Virtude é um hábito (disposição estável da alma) que aperfeiçoa a razão ou a vontade, tornando o homem apto a realizar ações boas de forma fácil, pronta e constante (Summa Theologiæ, I-IIæ, q. 55, a. 1).
As virtudes teologais são virtudes infusas, ou seja, não são produzidas pelo esforço homem, mas são dadas por Deus. Diferentemente das virtudes adquiridas, como a prudência, a justiça, a temperança ou a fortaleza, que podem ser cultivadas pelo esforço humano, a fé, a esperança e a caridade só podem ser recebidas como dons divinos (Summa Theologiæ, II-IIæ, q. 62, a. 1).
Essas virtudes infusas podem ser corrompidas ou perdidas de forma diferente das virtudes adquiridas: se realizarmos uma ação contrária a uma virtude adquirida, apenas diminuímos essa virtude. Mas se negarmos uma verdade de fé, a virtude teologal correspondente é completamente corrompida.
A fé é chamada virtude teologal porque tem Deus como seu objeto e refere-se ao que Deus revelou. Trata-se de um hábito sobrenatural que permite ao homem dar consentimento ao que Deus revelou como verdadeiro (Summa Theologiæ, II-IIæ, q. 2, a. 1).
O objeto da fé é o depósito da fé, que inclui ensinamentos sobre Deus, os sacramentos e os meios de salvação. A fé nos dá a capacidade de reconhecer essas verdades sobrenaturais, algo que não poderia ser alcançado apenas pela razão humana.
Santo Tomás explica que a fé nos move a crer tanto em Deus quanto nas coisas criadas, na medida em que estas se relacionam com Ele. Assim, através da fé, olhamos para tudo do ponto de vista de Deus (Summa Theologiæ, II-IIæ, q. 2, a. 1).
O ato da fé é chamado de crença, pelo qual nosso intelecto dá assentimento ao que é revelado. Esse assentimento envolve tanto o intelecto quanto a vontade, já que Deus deve mover a nossa vontade para que possamos consentir plenamente (Summa Theologiæ, II-IIæ, q. 4, a. 1).
A confiança natural ou a mera razão não são suficientes para crer em verdades reveladas, como a Encarnação do Verbo ou a necessidade dos sacramentos. Deus nos concede a fé por uma graça atual, que move nossa vontade e prepara nosso intelecto para receber a verdade divina (Summa Theologiæ, II-IIæ, q. 2, a. 2).
Sem fé, não podemos ser salvos: "Sem fé é impossível agradar a Deus" (Hb 11, 6), conforme ensina a Igreja. A fé também nos permite discernir milagres, revelações e doutrinas corretamente, protegendo-nos de erros e enganos.
São João da Cruz diz que uma fé firme causa desapego das coisas criadas e de si mesmo, porque vemos que a razão pela qual estamos aqui no mundo é Deus, e não as criaturas ou nós mesmos.
Quando Deus nos tira as consolações, é a fé que deve nos guiar: tendo a firme certeza de que devemos obedecer a Deus (pela fé), seguimos sem nos desviar do caminho, apesar de não estarmos acompanhados de nenhum prazer sensível.
A fé também nos mostra como devemos tratar o próximo, pois o Senhor nos revelou como devemos fazê-lo: com caridade e misericórdia, ainda que nos odeiem.
Cristo não tinha fé, porque Ele tinha a visão beatífica. Apesar disso, Ele mesmo assim é um exemplo de fé para nós, pois nos ensinou e deu exemplo de como agir. Aos pés da Cruz, Maria Santíssima foi quem ofereceu Seu Filho ao Pai Eterno, e por isso é também nosso grande exemplo ao participar da Missa.
Existem vários pecados contra a fé, entre eles:
Estes pecados violam a virtude da fé e afastam o homem de seu fim último (Summa Theologiæ, II-IIæ, q. 10, a. 3).
A fé envolve conhecimento das verdades reveladas. Precisamos aprender a nossa fé de acordo com nosso estado de vida, aprofundando-nos no ensinamento da Igreja. Quanto mais conhecemos, mais firmes são nossos atos de fé.
A fé nos dá paz interior, pois ordena nossas faculdades e nos mostra que nosso fim último é Deus. Santo Agostinho define a paz como “tranquilitas ordinis” (a tranquilidade da ordem), que só pode ser alcançada quando nossas faculdades estão corretamente dirigidas a Deus.
A fé também pode crescer ao se rezar fórmulas de atos de fé, ou fazendo-os sem uma fórmula específica, mas professando que se crê. O Credo é rezado todos os Domingos na Missa, por exemplo.
Ao se estudar ou ensinar o Catecismo e a Doutrina Católica, também se pode crescer na fé. Participar de Missas em que a fé é corretamente transmitida é outra prática a ser tomada: “lex orandi, lex credendi” (a lei da oração determina a lei da crença), isto é, ao participar de uma Missa em que se obedece a Deus, assim se crê.
Peça a graça do Espírito Santo, especialmente o dom do Entendimento. Também Nossa Senhora é necessária, pois é a mediadora de todas as graças, e a fé é uma graça. O Sagrado Coração é também chamado de abismo de todas as virtudes: apesar de Cristo não ter a virtude da fé, por sua vontade humana, ele pode no-la dar.
Santo Tomás de Aquino. The Summa Theologiæ of St. Thomas Aquinas. 2. ed. rev. 1920. Online Edition by Kevin Knight. Disponível em: https://www.newadvent.org/summa/.