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Vida dos Santos
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15/5/2025

O Serafim da Eucaristia

Equipe do Padre Leonardo

São Pascoal Bailão nasceu no dia 24 de maio de 1540, durante a festa de Pentecostes, na aldeia de Torre-Hermosa, no antigo reino de Aragão, Espanha. 

Seus pais, Martim Bailão e Isabel Jubera, eram camponeses simples e profundamente cristãos. A solenidade do dia de seu nascimento — chamada na Espanha de Pascua del Espíritu Santo (Páscoa do Espírito Santo) — inspirou o nome "Pascoal", que em sua vida se revelaria profético.

Desde os primeiros anos, Pascoal demonstrava traços notáveis de piedade. Era uma criança serena, modesta e obediente. Gostava de se recolher para rezar, e não havia brincadeira que o distraísse por muito tempo do seu desejo de estar com Deus. Ainda pequeno, foi encarregado de pastorear o rebanho de sua família. 

Esse trabalho solitário, longe de afastá-lo de Deus, aproximou-o ainda mais do Criador. O campo se tornou seu mosteiro; a natureza, seu livro de oração; o céu estrelado, seu teto de contemplação.

Desejo pela verdade e pela Palavra de Deus

Pascoal não sabia ler, mas ansiava por compreender melhor as verdades da fé. Levava consigo um livro espiritual e, ao encontrar viajantes piedosos, pedia que lhe ensinassem as letras. Assim, aprendeu a ler por si mesmo. Esse esforço humilde e perseverante revela seu amor pela sabedoria divina.

Mesmo sem escolas ou mestres, Pascoal formava-se no melhor dos seminários: o silêncio, a oração, o trabalho e a contemplação. Ele lia a natureza à luz de Deus e lia Deus no silêncio da alma. O Santíssimo Sacramento era seu foco constante, mesmo a quilômetros de distância. 

Certa vez, enquanto pastoreava as ovelhas, ouviu o sino da consagração vindo de uma igreja distante no vale. Imediatamente, ajoelhou-se com o coração em adoração. Segundo testemunhas, foi então favorecido com uma visão de um anjo que lhe apareceu portando a Hóstia Consagrada, permitindo-lhe adorá-la misticamente no campo.

Ingresso na Ordem Franciscana

Aos 24 anos, Pascoal foi aceito como irmão leigo na Ordem dos Frades Menores da Reforma Alcantarina, inspirada por São Pedro de Alcântara. Não quis ser sacerdote, por julgar-se indigno. Preferiu sempre as tarefas mais humildes: varrer os corredores, cuidar da horta, servir à mesa dos outros religiosos. Tinha um profundo horror a qualquer vanglória ou destaque.

Sua vida conventual era de extrema austeridade. Dormia pouco, comia apenas o necessário, jejuava com frequência e vivia na mais completa simplicidade. Sua alegria interior era perceptível a todos que o rodeavam. Vivia, como dizia São Francisco, “como peregrino e forasteiro neste mundo”, com os olhos sempre voltados ao Céu.

Amor à Eucaristia

O centro de sua vida espiritual era a Eucaristia. Pascoal passava longas horas em adoração silenciosa diante do Santíssimo Sacramento. Era visto, por vezes, em êxtase, suspenso do chão ou transfigurado por um brilho celestial. 

A presença real de Cristo o absorvia totalmente. Ele costumava dizer que, se os homens conhecessem o valor da Missa e do Sacramento do Altar, deixariam tudo para estar com Jesus.

Sua sabedoria era tão profunda, mesmo sendo iletrado, que teólogos e sacerdotes procuravam seu conselho sobre temas espirituais. Era como se o próprio Senhor, presente na Eucaristia, o instruísse diretamente.

A missão na França e o confronto com os hereges

Pascoal foi enviado certa vez à França, em missão de sua Ordem, para entregar documentos importantes. Nessa época, os huguenotes (protestantes calvinistas) causavam sérias perseguições aos católicos. Durante a viagem, ele foi reconhecido por sua veste franciscana e severamente agredido. 

Em uma cidade, assistiu a um sermão protestante que blasfemava contra a Presença Real de Cristo na Eucaristia. Incapaz de conter-se, levantou-se em meio ao povo e defendeu com firmeza a doutrina católica. Foi quase morto por uma multidão enfurecida, mas escapou por milagre.

Esses episódios, longe de o desanimarem, reforçaram ainda mais sua fé. Ele oferecia seus sofrimentos pelas almas que negavam a presença de Cristo no altar. A defesa do dogma eucarístico foi o grande testemunho de sua vida.

Morte em odor de santidade

Já enfraquecido pela idade e pelos trabalhos, São Pascoal adoeceu gravemente no convento de Villarreal. No dia 17 de maio de 1592, domingo de Pentecostes (como no seu nascimento), durante a Missa, ouviu o som do sino da consagração. Levantou os olhos ao Céu e exclamou com amor: “Meu Senhor e meu Deus!”. No mesmo instante, entregou sua alma ao Criador.

