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Espiritualidade
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8/9/2025

Um relato do nascimento de Maria Santíssima

Equipe do Padre Leonardo Wagner

Passados 9 meses desde a Imaculada Conceição, chegamos à grande festa da Natividade de Nossa Senhora.

Em sua obra, faz o Padre João Batista Lehmann fez a seguinte observação para este dia:

“Se o nascimento do grande Batista foi motivo de alegria para muitos, a natividade da Mãe de Deus enche de alegria o mundo inteiro. […] Alegram-se os próprios Anjos, porque no dia de hoje pela vez primeira lhes foi dado ocasião de saudar a mãe daquele cuja missão sobre a terra seria preencher os lugares no céu que os Anjos rebeldes perderam.”

De fato, Deus a elegeu e a predestinou antes de todas as criaturas, e o que com muito mais propriedade aplicamos ao Filho de Deus feito Homem, também da Santíssima Mãe se pode dizer que foi desejada e esperada pela colinas eternas.

A Sagrada Escritura nada nos conta acerca do nascimento da Rainha dos Céus, mas uma grande mística espanhola do século XVII nos conta o que se passou naquele dia, de acordo com o que lhe foi revelado pelo Onipotente. Sabendo que não se trata da inerrante Palavra de Deus, podemos, contudo, apreciar seus escritos e alimentar nossa devoção com eles.

Em sua extensa obra “Mística Cidade de Deus”, a Venerável Madre Maria de Jesus de Ágreda relata que, Sant’Ana, mãe de Nossa Senhora, foi prevenida com uma luz interior, na qual o Senhor lhe deu aviso de que chegava a hora de seu parto no dia 8 de setembro, por volta do ano 12 a.C.

O nascimento

Prostrada em oração, Sant'Ana pediu ao Senhor que a assistisse com sua graça e proteção para o bom sucesso de seu parto, e que a Menina Maria foi arrebatada pela Providência e a virtude divina em um altíssimo êxtase, no qual, abstraída de todas as operações sensíveis, nasceu ao mundo sem percebê-lo pelos sentidos; como poderia conhecê-lo por eles, se juntamente com o uso da razão que tinha, os deixasse operar naturalmente naquela hora; mas o poder do Altíssimo o dispôs desta forma, para que a Princesa do Céu não sentisse o natural daquele acontecimento do parto.

A pequena Rainha nasceu pura, limpa, formosa e cheia de todas as graças, manifestando nelas que vinha livre da lei e do tributo do pecado. Veio ao mundo, segundo a venerável monja concepcionista, às doze horas da noite, "começando a dividir a noite da antiga lei e as primeiras trevas do novo dia da graça, que já queria amanhecer." 

Foi a Menina envolta em panos e posta e arranjada como as demais crianças, aquela que tinha sua mente na Divindade; e tratada como pequena, aquela que em sabedoria excedia os mortais e os próprios Anjos. Não teria consentido Sant’Ana que por outras mãos fosse a Menina tratada; antes, ela mesma, com suas mãos, a envolveu em faixas, sem que o puerpério a incomodasse; porque foi livre dos penosos encargos que costumam ter as outras mães em seus partos.

Ainda de acordo com as revelações da mística espanhola, Sant’Ana teria oferecido novamente (como fez durante a gravidez) a divina Menina ao Altíssimo, declarando-se indigna de tocar a verdadeira Arca da Aliança.

Teria respondido o Senhor à Santa Matrona que tratasse a Menina como Mãe interiormente e como Filha exteriormente, sem lhe mostrar reverência, mas que a tivesse no interior; e que, em sua educação, cumprisse as leis de verdadeira mãe, cuidando de sua Filha com solicitude e amor. 

O que fizeram os Anjos

Os Anjos da Guarda da doce Menina, com outra grande multidão, a reverenciaram nos braços de Ana, e lhe fizeram música celestial, da qual ouviu algo a ditosa mãe; e os mil Anjos destinados para a custódia da grande Rainha se ofereceram a Ela e se dedicaram a Seu ministério; e foi esta a primeira vez que a divina Senhora os viu em forma corpórea; e a Menina lhes pediu que louvassem ao Altíssimo com Ela e em seu nome.

