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Visitação de Nossa Senhora: lições de caridade e devoção

Espiritualidade
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2/7/2025
Equipe do Padre Leonardo Wagner

No dia da Natividade de São João Batista, contemplamos o anúncio do Arcanjo São Gabriel a São Zacarias, enquanto este ministrava no Templo. Como castigo de seu ceticismo, o pai do Precursor ficou mudo. 

Retornando Zacarias à sua casa, Santa Isabel concebeu João. Seis meses depois, a embaixada celeste visitou Nazaré. Ao contrário do que encontrou no primeiro anúncio, Gabriel desta vez ouviu o “fiat” confiante da Virgem.


A pressa caridosa de Maria

O anjo aduziu que Isabel estava no sexto mês de gestação e, diante dessa informação, Nossa Senhora partiu às pressas para visitar sua prima.

Essa visita não foi movida por curiosidade ou conveniência social, mas foi um ato de ardente caridade e profunda humildade: Isabel estava grávida e avançada em idade. Zacarias, igualmente idoso e agora mudo.

Santo Tomás de Aquino define a devoção como uma prontidão e disposição da vontade para se entregar ao serviço de Deus. Essa disposição nasce principalmente da virtude da caridade, pois ela torna a alma pronta para servir ao Amigo divino, e, ao mesmo tempo, a prática devota aumenta a próprio caridade, visto que a amizade se conserva e cresce pelos serviços prestados ao amigo. 

Por isso, ao rezarmos o segundo mistério gozoso do Rosário, pedimos como fruto a caridade.

Maria pelas montanhas passou

A viagem não foi simples: entre Nazaré e a região montanhosa da Judeia havia cerca de 100 a 150 quilômetros, por caminhos difíceis, expostos ao calor e ao risco de assaltantes. 

Uma distância semelhante há entre São Paulo e Campinas ou Sorocaba; ou entre Curitiba e Ponta Grossa; entre Florianópolis e Blumenau; entre Goiânia e Caldas Novas. São três ou cinco dias à pé. 

Mesmo assim, a jovem Mãe de Deus não hesitou e saiu apressadamente com seu casto esposo pela região montanhosa. A lei proibia que uma donzela viajasse morosamente; e a Virgem evitou também os caminhos com grande fluxo de pessoas. Por isso, foi com pressa pelas montanhas.

A saudação e a santificação

Ao chegar à casa de Isabel, a Rainha do Céu a saudou, não se sabe exatamente com quais palavras. Naquele instante, um milagre aconteceu: Isabel sente seu filho, São João Batista, exultar no ventre, ao ser purificado do pecado original por intermédio da palavra da Mãe de Deus.

Cheia do Espírito Santo, como diz o Evangelho, Santa Isabel proclama Maria como bendita entre todas as mulheres, e bendiz também o fruto de seu ventre. Todos os dias, repetimos essas palavras divinas na Ave-Maria.

O cântico do Magnificat

Da Virgem do Silêncio, poucas palavras temos registradas. Ela, porém, que guardava tudo no coração, cantou o que se segue:

Magníficat ánima mea Dóminum.
Et exultávit spíritus meus, in Deo, salutári meo.
Quia respéxit humilitátem ancíllae suae:
Ecce enim ex hoc beátam me dicent omnes generatiónes.
Quia fécit mihi magna qui pótens est: et sánctum nómen eius.
Et misericórdia eius in progénies et progénies timéntibus eum.
Fécit poténtiam in bráchio suo: dispérsit supérbos mente cordis sui.
Depósuit poténtes de sede: et exaltávit húmiles.
Esuriéntes implévit bonis: et dívites dimísit inánes.
Suscépit Ísrael púerum suum: recordátus misericórdiae suae.
Sicut locútus est ad patres nostros: Ábraham, et sémini eius in saecula.

Minha alma magnifica o Senhor.

Meu espírito exultou de alegria, em Deus, meu Salvador.

Porque olhou para a humildade de sua escrava:

Eis que, desde agora, me proclamarão bendita todas as gerações.

Porque fez em mim grandes coisas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo. 

Sua misericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que o temem. 

Manifestou o poder do seu braço: dispersou os soberbos de coração. 

Depôs do trono os poderosos: e exaltou os humildes. 

Saciou de bens os famintos: e despediu de mãos vazias os ricos. 

Acolheu a Israel, seu filho: lembrado da sua misericórdia.

Conforme falou a nossos pais: Abraão e sua semente, pelos séculos.

A riqueza e a beleza deste hino são tão inigualáveis que a Igreja decidiu cantá-lo todos os dias no ofício de Vésperas — talvez a mais importante das horas canônicas, pois é quando se inicia o dia litúrgico. 


A data da visita

A data da festa da Visitação não é o dia da partida ou chegada de Nossa Senhora, mas o da volta à casa. As in­dicações do Evangelho fornecem os se­guintes dados cronológicos: Maria Santíssima recebeu a saudação do Anjo em 25 de março, quando Isabel se acha­va no sexto mês de gravidez. Sem de­mora e pressurosa, foi visitar a prima, em cuja companhia ficou três meses. 

É provável que tenha chegado à casa de Zacarias já nos primeiros dias de abril. É provável ainda que Maria não tenha ficado só até o dia do nascimento de São João (24 de junho), mas tenha sido testemunha da cerimônia da circuncisão do recém-nascido, tenha presencia­do a cena da discussão sobre o nome do Precursor e que terminou com a decla­ração do pai, a soltura da língua do mesmo e a entoação do célebre Bene­dictus.

Aplicação prática

Reflete o Padre João Batista Lehmann que, da visita que Maria Santíssima fez à Santa Isabel, aprendemos a que regras devem obedecer as nossas visitas e as obras de caridade. 

Não podem ser agradáveis a Deus e úteis a nós visitas que não têm em vista um interesse superior: a glória de Deus e a salvação das almas.

Uma visita que nos afasta do nosso dever não deve ser chamada de visita útil e lícita. A visita feita por vaidade e que é ocasião próxima de conversação contra a caridade e outros pecados é uma visita ilícita e prejudicial.

Aprendamos com Maria Santíssima, conclui o sacerdote, a imprimir em nossas visitas o caráter do útil e do agradável, tanto para nós mesmos, como para o nosso próximo, a quem visitamos.

Referências:

Pe. Alban Butler. The Lives of the Saints, Benziger Bros, 1894.

Pe. João Batista Lehmann. Na luz perpétua. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 1953.

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