Muitos contam que, no momento de sua morte, foi visto por alguns irmãos em êxtase, e um perfume celestial encheu o ambiente. A notícia de sua partida espalhou-se rapidamente, e fiéis de todas as partes acorreram ao convento para venerar seu corpo.

Milagres e culto

Após sua morte, muitos milagres foram atribuídos à sua intercessão. Surdos recuperavam a audição, cegos viam, paralíticos andavam. Os pobres e os aflitos recorriam a ele com confiança. Seu túmulo tornou-se local de peregrinação constante.

Foi beatificado em 1618 pelo Papa Paulo V e canonizado em 1690 por Alexandre VIII. Em 1897, o Papa Leão XIII, impressionado com a profundidade da vida eucarística do santo, declarou São Pascoal Padroeiro dos Congressos Eucarísticos e das Associações Eucarísticas por meio de um Breve chamado Providentissimus. Nenhum outro santo foi tão intimamente associado a esse mistério central da fé.

Figura e representação

São Pascoal é frequentemente representado como um jovem frade ajoelhado em adoração diante de uma visão da Hóstia. Às vezes, está cercado por ovelhas, recordando sua juventude como pastor. Outras vezes, com um raio de luz vindo do Céu apontando para a Eucaristia, simbolizando sua intimidade mística com Cristo.

Seu nome permanece vivo, especialmente na Espanha, na América Latina e entre os fiéis que cultivam a adoração perpétua.

Modelo

O Padre Autbert Groeteken descreve São Pascoal Bailão como um modelo perfeito de humildade, caridade e amor sacramental. Seu exemplo é atual: num mundo que frequentemente esquece ou despreza a presença real de Cristo na Eucaristia, Pascoal nos convida ao silêncio, à adoração, à reverência e à confiança no Deus que se faz pão por amor.

Deixamos abaixo trechos do Papa Leão XIII sobre nosso santo:

"Cremos que o resumo de toda a bondade do Senhor está no aumento da devoção entre os fiéis para com o Sacramento da Eucaristia, depois dos grandiosos Congressos realizados naquela época sobre este assunto. Porque não julgamos nada mais eficaz, como já declaramos em outras ocasiões, para estimular os ânimos dos católicos, tanto à corajosa confissão de fé como à prática de virtudes dignas de cristãos, do que promover e ilustrar a devoção do povo àquela inefável promessa de amor que é o vínculo da paz e da unidade.
Sendo este assunto tão importante digno da nossa maior atenção, assim como muitas vezes louvamos os Congressos Eucarísticos, assim também agora, animados pela esperança de frutos mais abundantes, decidimos designar-lhes um Padroeiro celeste dentre os bem-aventurados que, com o mais veemente afeto, arderam em amor pelo santíssimo Corpo de Cristo.
Ora, entre aqueles cujo piedoso afeto por tão sublime mistério de fé foi mais fervorosamente manifestado, São Pascoal Bailão ocupa um lugar de destaque. Quem, possuindo um espírito muito inclinado às coisas celestiais, tendo-se ocupado de uma vida puríssima durante a adolescência no pastoreio de rebanhos, e tendo abraçado um gênero de vida mais austero na Ordem dos Menores da mais estrita Observância, mereceu na contemplação do sagrado banquete receber tal ciência que, sendo rude e sem qualquer estudo, pôde responder a perguntas muito difíceis sobre a fé e até escrever livros piedosos. Além disso, entre os hereges, ele sofreu muitas e graves perseguições e, imitando o mártir Tarcísio, foi frequentemente exposto a dar sua vida para confessar pública e manifestamente a verdade da Eucaristia. Seu amor por ela parece ter sido preservado mesmo após sua morte, pois, deitado no caixão, ele teria aberto os olhos duas vezes para a dupla elevação das espécies sagradas.
Portanto, é claro que nenhum melhor Patrono do que ele pode ser designado para os Congressos Católicos dos quais falamos. Portanto, assim como confiamos a Santo Tomás de Aquino os jovens estudiosos, a São Vicente de Paulo as associações de caridade, a São Camilo de Léllis e a São João de Deus os doentes e todos aqueles que se dedicam à sua assistência, pelo mesmo motivo, como coisa excelente e alegre e que redunda em bem da cristandade, em virtude destes presentes, com a nossa suprema autoridade, declaramos e constituímos São Pascoal Bailão como particular Padroeiro celestial dos Congressos Eucarísticos, assim como de todas as Associações Eucarísticas existentes ou que se venham a estabelecer no futuro.
Esperamos confiantemente, como resultado dos exemplos e patrocínio do mesmo Santo, que muitos cristãos consagrem diariamente seu espírito, suas decisões e seu amor a Cristo Salvador, princípio supremo e santíssimo de toda saúde.”  (Leão XIII, Breve Providentissimus, de 28 de novembro de 1897).

São Pascoal, rogai por nós!

Referências:

Pe. Alban Butler, Lives of the Saints, Alban Butler, Benziger Bros., 1894, p. 183.

Oswald Staniforth The Catholic Encyclopedia, Vol. 11, Robert Appleton Company, 1911.

Pe. Autbert Groeteken, Saint Paschal Baylon – Why Saint Paschal?, 1907.

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