Liturgia
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17.12.2025

O segredo das antífonas do "Ó"

PL
Equipe do Padre Leonardo Wagner
Formação Católica

Muitos estão familiarizados com aquele conhecido hino gregoriano para o Advento: Veni, Veni, Emmanuel… Ele é, de fato, um hino profundamente tradicional e litúrgico, pois é composto de sete orações especiais dirigidas a Deus ao longo dos últimos dias do Advento.

Hoje à noite a Santa Igreja inicia uma solene contagem regressiva: a novena de Natal nas casas. Na liturgia, ela se manifesta por meio dessas antífonas cantadas no ofício de Vésperas, para o cântico evangélico do Magnificat, rezado após o pôr do sol.

Em todos esses sete dias, a antífona começa com a palavra, ou melhor, com uma mesma letra: “Ó”, como uma invocação dirigida a Deus que vem salvar os homens.

Assim, essa série de antífona é chamada de "as sete grandes antífonas do Ó”. Nessas grandes antífonas, invocamos Deus por meio de diversos títulos, que vão do mais espiritual ao mais próximo de nós, a saber:

Ó Sabedoria;
Ó Adonai (Senhor);
Ó Raiz de Jessé;
Ó Chave de Davi;
Ó Oriens (Estrela Nascente);
Ó Rei das Gentes;
Ó Emanuel.

Existe um código secreto que conecta essas sete antífonas e pode-se chamá-lo de um auxílio mnemônico. Se reunirmos as iniciais de cada título divino e as lermos de trás para frente, obtemos em latim duas palavras: “Ero cras”, que significa: “Estarei amanhã”.

Aplicado ao Verbo Eterno, isso expressa sua santa expectativa da Natividade. É como se ouvíssemos a voz de Deus Filho falando a Deus Pai no Céu, talvez olhando para a terra à distância e considerando com alegria: “Eu estarei lá amanhã.” Isso nos acontece às vezes conosco, não acontece? Imaginemos que estamos arrumando nossa mala em casa, na noite anterior a uma viagem para algum lugar distante — um lugar muito agradável ou um lugar onde sabemos que nossa visita trará muita alegria ou consolação às pessoas que nos esperam.

Podemos estar olhando para nossa passagem e pensar: “Eu estarei lá amanhã.” É exatamente o mesmo com Deus nesta semana que precede o Natal. Deus fala consigo mesmo: “Eu estarei lá amanhã.” Deus deseja estar conosco. Esse é o próprio nome que Ele escolheu para Si: Emanuel, que significa Deus conosco.

Passemos agora brevemente pelas sete grandes antífonas.

Primeira: Ó Sabedoria

Ó Sabedoria, que saís da boca do Altíssimo, atingindo de um extremo ao outro com força e suavidade, ordenando todas as coisas: vinde ensinar-nos o caminho da prudência.

No Jardim do Éden, Eva pecou por falta de prudência. Ela entrou em diálogo com o demônio. Ao contrário, na Ladainha de Loreto invocamos a nova Eva, Maria, como Virgem prudentíssima.

Tendo-se tornado Mãe de Deus, a quem traz em seu seio virginal, Nossa Senhora deve estar dizendo a seu Filho exatamente as palavras dessa primeira antífona.

Segunda: Ó Senhor

Ó Adonai, chefe da Casa de Israel, que aparecestes a Moisés no fogo da sarça ardente e lhe destes a Lei no Sinai: vinde resgatar-nos com braço estendido.

Então Deus revelou-Se a Moisés na sarça ardente, no Monte Sinai, como Aquele que é. Ainda não havia um povo eleito; Deus estava apenas preparando-o. Havia apenas escravos no Egito.

Deus revela Seu Nome, e esse Nome torna-se o ímã que atrai os hebreus cativos para fora do Egito, a fim de adorar o único Deus verdadeiro em Sua segunda montanha.

Terceira: Ó Raiz de Jessé

Ó Raiz de Jessé, que estais como sinal entre os povos; diante de vós os reis emudecerão, as nações vos suplicarão: vinde libertar-nos, não tardeis mais. O título Raiz de Jessé estreita a perspectiva sobre a genealogia do Salvador.

Ele se refere a Isaías 11,10:

Naquele dia, a raiz de Jessé, que se ergue como sinal para os povos, será procurada pelas nações, e o seu sepulcro será glorioso.

O povo eleito de Deus é agora previsto como encarnado em Jesus, o Messias, morto e ressuscitado, e realizado na Igreja Católica fundada pelo mesmo Cristo.

