Uma conversão verdadeira é um dos momentos mais belos da vida espiritual. É quando a pessoa finalmente encontra Jesus Cristo de forma profunda, abandona o pecado e resolve dedicar sua vida a Deus.
Mas nem toda conversão segue o caminho certo.
Às vezes, logo no início dessa nova jornada, surgem desvios perigosos que podem levar a pessoa não para mais perto de Deus, mas para longe d’Ele.
Como identificar esses sinais de alerta? Vamos aos três principais.
Este é um dos sinais mais comuns e mais perigosos.
A pessoa se converte, tem um encontro profundo com Jesus Cristo e imediatamente pensa:
"Preciso viver exatamente como os santos! Preciso fazer grandes penitências! Preciso rezar dez horas por dia!"
Padre Leonardo conta que, na sua juventude, depois de sua conversão, ele achava que precisava fazer coisas extraordinárias para ser santo. Queria viver em extrema pobreza, não usar mais sapatos, vestir sempre as mesmas roupas velhas.
Por quê? Porque, na cabeça dele, Deus estava inspirando essas coisas. Mas não era Deus. Era a própria cabeça dele criando exigências absurdas.
Muitos recém-convertidos confundem pensamentos que vêm à mente com inspirações divinas. Então, começam a querer colocar em prática tudo que passa pela cabeça, achando que Deus está pedindo aquilo.
Deus me inspirou a rezar 5 rosários por dia.
Deus me inspirou a jejuar a pão e água três vezes por semana.
Deus me inspirou a fazer voto de pobreza.
Mas será mesmo Deus? Ou é apenas seu próprio entusiasmo inicial misturado com perfeccionismo?
Deus não pede a todos as mesmas coisas.
Um monge contemplativo pode rezar 8 horas por dia — porque essa é sua vocação. Mas um pai de família que trabalha 10 horas não pode fazer isso. Seria irresponsabilidade.
Uma freira pode viver em pobreza extrema — porque fez votos religiosos. Mas um estudante que mora com os pais e precisa se alimentar bem para estudar, não deve fazer isso.
Quando você se converte, não precisa virar monge do deserto. Precisa viver santamente no estado de vida em que Deus te colocou.
Se você é estudante: estude bem, por amor a Deus.
Se você é pai ou mãe: cuide bem da sua família, por amor a Deus.
Se você trabalha: trabalhe com excelência, por amor a Deus.
A santidade está em fazer bem o que Deus já te deu para fazer, não em inventar coisas extraordinárias.
Este sinal está diretamente ligado ao primeiro. Quando a pessoa quer fazer coisas extraordinárias que não são do seu estado de vida, ela acaba negligenciando as coisas ordinárias que são do seu estado de vida.
Padre Leonardo conta que, na época da conversão, ele negligenciava os estudos porque achava que tinha que passar a tarde inteira rezando. Negligenciava a convivência com a família. Negligenciava até o lazer saudável.
Por quê? Porque achava que santidade era só oração, oração, e oração.
Deus não quer que você abandone suas responsabilidades para rezar. Ele quer que você reze e cumpra suas responsabilidades.
Na verdade, cumprir bem suas responsabilidades é uma forma de oração. É viver a presença de Deus no cotidiano.
Santa Teresinha dizia que tudo pode ser feito por amor a Deus, até as tarefas mais simples e mundanas. Lavar louça, estudar matemática, trabalhar no escritório: tudo pode ser santificado.
Como saber se você está abandonando suas responsabilidades?
● Suas notas na escola ou faculdade despencaram depois da conversão;
● Você está negligenciando seu trabalho porque "precisa rezar mais";
● Você está evitando conviver com sua família porque "eles são mundanos";
● Você não dorme direito porque fica rezando até tarde;
● Você não se alimenta bem porque "precisa fazer penitência".
Se algum desses sinais aparecer, cuidado. Você pode estar tomando um caminho errado!
Este é o sinal mais claro de todos: a falta de paz interior.
