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Os Leões no trono de Pedro

História da Igreja
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9/5/2025
Papa Leão XIV acena aos fiéis em sua primeira aparição pública / Foto: REUTERS/Yara Nardi
Equipe do Padre Leonardo

Chegou ao fim o período de espera pela eleição do novo Soberano Pontífice, o qual tomou o nome de Leão XIV.

O primeiro papa com este nome não o escolheu após sua coroação. Essa tradição começou apenas no ano 533, quando Mercúrio foi eleito para ocupar a Sé Apostólica, e, por considerar incompatíveis o ofício petrino e o nome de um deus pagão, optou por ser chamado de João II, em homenagem ao Papa João, a quem estimava.

Assim, como Robert Francis Prevost optou pelo nome de Leão, significa que estima particularmente ao menos um dos papas com este nome.

Quem foram eles? Eis aqui, caro leitor, um brevíssimo relato da vida desses papas:

1. Leão I – O Grande (440–461)

O Papa Leão I não herdou o título de "Magno" — conquistou-o. Num tempo em que o Império Romano cambaleava sob o peso da decadência e das heresias, ergueu-se um bispo romano cuja palavra firme restaurou a verdade cristológica e cuja presença fez recuar o flagelo da espada.

Contra Eutiques e os erros do monofisismo, escreveu o Tomo a Flaviano, lido com reverência e aclamação no Concílio de Calcedônia. O Oriente o escutou com pasmo e reverência. Escreveu sobre ele o historiador Reuben Parsons:

“O mundo estremeceu, mas Pedro falou pela boca de Leão” (1).

Quando Átila, o Huno, se aproximou dos muros de Roma, Leão saiu para confrontá-lo, e o bárbaro recuou. Por quê? Alguns dizem ter visto anjos armados ao lado do pontífice. Outros, mais céticos, falam da eloquência do santo. Ambos podem ter razão.

2. Leão II (682–683)

Leão II viveu à sombra dos concílios. Confirmou o VI Concílio Ecumênico (Constantinopla III), que condenara o monotelismo — heresia que confundia as vontades divinas e humanas em Cristo.

Dedicou especial atenção ao canto litúrgico e suavizou a condenação do Papa Honório I, classificando a acusação como “negligência pastoral” e não heresia formal (2).

3. Leão III (795–816)

Quando Leão III colocou a coroa imperial sobre Carlos Magno, na Basílica de São Pedro, no Natal do ano 800, selou o destino da cristandade ocidental. Deu-se ali o renascimento do Império Romano do Ocidente sob o signo da cruz — não mais o César pagão, mas o imperador cristão. Sobreviveu a tumultos e iniciou uma nova relação entre o trono e o altar (3).

4. Leão IV (847–855)

Diante da ameaça sarracena, Leão IV não brandiu a espada, mas fortificou a colina do Vaticano com a chamada Muralha Leonina.

Ajudou a restaurar igrejas profanadas, renovou o espírito de Roma e fundou a "Cidade Leonina", núcleo que mais tarde se tornaria parte do Vaticano. Foi um papa de obras e orações, firme na fé e forte contra o medo.

5. Leão V (903?)

Leão V foi papa por um breve interstício em 903, deposto por Cristóvão, um usurpador posteriormente classificado como antipapa. A história mal o registra: não se sabe o conteúdo de seu breve governo.

Contudo, a própria obscuridade com que passou lembra-nos que a Igreja perdura mesmo nos tempos em que seus líderes se apagam sob a poeira dos conflitos políticos (4).

6. Leão VI (928–929)

Outro Leão efêmero, eleito num tempo que os historiadores chamariam de saeculum obscurum. Sabe-se que tentou preservar a autoridade espiritual num tempo em que senhores romanos manipulavam o trono papal. De seu breve pontificado, restam ecos de dignidade, mas pouca ação concreta documentada (5).

7. Leão VII (936–939)

Leão VII trouxe a Roma Odo de Cluny, o grande reformador monástico. Foi um gesto profético, semente de uma renovação que germinaria nos séculos seguintes. Seu papado foi tranquilo e modesto. Foi ainda mediador entre os príncipes germânicos e protetor da paz em tempos inquietos.

8. Leão VIII (963–965)

A história de Leão VIII é complexa. Primeiramente eleito por imposição do imperador Otto I, enquanto João XII ainda vivia, foi considerado antipapa. Mas, após a morte de João, retornou ao trono com apoio imperial.

Sua figura desafia as categorias simples. Parsons o trata com simpatia cautelosa, notando que sua legitimidade posterior foi reconhecida, mas que seu primeiro acesso foi fruto da ingerência secular (6).

9. Leão IX (1049–1054)

Leão IX foi um alemão reformador que viajou como peregrino pelas dioceses, combatendo a simonia e a corrupção clerical. Com autoridade moral, preparou o caminho da reforma gregoriana.

Porém, também foi ele quem enfrentou Miguel Cerulário, patriarca de Constantinopla, no episódio que resultaria no cisma de 1054. Enviou uma delegação firme, que acabou por depositar a bula de excomunhão no altar de Santa Sofia — gesto trágico que selou a ruptura entre Oriente e Ocidente (7).

