Uma das acusações mais comuns de protestantes contra a Igreja Católica é a de que Ela teria sido fundada pelo Imperador Constantino.
Longe de ser verdade, ela carece de qualquer fundamento histórico e teológico. Qualquer pessoa com um mínimo conhecimento sobre os primeiros séculos depois de Cristo e com uma mínima honestidade intelectual poderia facilmente descartar a hipótese de uma descontinuidade ou ruptura entre a Igreja pré e pós-Constantino.
Em última análise, acusar a Igreja de ter sido fundada por Constantino é dizer que Ela ensina não a doutrina de Jesus Cristo e de seus Apóstolos, mas uma suposta doutrina de Constantino; ou então que Nosso Senhor não teria desejado fundar uma Igreja — mas apenas células de cristãos — e Constantino as teria unificado em uma espécie de associação civil. Ambas as alegações são falsas.
Santo Irineu, Bispo de Lyon, pupilo de São Policarpo — discípulo de São João Evangelista —, em sua obra sobre as Heresias (b. 3, c.1), escreveu que “porque levaria muito tempo para enumerar neste volume as sucessões de todas as igrejas [leia-se dioceses], nós vamos juntar todos que, de alguma forma, estão colhendo fora da vinha, ao indicar a tradição apostólica e a fé pregada aos homens, e entregue a nós pela sucessão de bispos da maior, mais anciã e mais notável igreja [diocese], aquela fundada e estabelecida em Roma pelos gloriosíssimos apóstolos Pedro e Paulo.”
Eusébio cita Caio em sua História (b. 2, c. 15): “Posso mostrar os monumentos dos Apóstolos, pois, se vais ao Vaticano ou pela Via Ostiana, encontrará os monumentos daqueles que fundaram aquela igreja [i.e., São Pedro e São Paulo]”.
Tertuliano, que nasceu em 150 d.C., diz claramente em suas Prescrições (c. 26): “Venham, então, vós que quereis melhor satisfazer sua curiosidade no assunto de vossa salvação: olhai ao redor da Igreja Apostólica, na qual as mesmas cátedras dos Apóstolos ainda estão no mesmo lugar, e na qual suas mesmas cartas autênticas ainda são recitadas, soando sua voz e representando a face de cada um deles.”
Muitas outras evidências histórias poderiam ser colacionadas aqui para provar que a Igreja foi fundada em Roma por São Pedro e São Paulo — o que significa dizer que foi antes de Constantino e também que a doutrina era a de São Pedro e São Paulo. Que São Pedro e São Paulo pregassem outro Evangelho que não o de Nosso Senhor Jesus Cristo precisará ser deixado para outro artigo.
Em síntese, a doutrina pregada por Nosso Senhor quando esteve na terra foi a mesma que os Apóstolos pregaram em Roma e ainda é a mesma ensinada pela Igreja, sem qualquer divergência, senão um maior aprofundamento e detalhamento da mesma doutrina, no mesmo sentido e na mesma sentença — cf. Commonitorium (São Vicente de Lérins), Syllabus (Pio IX), Pascendi (São Pio X) e Dei Filius (Vaticano I).
É preciso reconhecer que Constantino teve um papel muito importante em sua época. Ele foi o primeiro imperador cristão e também o imperador que pôs fim à era das perseguições aos cristãos. Antes desse período da história, os cristãos estavam sujeitos a perseguições periódicas por parte dos imperadores romanos; e o predecessor de Constantino, Diocleciano, havia instituído uma forma horrível de perseguição contra os primeiros cristãos.
Constantino converteu-se ao cristianismo — não foi, de modo algum, o melhor dos cristãos —, mas o que ele de fato fez foi promulgar o Édito de Milão (em 313), segundo o qual os cristãos passavam a ser um grupo tolerado e não mais sujeito à perseguição; consequentemente, a Igreja pôde florescer de modo mais pacífico e livre.
Alguns têm a ideia de que Constantino fez do cristianismo a religião oficial do Império; isso não é verdade. Com o tempo, o catolicismo de fato se tornou a religião oficial do Estado, mas isso só aconteceu posteriormente, com Teodósio I e o Édito de Tessalônica (em 380).
Antes disso, houve uma divisão entre cristãos no Império, pois um bispo chamado Ário começou a pregar que Jesus Cristo Nosso Senhor não era Deus, mas apenas a mais sublime das criaturas (como um testemunha de jeová daquele tempo).
O imperador Constantino, embora ainda não fosse batizado, quis restabelecer a paz e a ordem, e convocou o Concílio de Niceia em 325, no qual os bispos (e não o imperador) definiram o dogma da Maternidade Divina, para esclarecer definitivamente que sempre foi parte do depósito da fé transmitido pelos Apóstolos que Cristo é Deus — consubstancial a Deus Pai.
Eusébio conta que Constantino tinha mais de 60 anos e sofria de problemas de saúde; foi acometido por uma doença prolongada, possivelmente febre ou alguma condição crônica, que debilitou bastante seu corpo nos últimos meses. Ele foi batizado pouco antes de morrer (em 22 de maio de 337), seguindo a prática de muitos cristãos da época que adiavam o batismo para garantir que todos os pecados fossem perdoados no final da vida.
Constantino ajudou materialmente na construção de algumas igrejas, como a Basílica do Santo Sepulcro em Jerusalém, a Hagia Sophia em Constantinopla e a Basílica de São João de Latrão, em Roma; mas não modificou nem promulgou alguma doutrina — e, portanto, não pode ser chamado de fundador da Igreja Católica.
Seu verdadeiro fundador é Nosso Senhor Jesus Cristo, que disse a São Pedro:
Jesus disse-lhes: "E vós quem dizeis que eu sou?" Respondendo Simão Pedro, disse: "Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo." Respondendo Jesus, disse-lhe: "Bem-aventurado és, Simão filho de Jonas, porque não foi a carne e o sangue que te revelaram isso, mas meu Pai que está nos céus. E eu digo-te que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do reino dos céus: tudo o que ligares sobre a terra, será ligado também nos céus, e tudo o que desatares sobre a terra, será desatado também nos céus." (Mt 16, 15-19).
Dr. Reuben Parsons. Studies in Church History, 6 v. Philadelphia: John Joseph McVey, 1886.