Quarta: Ó Chave de Davi

Ó Chave de Davi e cetro da Casa de Israel, que abris e ninguém fecha, que fechais e ninguém abre: vinde e conduzi os prisioneiros da prisão, os que habitam nas trevas e na sombra da morte.

Essa antífona refere-se a Isaías 22,22:

Colocarei sobre o seu ombro a chave da casa de Davi; ele abrirá, e ninguém fechará; fechará, e ninguém abrirá.

Isso aprofunda ainda mais o foco em Cristo Rei, não apenas como o descendente indefinido de Jessé, mas como o bem identificado Filho de Davi, investido de poder régio. Nas cidades da Antiguidade, a chave do portão era frequentemente uma grande tranca de madeira ou metal que barrava os portões da cidade — muito maior e mais pesada do que as chaves modernas que cabem facilmente em nossos bolsos. Assim, carregar a chave sobre o ombro significava controlar o acesso à cidade.

Nosso Senhor Jesus Cristo, de fato, carregou tal madeira sobre o ombro. Lembremo-nos: foi na Sexta-feira Santa, a caminho do Gólgota. A Chave de Davi, que abre a todos os homens o acesso à salvação, é a Cruz de Jesus.

Quinta: Ó Estrela Nascente

Ó Oriens, esplendor da luz eterna e sol da justiça: vinde iluminar os que habitam nas trevas e na sombra da morte.

Esse quinto título lê-se em latim Oriens, que significa simplesmente “aquele que nasce”. Aplicado a uma estrela, pode referir-se à Estrela de Belém enviada aos Magos como sinal que os conduziu à gruta da Natividade.

Mas, aplicado à pessoa simbolizada pela estrela — o próprio Jesus —, o Nascente é Nosso Senhor em Sua Ressurreição, após ter vencido o pecado e a morte por nós. Assim, vemos que nossa expectativa pelo Natal deve ir além do presépio e dos pastores; ela deve atravessar o Gólgota e chegar até a manhã da Páscoa; tal é o verdadeiro fim planejado por Deus.

Sexta: Ó Rei das Nações

Ó Rei das Nações e por elas desejado, pedra angular que faz de dois um só: vinde salvar o gênero humano que formastes do barro.

Esse sexto título anuncia a Igreja. Desde o início, Deus desejou que todos os povos voltassem para Ele, mas começou com um povo: o povo hebreu. Do povo hebreu formou-se Sua Santa Igreja, e isso não foi uma mudança de plano por parte de Deus. Desde o princípio, Deus havia planejado a Santa Igreja como a Esposa mística do novo Adão, Nosso Senhor.

Sétima: Ó Emanuel

Ó Emanuel, nosso Rei e nosso Legislador, esperança das nações e seu Salvador: vinde salvar-nos, Senhor nosso Deus.

Finalmente, um nome é dado a esse Salvador misterioso cuja vinda foi invocada e preparada ao longo das seis antífonas anteriores e ao longo de milênios desde a criação do mundo.

O nome Emanuel significa “Deus conosco”. É o nome dado pelo próprio Deus, conforme anunciado pelo profeta Isaías na mais famosa profecia da Virgem:

Portanto, o próprio Senhor vos dará um sinal: eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho, e o seu nome será Emanuel.

Lembrem-se do acrônimo "Ero cras” — “Eu estarei amanhã.”

Podemos imaginar o Menino Jesus no ventre de Nossa Senhora, examinando, em Sua sabedoria divina, as etapas de Sua revelação aos homens e pensando, como se segurasse uma passagem de viagem: "Ero cras” — “Estarei amanhã”.

Onde?

Aqui.

Visivelmente conosco, visivelmente um de nós para ser nosso modelo, nosso libertador, nosso salvador, nosso amigo. Podemos usar essas sete grandes antífonas como fio condutor de nossa meditação diária nesta semana até o Natal.

Permaneçamos muito próximos de Nossa Senhora nesta semana, a Ela que canta em seu coração — sem dúvida melhor do que todos os anjos — ao Deus Menino que traz em seu seio: Bendito o que vem em nome do Senhor!

Referências:

Breviarium Romanum, ex decreto sacrosancti Concilii Tridentini restitutum, S. Pii V Pont. Max. iussu editum, Clementis VIII et Urbani VIII auctoritate recognitum. Romae: Typis Polyglottis Vaticanis, 1956.

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