No ano de 1917, um então pequeno vilarejo chamado Fátima, em Portugal, foi palco de um dos maiores acontecimentos do século XX: as aparições de Nossa Senhora a três crianças.
Lúcia dos Santos (de 10 anos) e seus primos, Francisco (de 8 anos) e Jacinta Marto (de 7 anos), receberam a visita da Mãe de Deus, que lhes confiou uma mensagem de oração, penitência e conversão, que teria um impacto profundo na Igreja e no mundo.
Em um contexto mundial de destruição e sofrimento — a Primeira Guerra Mundial devastava a Europa, e a Rússia se preparava para cair sob o jugo do comunismo ateu — Nossa Senhora apareceu como a Mulher vestida de sol, trazendo uma mensagem de penitência, mas também de esperança.
Na primavera de 1916, um ano antes das aparições de Nossa Senhora, as crianças de Fátima já estavam sendo preparadas espiritualmente para a missão que Deus lhes confiaria. Lúcia (9 anos), Francisco (7 anos) e Jacinta (6 anos) foram visitadas por uma figura de luz, que disse disse:
"Não temais! Sou o Anjo da Paz. Orai comigo."
O Anjo ensinou-lhes a rezar com fervor a seguinte oração:
"Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão pelos que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam."
Essa oração era uma invocação de reparação pelos pecados do mundo, preparando as crianças para a missão de oração e penitência que seria confiada por Nossa Senhora. O Anjo as instruiu também sobre a importância de adorar a Santíssima Trindade e de fazer sacrifícios pela conversão dos pecadores.
Durante o verão, o Anjo apareceu novamente. Repreendeu suavemente a dispersão das crianças e as exortou:
"Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios."
E explicou:
"De tudo o que puderdes, oferecei um sacrifício a Deus, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores."
Pela terceira vez, no outono, o Anjo apareceu com um cálice e uma hóstia suspensa sobre ele. Da hóstia pingavam gotas de sangue no cálice. Deixando ambos suspensos no ar, o Anjo se prostrou e rezou com as crianças esta oração:
“Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu Vos adoro profundamente e Vos ofereço o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da Terra, em reparação pelos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E, pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores.”
Depois, o Anjo se levantou e distribuiu a comunhão às três crianças:
Escreveu Lúcia:
“O Anjo deu-me a Sagrada Hóstia, e ao mesmo tempo deu o Sangue do cálice a Jacinta e Francisco, dizendo ao mesmo tempo: ‘Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus.’”
A primeira aparição de Nossa Senhora ocorreu em 13 de maio de 1917, quando as crianças estavam novamente pastoreando seu rebanho. Nossa Senhora apareceu como uma mulher vestida de branco, mais brilhante que o sol. Ela pediu que rezassem o Rosário todos os dias e que fizessem penitência pelos pecados do mundo.
A Senhora disse:
"Não tenhais medo. Eu não vos faço mal."
E pediu:
"Vinde aqui seis meses seguidos, no dia 13, a esta mesma hora. Depois vos direi quem sou e o que quero."
Acrescentou:
"Rezem o terço todos os dias, para alcançar a paz para o mundo e o fim da guerra."
A reação inicial da família e da comunidade local foi de incredulidade e até hostilidade. As crianças foram ridicularizadas, e as autoridades tentaram impedi-las de falar sobre as aparições. No entanto, as visitas de Nossa Senhora continuaram, e a fé das crianças permaneceu inabalável.
Em 13 de junho de 1917, Nossa Senhora revelou um aspecto ainda mais profundo de sua missão: o Imaculado Coração de Maria. Ela mostrou às crianças seu Coração, cercado de espinhos, e pediu que todos se unissem a Ela na reparação dos pecados:
"Jesus quer estabelecer no mundo a devoção ao Meu Imaculado Coração. A quem a abraçar, prometo a salvação."
Lúcia, Francisco e Jacinta foram encorajados a se oferecerem como instrumentos de reparação. A visão do Imaculado Coração se tornaria um dos pilares da devoção de Fátima, com a consagração do mundo ao Coração de Maria sendo uma das exigências centrais da mensagem.
"Quero que venhais aqui no dia 13 do mês que vem, que rezeis o terço todos os dias e que aprendais a ler. Depois direi o que quero."
Além disso, Nossa Senhora anunciou que Francisco e Jacinta seriam chamados ao Céu em breve, enquanto Lúcia continuaria a missão de espalhar a mensagem.
Em 13 de julho de 1917, a terceira aparição trouxe o segredo de Fátima, que se dividiria em três partes. A primeira parte foi uma visão do inferno, na qual as almas dos pecadores eram atormentadas.
"Vistes o inferno para onde vão as almas dos pobres pecadores."
