Doutrina
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15.12.2025

A virtude teologal da Caridade

PL
Equipe do Padre Leonardo Wagner
Formação Católica

A caridade é uma amizade entre Deus e o homem, e toda amizade requer amor mútuo. O amor é o ato da caridade, e esse amor fundamenta-se na comunicação ou vida comum com Deus. Deus nos comunica a bem-aventurança eterna; quando O vemos face a face, vivemos em comum com Ele.

A bem-aventurança eterna é possível pela graça santificante, que é a participação na natureza divina. Pela graça e pela bem-aventurança eterna, temos uma vida comum com Deus e, por isso, temos amizade com Ele. A amizade exige vida comum, segundo Aristóteles, e sem ela não há verdadeiro amor.

A bem-aventurança eterna é o bem que Deus quer para nós e que queremos para nós mesmos; esse bem fundamenta nossa amizade. O amor mútuo entre Deus e o homem baseia-se na possibilidade de nos unirmos e de nos amarmos.

A necessidade da graça

A caridade excede nossas forças naturais; Deus deve acrescentar uma virtude em nossa vontade, tornando possível o ato sobrenatural de amor. A caridade é superior à fé e à esperança porque move-nos a unir-nos a Deus. Não podemos amar Deus de modo proporcional sem a virtude infusa da caridade.

A caridade cresce em graus: sem ela, amamos a Deus apenas pelos bens que recebemos; e isso não é caridade. Com ela, os dons são sinais da bondade do doador, e amamos a Deus por Ele mesmo. 

Podemos praticar atos que nos dispõem à caridade, e Deus infunde mais dessa virtude. Na vida terrena, ela pode crescer indefinidamente.

Os graus da Caridade

A maior parte de nós não ama muito a Deus; amamos mais as suas consolações. 

Por isso, existem os graus de caridade: os principiantes afastam-se do pecado; proficientes desejam crescer nesse amor; e os perfeitos aderem a Deus e gozam somente d’Ele.

Quando os santos passam por experiências místicas, esquecem-se de si mesmos; hoje, muitos fazem de si o critério de julgamento: “ah, mas eu nunca ouvi falar disso”; ou, então, “para mim, Deus é deste ou daquele jeito”… mas, na caridade, devemos conformar-nos a Deus.

Perda e conservação da Caridade

A caridade não pode ser diminuída, só perdida totalmente pelo pecado mortal, que nos afasta de Deus e destrói a virtude. O pecado venial não diminui a caridade, mas cria hábitos que dificultam seus atos e dispõem ao pecado mortal.

As más ações criam obstáculos, e por isso a vida espiritual começa por purgar imperfeições para que a caridade aja com maior prontidão. Quanto mais caridade temos, há menos inclinação ao pecado venial.

Nosso Senhor deu dois preceitos: amar a Deus de todo o coração e amar o próximo como a si mesmo. 

A Caridade é amar a Deus e amar ao próximo por causa de Deus. A virtude da Caridade não deve ser confundida com filantropia, pois esta é desejar o bem do próximo por causa dele mesmo ou do bem social.

A ordem dos amores

Deus ama as criaturas na medida em que se assemelham a Ele. Deus nos ama por causa de Si mesmo. Imitemos, pois, essa ordem: Deus acima de tudo; depois, o próximo por amor d’Ele.

Pela caridade, amamos a nós mesmos em referência a Deus. A caridade aperfeiçoa o amor próprio ordenado: devemos nos amar porque Deus nos ama e porque Ele reside em nós pela graça.

Há inclinação natural para buscar o bem fora de si; a verdadeira caridade leva alguém a amar a si mesmo por causa de Deus. A caridade afasta-nos do egocentrismo e volta-nos para Deus. 

Algumas pessoas colocam sua felicidade nos bens ou em outras pessoas, mas a verdadeira felicidade consiste em ver Deus face a face.

Devemos amar os pecadores? Sim, porque eles são capazes da bem-aventurança eterna. Isso não significa confirmar-lhe no pecado; mas muito pelo contrário. Como amar é desejar o bem do próximo, devemos desejar e agir no sentido de livrá-los da condenação eterna; devemos odiar seus pecados.

Devemos rezar pelos nossos inimigos, desejando o seu bem — e isso é amá-los, como ficou sobredito. Amar os inimigos não significa necessariamente conviver com eles, pois pode haver algum perigo nessa convivência; a Caridade não está separada da prudência.

Conclusão

A caridade é amizade com Deus, fundada na vida comum que Ele nos comunica pela graça santificante e pela bem-aventurança eterna. Pela infusão dessa virtude, tornamo-nos capazes de amar a Deus por causa d'Ele, crescer nessa virtude (que é a maior) e ordenar nosso coração segundo os graus de progresso espiritual. Quando a caridade age livremente, afasta-nos do pecado, purifica imperfeições e conduz ao amor perfeito, que une a alma a Deus e orienta todos os demais amores.

Assim, a caridade ordena o amor próprio, o amor ao próximo e até o amor aos inimigos, sempre por causa de Deus. Ela nos preserva do egocentrismo, impede que reduzamos o bem ao que sentimos e recorda que a verdadeira felicidade é ver Deus face a face.

Caritas Christi urget nos.

A caridade de Cristo nos impele (2Cor 5,14). Façamos o bem, sempre com a intenção de agradar somente a Deus!

Referências:

Santo Tomás de Aquino. The Summa Theologiæ of St. Thomas Aquinas. 2. ed. rev. 1920. Online Edition by Kevin Knight. Disponível em: https://www.newadvent.org/summa/.

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