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5 falsos sinais de progresso na vida espiritual

Doutrina
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3/7/2025
Equipe do Padre Leonardo Wagner

O Padre Frederick Faber divide a vida espiritual em três regiões de extensão muito desigual e de interesse muito diverso.

A primeira região é a fase maravilhosa dos principiantes; a segunda, o vasto deserto cheio de tentações, lutas e cansaços; e a terceira é a região das belas montanhas, arborizadas e banhadas d’água.

Acrescenta o referido sacerdote que, como a grande maioria dos homens devotos morre quando ainda está no deserto central, é importante considerar os falsos sinais que indicam para esses peregrinos do deserto um falso progresso na vida espiritual.

As duas tentações opostas que cercam a alma nessa fase da viagem são o desânimo e a presunção.

O desânimo

O desânimo, segundo ele, é a tendência para desistirmos de toda tentativa na vida devota, tanto pelas dificuldades que a cerca, como pelas nossas já numerosas falhas em praticá-la. É como o pecado de desespero, ainda que na realidade não seja pecado algum.

As pessoas que almejam a espiritualidade são especialmente sujeitas ao desânimo por causa da grande sensibilidade que têm. Sua atenção se firma em pequenas regras e em motivos interiores.

A alteração na consciência dessas pessoas, continua o Padre Faber, aviva a percepção do pecado e deixa mais sutil a sensibilidade da dor que o pecado inflige.

O resultado desse desânimo é a languidez e a tristeza, e nada poderia ser pior, porque impossibilita qualquer heroísmo.

A presunção

O perigo oposto é a presunção, a qual acredita que a obra começada vale a obra acabada. Quando amigos indiscretos nos louvam pela nossa piedade, desfazem a obra de Deus em nossas almas, pois criamos uma confiança em nós mesmos.

É verdade, observa o clérigo, que há algumas coisas em nosso percurso que muito se assemelham ao que lemos sobre os santos; mas tais coisas são apenas o normal de uma alma em graça.

Santa Teresa de Jesus diz que a humildade é o primeiro requisito para os que desejam levar uma vida regularmente boa, mas que a coragem é o primeiro requisito para os que aspiram a qualquer grau de perfeição — e a coragem não está muito longe da presunção; por isso, devemos nos acautelar contra ela.

“Esse duplo perigo do desânimo e da presunção leva-nos em relação ao progresso espiritual, a cair em dois erros opostos. Por isso é de importância acautelarmo-nos contra certos sintomas que o desânimo toma como provas de falta de progresso, e a presunção aceita como provas de grande progresso, quando, na realidade, consideradas em si, não provêm nem uma nem outra coisa.”

Os 5 sinais incertos do progresso

1. A suposta vitória sobre o defeito dominante

O desaparecimento do defeito dominante pode não ser prova real de progresso, pois é possível que as nossas tentações estejam mais fracas por algum motivo.

Os nossos defeitos mudam com o tempo, seja pelo peso dos anos, seja por qualquer outra causa. Pode ser ainda que estejamos menos conscientes dos nossos defeitos.

2. A presença ou ausência de devoção sensível

Muitas vezes a presença de devoção sensível em nossos exercícios espirituais resulta de causas físicas: boa saúde, bom tempo, temperamento feliz. É mais fácil rezar entre os céus azuis e a brisa suave das montanhas que em uma rodovia sob um sol forte e sem água potável disponível.

A devoção sensível pode ainda ser prova de enfermidade ou infância espiritual, como um ímã que Deus usa para nos atrair no princípio da vida interior.

Muitas pessoas se entregam à tristeza — complementa o Padre Frederick — porque estão certas que tal e tal sintoma de sua vida espiritual é castigo divino. Mas não há nada desanimador em ser punido por Deus: quando Ele pune, mostra que não se esqueceu de nós. Se não formos punidos aqui, seremos punidos na eternidade.

3. Maior ou menor facilidade na oração mental

Há pessoas que nunca abandonam a meditação diária, mas não apresentam sinais de levarem vida mais mortificada ou de dominarem sua paixão dominante. 

O hábito da oração é coisa excelente, mas não deve ser confundido com o dom da oração. Este ou aquele tempo litúrgico; este ou aquele tema podem facilitar ou dar maior gosto à oração.

De modo semelhante, não há razão para desanimarmos quando a meditação, ao contrário, em vez de se tornar mais fácil, parece tornar-se impossível. 

“O que não chega a ser pecado, diz o Padre Faber, nunca deve nos desanimar.”

4. O persistir ou o desaparecer das tentações

As tentações podem diminuir em certas épocas, ou os seus atrativos podem desaparecer, em razão de alguma mudança nas circunstâncias exteriores.

Às vezes, o mundo nos ajuda; às vezes, nos tolhe com suas distrações. O continuar da tentação é prova de que, pelo menos até agora, não consentimos nela.

O cão continua a latir, diz São Francisco de Sales, porque não consegue entrar. Conclui o referido sacerdote que devemos, portanto, como Jacó, batalhar até o amanhecer.

5. A sensibilidade aos sacramentos

Sobretudo em relação à confissão e à comunhão, que recebemos com maior frequência: pode acontecer que estejamos mais ou menos sensíveis aos efeitos que nos causam.

Essa sensibilidade, destaca o Padre Faber, pode vir de causas físicas ou morais. Pode Deus nos dar uma sensibilidade para estimular a parte inferior de nossa alma, como um impulso para subir uma grande ladeira.

O contrário também pode ocorrer: os sacramentos podem tornar-se insípidos, mas nem isso deve nos desanimar. Lembremo-nos que a graça dos sacramentos não depende de nosso mérito nem é necessariamente proporcional à sensação que com eles se recebe.

“A fé pura é o maior de todos os exercícios espirituais.”

Estejamos atentos a esses sinais para não nos enganarmos sobre nós mesmos. A humildade, diz Santa Teresa, é caminhar na verdade.

Referências:

Padre Frederick Faber. Progresso na vida espiritual. Rio de Janeiro: Ed. CDB, 2021.

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