, havia pastores no campo cuidando de ovelhas na noite do nascimento de Jesus. Argumenta-se que isso seria impossível no inverno.

Contudo, autores como Cornélio a Lápide e outros relatam que mesmo em regiões de latitude superior à da Palestina — como Roma — era comum ver rebanhos ao ar livre durante o inverno. A Palestina possui clima temperado e, em dias claros, é perfeitamente possível que pastores estivessem no campo, especialmente com animais mais resistentes, como as ovelhas.

Essa objeção, portanto, não é convincente do ponto de vista climático nem histórico.


Um argumento a favor da data: o curso sacerdotal de Abias

O Evangelho de São Lucas (I, 5) relata que Zacarias, pai de São João Batista, pertencia ao curso sacerdotal de Abias. Os sacerdotes levíticos eram divididos em 24 turnos anuais, herdados dos descendentes de Aarão, irmão de Moisés. Flávio Josefo, em sua obra Antiguidades Judaicas, confirma a existência e a divisão dos 24 cursos sacerdotais levíticos.

Estudos históricos e judaicos indicam que o curso de Abias servia no oitavo turno, o que corresponderia à segunda semana do mês de Tishrei (calendário judaico), ou seja, entre 22 de setembro e 8 de outubro, no calendário juliano.

Durante esse turno, Zacarias teria recebido o anúncio do anjo sobre o nascimento de João Batista. Considerando o retorno para casa e o tempo de concepção, é razoável considerar que João tenha sido concebido por volta de 24 de setembro, nascendo, assim, nove meses depois, em 24 de junho — data tradicional da Natividade de São João Batista.

São Lucas relata ainda que Nossa Senhora visitou Isabel quando esta já estava grávida de seis meses (Lc I, 36). Isso colocaria a concepção de Jesus — a Anunciação — em março, e o seu nascimento, nove meses depois, em 25 de dezembro.

Esse cálculo foi confirmado por autores antigos e por evangelhos apócrifos como o de São Tiago, que embora não canônicos, trazem relatos históricos sobre a ordem dos turnos sacerdotais e sobre a data da visão de Zacarias no Yom Kipur, o dia da expiação.

Dois testemunhos dos Padres da Igreja confirmam a tradição do nascimento de Cristo no dia 25 de dezembro:

  • São Teófilo de Cesareia (†181): “Devemos celebrar o dia da Natividade do Senhor em qualquer dia da semana em que ocorrer o 25 de dezembro”.
  • Santo Hipólito de Roma (†235): “O primeiro advento do Senhor na carne ocorreu quando Ele nasceu em Belém, no dia 25 de dezembro”.


Conclusão

As objeções contra o dia 25 de dezembro como data do nascimento de Cristo são fracas, baseadas em suposições frágeis ou inversões históricas.

Já a tradição da Igreja, apoiada por evidências bíblicas, cálculos judaicos e testemunhos patrísticos, sustenta fortemente essa data.

Podemos, portanto, afirmar com segurança que Jesus Cristo nasceu em Belém, no dia 25 de dezembro.

Referências:

EUSEBIUS CAESARIENSIS. História Eclesiástica. Tradução de Arnaldo do Espírito Santo. São Paulo: Paulus, 2000.

JOSEFO, Flávio. Antiguidades Judaicas. Tradução de Vicente Pedroso. 2. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

ROLL, Susan K. Toward the Origins of Christmas. Kampen: Kok Pharos Publishing House, 1995.

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