10. Leão X (1513–1521)

Giovanni de Médici, renascentista de alma e patrono das artes, foi um príncipe no trono de Pedro. Foi ele quem patrocinou as artes, especialmente a Rafael, e incentivou a literatura em Roma.

Foi sob seu pontificado que o heresiarca Lutero se revoltou publicamente contra a Igreja, o Papa, Cristo e Sua Mãe Santíssima. Embora Leão tenha excomungado o frade agostiniano, não compreendeu de início a gravidade da revolução nascente.

Sobre este assunto, há um ótimo livro: La ruptura del sistema religioso en el siglo XVI, escrito por Rubén Calderón Bouchet. Seu governo marca o apogeu da Roma artística e o crepúsculo de uma era eclesial (8).

11. Leão XI (abril de 1605)

Viveu apenas 27 dias como papa. Era tio de Maria de Médici, e sua eleição foi celebrada, mas sua saúde debilitada não resistiu às tensões da Cúria. Mesmo em tão breve tempo, buscou corrigir abusos administrativos.

O Padre Vicente Vítola, em seu livro "Os cinco escapulários" (Paulinas, 1949, p. 14), conta que este pontífice possuía grande devoção ao escapulário Nossa Senhora:

"E­xemplo deste amor ao santo escapulário temos no grande pontífice Leão XI. Foi depois de sua exalta­ção ao Pontificado, quando lhe despiam as vestes cardinalícias e quiseram tirar-lhe também o escapu­lário, dizendo que as vestes pontifícias continham eminentemente a virtude de todos os outros hábitos, o papa o impediu, pronunciando aquelas célebres palavras: 'Deixe-me Maria, para que Maria não me deixe.'"

12. Leão XII (1823–1829)

Leão XII tentou reverter o secularismo que invadira a Europa após a Revolução Francesa. Centralizou o poder papal, incentivou a moralidade pública e combateu o jansenismo.

Conservador e profundamente piedoso, reavivou práticas devocionais e fortaleceu a autoridade espiritual da Sé de Pedro em tempos de agitação política.

Escreveu a encíclica Quo Graviora (1825), condenando a maçonaria.

13. Leão XIII (1878–1903)

Leão XIII foi o mais longevo de todos os papas após São Pedro. Intelectual refinado, defensor da doutrina, foi o papa que olhou o século XX pela fresta da porta e rezou pelo mundo que viria (9).

Nascido Vincenzo Gioacchino Pecci, foi eleito em 1878 e seu pontificado estendeu-se até 1903. Contra o liberalismo, Leão XIII defendeu a autoridade da Igreja sobre a sociedade e a moral pública, criticando o secularismo que excluía Deus da vida pública. A encíclica Libertas Praestantissimum (1888) expõe claramente este erro e nos mostra que, atualmente, todos nós temos uma mentalidade liberal.

Na Immortale Dei (1885), afirmou a harmonia natural entre a fé e a razão, e defendeu a submissão das leis humanas à lei divina; por este motivo, foi condenada a ideia de separação entre Igreja e Estado.

Contra a maçonaria, foi contundente: na encíclica Humanum Genus (1884), condenou-a como uma força secreta e anticristã, acusando-a de promover o relativismo moral, o naturalismo e a dissolução da ordem social cristã.

Contra ao socialismo, Leão XIII escreveu a encíclica Rerum Novarum (1891). Defendeu o papel da propriedade privada e a mediação moral da Igreja nas questões sociais.

Em 1886, Leão XIII ordenou que, ao final de cada Missa rezada (isto é, sem canto), fossem recitadas orações especiais, conhecidas hoje como Orações Leoninas. Elas consistiam em três Ave-Marias, uma Salve Rainha, uma oração pela Igreja e o pequeno exorcismo de São Miguel Arcanjo: São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate etc.

Essas orações não faziam parte da liturgia propriamente dita, mas eram prescritas como prática devocional obrigatória após a Missa, com o objetivo específico de proteger a Igreja contra os ataques espirituais e temporais.

Já o Exorcismo de São Miguel Arcanjo contra Satanás e os Anjos Apóstatas, mais longo e solene, foi incluído na edição de 1890 do Rituale Romanum. O Papa escreveu este exorcismo após uma visão mística na qual viu o poder de Satanás adquirido para combater a Igreja.

Oremos pelo nosso Pontífice Leão XIV!
Que o Senhor o conserve e o vivifique; que o faça feliz na terra e não o entregue à vontade de seus inimigos!

Referências:
  1. Parsons, Studies in Ecclesiastical History, vol. I, cap. 3, p. 44.

  2. Ibid., vol. II, cap. 5, p. 103.

  3. Ibid., vol. II, cap. 10, p. 213.

  4. Ibid., vol. III, cap. 4, p. 78.

  5. Ibid., vol. III, cap. 6, p. 121.

  6. Ibid., vol. III, cap. 9, p. 192.

  7. Ibid., vol. IV, cap. 2, p. 37.

  8. Ibid., vol. V, cap. 5, p. 144.

  9. Ibid., vol. VI, cap. 3, p. 89.

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