No instante em que nasceu nossa Princesa Maria, continua a contar a Sóror Maria de Jesús, Deus enviou São Gabriel Arcanjo para que evangelizasse aos Santos Padres do limbo esta notícia tão feliz para eles; e o embaixador celestial desceu logo, iluminando aquela profunda caverna e alegrando os justos que nela estavam cativos. 

Anunciou-lhes como já começava a amanhecer o dia da felicidade eterna e da reparação do gênero humano, tão desejado e esperado pelos Santos e prenunciado pelos Profetas, porque já havia nascido aquela que seria Mãe do Messias prometido; e que logo veriam a salvação e a glória do Altíssimo. E deu-lhes notícia o Santo Príncipe das excelências de Maria Santíssima e do que a dextra do Onipotente já começara a operar n'Ela, para que melhor conhecessem o ditoso princípio do mistério que daria fim à sua prolongada prisão no limbo; e eles com novos cânticos teriam louvado ao Senhor por este benefício.

Elevação ao céu empíreo

Narra a mística espanhola que a primeira e estupenda maravilha de Deus desde aquela Natividade foi enviar inumeráveis Anjos para que levasse a Mãe do Verbo eterno ao céu empíreo em alma e corpo. Teriam cumprido este mandato os Santos Príncipes e, recebendo a menina Maria dos braços de sua mãe Sant’Ana, ordenaram uma solene procissão, levando com cânticos de incomparável júbilo a verdadeira Arca do Novo Testamento, para que por algum tempo estivesse, não na casa de Obed-Edon, como no Antigo Testamento, mas no Templo do sumo Rei dos reis e Senhor dos senhores, onde depois havia de ser colocada eternamente.

O nome de Maria

Conhecendo muitos mistérios revelados pelo Altíssimo, os Santos Anjos ouviram uma voz do trono que dizia em Pessoa do Pai Eterno: 

“Maria há de chamar-se nossa eleita, e este nome será maravilhoso e magnífico; os que o invocarem com afeto devoto receberão copiosíssimas graças; os que o estimarem e o pronunciarem com reverência serão consolados e vivificados; e todos acharão nele remédio para suas enfermidades, tesouros com que se enriquecer, luz que os encaminhe à vida eterna. Será terrível contra o inferno, quebrantará a cabeça da serpente e alcançará insignes vitórias sobre os príncipes das trevas.”

Continua contando a Venerável Maria de Ágreda que mandou o Senhor aos espíritos angélicos que evangelizassem este ditoso nome a Sant’Ana, para que na terra se realizasse o que se havia confirmado no céu. A divina Menina, prostrada com afeto diante do trono, rendeu agradecidas e humildes graças ao Ser eterno e, com admiráveis e dulcíssimos cânticos, recebeu o nome. E a abadessa acrescenta que, se se houvessem de escrever as prerrogativas e graças que lhe foram concedidas, seria necessário um livro à parte, de maiores volumes. 

Fim do dia 8 de setembro

Para terminar este belíssimo episódio da vida da Rainha dos Céus, aduz a mística que Nossa Senhora sempre ignorava a causa de tudo o que conhecia, porque não lhe foi manifestada a dignidade de Mãe de Deus até o tempo da Encarnação. 

Os Santos Anjos, com o mesmo júbilo e reverência, tornaram a pôr a Princesa nos braços de Sant’Ana, à qual também se ocultou este acontecimento e a falta de sua filha; porque em seu lugar supriu um dos Anjos da Guarda, tomando corpo aéreo para este efeito; e além disso, durante todo o tempo em que a divina Menina esteve no céu empíreo, teve sua mãe Ana um êxtase de altíssima contemplação e nele, embora ignorasse o que se fazia em sua Menina, lhe foram manifestados grandes mistérios da dignidade de Mãe de Deus, para a qual era escolhida; e a prudente matrona os guardou sempre em seu coração.

Imitemos os santos patricarcas em seu júbilo pelo começo de nossa salvação; e façamos coro aos Santos Anjos para elevar nosso espírito aos céus e reverenciar tão boa e potente Mãe, dando sempre graças ao Bom Deus pelas misericórdias que tem operado conosco através de Maria Santíssima.

Referências:

Pe. João Batista Lehmann. Na luz perpétua. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 1953.

María de Jesús de Ágreda. Mística Ciudad de Dios. Madrid: Fareso, 1970.

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