Doutrina
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11.12.2025

A virtude teologal da Esperança

PL
Equipe do Padre Leonardo Wagner
Formação Católica

Em outro artigo, falamos sobre a virtude teologal da fé, e essas duas estão ligadas. A virtude teologal da Esperança, como todas as virtudes teologais, é um hábito infuso em nós por Deus. Ela diz respeito a um bem futuro e árduo: estamos nos esforçando por algo difícil de alcançar.

As virtudes teologais dizem respeito ao próprio Deus. Já vimos que a Fé nos diz que o nosso fim último é ver Deus face a face. 

O objeto da Esperança

Como alcançar essa visão beatífica excede as capacidades naturais do homem, a Esperança diz respeito a duas coisas que buscamos:

I — A beatitude eterna, que é o objeto próprio e principal da Esperança — isto é, o próprio Deus.

II — A ajuda divina, que Deus nos dá para alcançarmos esse fim.

A Esperança espera o bem futuro da beatitude eterna. Quem tem esperança, olha para frente e realmente aguarda esse bem; quem não a tem, não espera nada.

A Esperança não pertence às faculdades corporais ou sensíveis, pois não é uma emoção. Muitos reduzem sua esperança a consolações sensíveis, colocando a expectativa em bens criados, não no Bem incriado. Isso leva a distorções como imaginar o céu como uma festa interminável, ou a uma biblioteca, ou a pensar que esperança consiste em receber recompensas materiais nesta vida.

Alguns creem que dons carismáticos ou prosperidade material são sinais do favor de Deus. Se não os recebem, pensam que algo está errado — o que afeta a Fé e a compreensão da Providência. Lutero sofria com essa confusão, pensando que Deus deveria lhe dar consolações sensíveis.

A esperança verdadeira não está em consolações. Quanto mais santo alguém se torna, menos consolações recebe, até atingir a união transformante — e mesmo assim, sem cessar o sofrimento.

Efeitos da Esperança

A Esperança inclina a vontade a buscar e esperar a recompensa de Deus — que é Ele mesmo. A fé está no intelecto; a esperança, na vontade.

Essa virtude é necessária porque não basta crer: é preciso buscar.

Pessoas em pecado mortal frequentemente perdem a esperança. Embora saibam pela fé que Deus pode ajudá-las, acabam não correspondendo às graças que recebem. Quanto mais forte a fé, maior a esperança. A certeza que temos na Esperança deriva da certeza da Fé.

A Esperança existe propriamente apenas em nós que vivemos na terra. No céu, ela não existe em sentido próprio, porque o Bem já está presente. Nos condenados ela também não existe, pois sua vontade está fixada no mal e sabem que não podem alcançar a beatitude eterna.

Santo Tomás ensina que não se deve esperar na ajuda humana como causa principal da salvação; devemos esperar primariamente na ajuda divina. Podemos, entretanto, esperar a ajuda de intermediários pelos quais Deus age — sacerdotes, santos, especialmente Nossa Senhora. Mas isso é esperar em Deus que age por meio deles.

Não é possível esperar demais em Deus, como que pecando por excesso, mas é possível esperar de modo falso, como presumir salvação permanecendo no pecado.

Vícios contrários à Esperança

A Esperança se opõe a dois vícios: presunção e desespero.

O desespero é não acreditar corretamente no poder infinito de Deus para salvar. Surge quando a pessoa deixa de esperar a visão beatífica e a ajuda divina.

Pode surgir quando alguém acha que cometeu um pecado imperdoável, como se a misericórdia de Deus fosse menor do que o pecado que ela cometeu. O pecado que Deus não pode perdoar é aquele do qual a pessoa não está arrependida.

O desespero também aparece por pecados graves que chocam a pessoa consigo mesma; pela acídia, que evita o esforço espiritual necessário; pela luxúria e prazeres sensuais intensos; por apego a bens criados, o que impede o impulso rumo ao bem superior.

Presunção é achar que se pode alcançar o céu sem a ajuda divina.

É o erro dos pelagianos e de quem pensa poder merecer a primeira graça sozinho. Quando uma pessoa está em estado de pecado mortal, nada pode ser merecido. A graça primeira — voltar ao estado de amizade com Deus — não pode ser merecida: Deus a concede por misericórdia.

Presunção também aparece quando alguém peca dizendo: “Vou me confessar amanhã.” Mas Deus não está obrigado a dar graça de arrependimento amanhã.

Como aumentar a Esperança

Para crescer na virtude da Esperança, devemos praticar atos de Esperança diariamente; rezar frequentes jaculatórias: “Jesus, eu espero em Vós”; pedir a Deus essa virtude em oração; viver mais na presença de Deus; oferecer sofrimentos e boas obras pedindo aumento da Esperança; estudar a história da Igreja, repleta de exemplos da ajuda divina.

Em síntese, a virtude teologal da Esperança é o impulso sobrenatural que orienta nossa vontade para o fim último — Deus — confiando firmemente na ajuda que Ele nos dá para justamente nos conduzir até Ele. Longe de consolações sensíveis ou expectativas terrenas, a verdadeira Esperança repousa somente em Deus e na certeza oferecida pela Fé. Ela combate tanto o desespero, que duvida da misericórdia divina, quanto a presunção, que pretende alcançar o céu sem a graça. Alimenta-se por atos cotidianos, oração perseverante, vida na presença de Deus e aceitação dos sofrimentos como meio de união com Ele.

Entreguemos nossa vida nas mãos de Maria Santíssima, que é a Mãe da Esperança, e não seremos confundidos eternamente.

Referências:

Santo Tomás de Aquino. The Summa Theologiæ of St. Thomas Aquinas. 2. ed. rev. 1920. Online Edition by Kevin Knight. Disponível em: https://www.newadvent.org/summa/.

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