Uma conversão verdadeira, guiada pelo Espírito Santo, traz paz. Mesmo que traga também desafios, correções, cruz: no fundo da alma há uma paz profunda.
É a certeza de estar no caminho certo; mas quando a conversão toma rumo errado, o que aparece é angústia constante.
A pessoa perfeccionista vive atormentada:
Será que rezei o suficiente hoje?
Será que minha confissão foi válida?
Será que posso comungar ou cometi algum pecado?
Será que Deus está satisfeito comigo?
Essas perguntas martelam na cabeça o dia inteiro. Não há descanso e não há paz.
Por quê? Porque a pessoa está tentando agradar a Deus pelas próprias forças. Está tentando merecer a salvação pelo próprio esforço.
E isso é impossível. Por isso, a angústia nunca passa.
São Paulo ensina claramente quais sāo os frutos do Espírito Santo: "amor, alegria, paz, paciência, bondade, benignidade, fidelidade, mansidão, domínio próprio" (Gl 5,22-23).
Veja: PAZ está na lista. A paz é um sinal da presença de Deus.
Se sua vida espiritual não está gerando paz, mas angústia constante, algo está errado. Ou você está fazendo as coisas erradas, ou está fazendo as coisas certas da maneira errada.
Como diferenciar as duas coisas?
A voz de Deus:
● Traz paz, mesmo quando corrige;
● É clara e objetiva;
● Respeita seu estado de vida;
● Não te leva a negligenciar responsabilidades;
● Não te condena, mas te chama à conversão;
● Traz esperança e confiança.
A voz do escrúpulo:
● Traz angústia constante;
● É confusa e obsessiva;
● Exige coisas absurdas ou desproporcionais;
● Leva você a negligenciar o que é realmente importante;
● Condena a si mesmo e te faz sentir rejeitado por Deus;
● Tira a esperança e gera desespero.
Primeiro: não entre em pânico. Identificar o problema já é metade da solução.
Segundo: procure ajuda imediatamente. Um bom diretor espiritual, um confessor experiente e fiel à doutrina da Igreja. Não tente resolver isso sozinho.
Terceiro: obedeça ao que te orientarem. Mesmo que sua consciência grite o contrário. Mesmo que pareça que você está "relaxando". A obediência ao diretor espiritual é proteção contra os desvios.
Quarto: volte ao básico. Você não precisa de práticas extraordinárias. Precisa de:
● Missa aos Domingos (e se possível durante a semana);
● Confissão regular (uma vez por mês já é muito bom);
● Oração diária simples (terço, meditaçāo e leitura espiritual);
● Cumprir bem suas responsabilidades do estado de vida.
Quinto: lembre-se sempre: santidade é amor, não performance. Deus não quer atletas espirituais que batem recordes de oração. Ele quer filhos que O amam e confiam n’Ele.
Uma conversão verdadeira tem estas características:
Humildade crescente: Você percebe cada vez mais sua pequenez e a grandeza da misericórdia de Deus.
Paz interior: Mesmo nas dificuldades, há uma paz profunda na alma.
Caridade prática: Você ama mais as pessoas ao seu redor, não se isola num mundo "super espiritual".
Equilíbrio: Você consegue rezar, trabalhar, estudar, conviver — tudo com Deus.
Confiança em Deus: Você não vive angustiado tentando merecer a salvação, mas confia na graça divina.
Alegria: A alegria cristã, que não depende das circunstâncias externas, mas da certeza de ser amado por Deus.
Se sua conversão não está gerando esses frutos, é hora de mudar o caminho.
A boa notícia? Deus é paciente. Ele não desiste de você. Mesmo que você tenha tomado um caminho torto no início, Ele pode te reconduzir ao caminho certo.
Basta humildade para reconhecer o erro e docilidade para aceitar a correção.
Sua conversão pode — e deve — ser um caminho de liberdade, paz e alegria. Não deixe que ela se torne uma prisão de angústia e perfeccionismo.
Pe. L. Grimes. Tratado dos Escrúpulos. Petrópolis: Editora Vozes, 1952.
