Espiritualidade
|
3
minutos de leitura
|
01.12.2025

Por que temos um tempo do Advento?

PL
Equipe do Padre Leonardo Wagner
Formação Católica
Verão o Filho do homem vir sobre uma nuvem com grande poder e majestade (Lc 21, 27).

O Evangelho do Primeiro Domingo do Advento sempre nos toma de sobressalto. Antes de falar da gruta de Belém, da luz doce do Menino, dos anjos cantando paz, a Igreja nos põe diante de trovões, abalo dos astros, agonia das nações e do Filho do Homem vindo como Juiz.

Não se trata de uma contradição ou engano, senão da pedagogia divina: A liturgia do Advento não começa pela ternura do presépio, mas pelo temor do último dia. Ensina-nos, assim, que quem não espera retamente a segunda vinda, não celebrará retamente a primeira.

Diz o Salmista:

O temor do Senhor é o princípio da sabedoria (Sl 110, 10).

Santo Afonso de Ligório comenta, com dor, que talvez nenhuma pessoa no mundo seja hoje mais desprezada que Jesus Cristo. Os homens receiam ofender até o mais simples homem, mas não tremem em ultrajar o Senhor dos senhores. Esse esquecimento impune da majestade divina exige um dia de reparação, o Dies Domini, o dia em que o Senhor será conhecido por fazer justiça.

Por isso, o Evangelho deste Domingo nos adverte:

Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas… os homens morrerão de medo… e então verão o Filho do homem (Lc 21, 25–27).

Santo Tomás chega a perguntar: se apenas ao dizer "Ego sum" no Getsêmani Cristo derrubou por terra seus perseguidores, o que será quando Ele pronunciar a sentença eterna diante da humanidade inteira?

Para os réprobos, será dia de tribulação. Para os eleitos, porém, dia de triunfo: “Vinde, benditos de meu Pai…” (Mt 25, 34).

E a Igreja, como boa Mãe, nos pergunta no início do Advento: e você? De que lado estará?

Por que a Igreja fala do Juízo justamente agora?

Dom Guéranger explica: a Igreja, ao começar o ano litúrgico, quer recolocar-nos no ponto de partida verdadeiro — a perspectiva da eternidade.

Antes de contemplarmos o Menino, devemos lembrar o motivo pelo qual Ele veio: para nos tirar das trevas da ignorância e nos salvar da maldição do pecado. A primeira vinda (no presépio) seria inútil se não levar à vinda na alma pela graça na glória ao passar pelo Juízo.

A Igreja antecipa esse dia terrível do Juízo porque quer que o Natal não seja apenas um terno sentimentalismo, mas uma conversão real, que dê frutos para a vida eterna.

O motivo do Tempo do Advento

Dom Guéranger lembra que a Igreja antiga se preparava para o Natal com grande seriedade. Na Gália, desde o século V, havia uma pequena “Quaresma de São Martinho”: quarenta dias de penitência, após a festa de São Martinho de Tours. Só mais tarde reduziu-se o período às quatro semanas que hoje conhecemos.

Embora as práticas externas tenham se suavizado, o caráter espiritual permanece: cor roxa, supressão do Te Deum, do Glória e do Ite Missa Est, textos sobre vigilância, penitência e o juízo.

Adventus significa vinda, mas também significa visitação, inspeção, chegada de um rei. É diante deste Rei que nos colocamos nas quatro semanas que iniciam o ano litúrgico.

Diante do presépio, o mundo moderno quer apenas emoção e carinho (quando ele se lembra do presépio!).

Já nossa santa madre Igreja, quer propósito de emenda, ruptura com o pecado, vida nova e aumento da esperança na volta de nosso Juiz

Por isso, Ela une já no primeiro domingo o presépio ao tribunal, a manjedoura à nuvem gloriosa, o Doce Menino ao Justo Juiz, porque só teme com fruto quem ama, e só ama de verdade quem teme perder o Amado.

Façamos um exame sério de consciência: há algo em nossa vida que nos deixaria entre os réprobos se Cristo voltasse hoje?

Façamos uma boa confissão e recebamos o Senhor no Natal com a alma pura como a dos anjos que desceram do Céu para cantar-Lhe louvores.

Referências:

Dom Prosper Guéranger. The Liturgical Year. 15 v. Loreto Publications, 2000.

Mais artigos

Inscreva-se para receber formações por e-mail

Fazer meu cadastro
Padre Leonardo Wagner © 2024. Todos os direitos reservados.