A segunda parte do segredo foi a previsão da Segunda Guerra Mundial, caso a humanidade não se arrependesse. Nossa Senhora falou da Rússia, dizendo que seus erros se espalhariam pelo mundo, causando conflitos e perseguições à Igreja. Ela pediu que o Papa consagrasse a Rússia ao seu Imaculado Coração para evitar essas tragédias.
"Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terá paz; se não, espalhará os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja."
A terceira parte do segredo é até hoje a que permanece por cumprir. Ela foi escrita em uma carta entregue ao Papa João XXIII, o qual deveria abri-la apenas em 1960. Ele, porém, a abriu antes e declarou que a profecia não se referia ao seu pontificado.
Os pastorinhos relatam a seguinte visão:
“Vimos à esquerda de Nossa Senhora, um pouco mais alto, um Anjo com uma espada de fogo em uma mão… Atingindo a terra, ele clamava com voz forte: Penitência, Penitência, Penitência! E vimos um Bispo vestido de branco… tendo o pressentimento de que era o Santo Padre… subir uma montanha íngreme… ao chegar ao topo, ajoelhou-se ao pé de uma grande cruz… Foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam tiros e flechas, e da mesma forma morreram outros bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, e várias pessoas de diferentes classes e posições...”
As palavras de Nossa Senhora, porém, não nos foram reveladas. Essa segunda parte do terceiro segredo permanece objeto de debates e investigações até os nossos dias:
“Em Portugal, o dogma da fé será preservado etc.”
Em 13 de agosto de 1917, as crianças foram sequestradas pelas autoridades locais, que tentaram impedir que continuassem a falar sobre as aparições. Foram ameaçados de morte em um caldeirão de óleo fervente, mas não recuaram.
Postas em liberdade, Nossa Senhora apareceu a elas em Valinhos, perto de Fátima, no dia 19 daquele mês, e as exortou a continuar com sua missão de oração e penitência.
"Rezem, rezem muito e façam sacrifícios pelos pecadores."
Em setembro de 1917, Nossa Senhora apareceu novamente, desta vez reforçando a importância do Terço diário e da oração pela conversão dos pecadores. Ela anunciou que o grande milagre aconteceria em outubro, como uma confirmação da autenticidade de suas aparições e da necessidade de se atender à sua mensagem.
"Em outubro farei um milagre para que todos creiam."
O grande milagre de Fátima ocorreu em 13 de outubro de 1917, quando cerca de 70.000 pessoas, incluindo crentes e céticos, reuniram-se na Cova da Iria, sob uma forte chuva. À hora prevista, após as palavras da Virgem, a chuva cessou, o céu abriu-se e o milagre iniciou-se. O sol apareceu como um disco de prata, girando vertiginosamente como uma roda de fogo, lançando luzes em várias cores sobre a multidão, a terra, as árvores e até as nuvens. Foi descrito como um espetáculo jamais visto, testemunhado por uma multidão diversa, composta de fieis, jornalistas, cientistas e ateus.
O fenômeno durou cerca de 10 minutos e foi visível até mesmo a quilômetros de distância do local. Muitos gritaram em terror, acreditando ser o fim do mundo. Outros rezavam de joelhos, chorando e pedindo perdão. O chão, antes completamente enlameado pela chuva contínua, encontrava-se seco ao final do milagre, bem como as roupas das pessoas presentes. Os doentes foram curados.
Nossa Senhora revelou seu nome e aduziu:
"Eu sou a Senhora do Rosário. Continuem sempre a rezar o terço todos os dias. Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor, que já está muito ofendido."
Apareceu também no Céu o Patriarca São José com o Menino Jesus, a abençoar o mundo.
Após as aparições, a vida dos pastorinhos mudou drasticamente. Francisco e Jacinta, devido à sua grande santidade, foram chamados ao Céu em 1919 e 1920, respectivamente. Ambos morreram de doenças, mas suas mortes foram vistas como um exemplo de sofrimento oferecido em união com Cristo para a salvação das almas.
Lúcia, a mais velha, foi chamada à vida religiosa. Ela continuou a espalhar a mensagem de Fátima por meio de suas cartas e escritos. Sua missão foi confirmar que a mensagem de Nossa Senhora não estava apenas destinada às crianças de Fátima, mas a todos os cristãos, em especial ao Papa, que deveria consagrar a Rússia ao Imaculado Coração de Maria e aprovar a devoção dos cinco primeiros sábados do mês.
Em 1925, já após as aparições em Fátima, a Irmã Lúcia, que havia ingressado no convento das Carmelitas em Tuy, na Espanha, recebeu uma aparição de Nossa Senhora e com Menino Jesus, na qual foi-lhe ensinado a praticar a devoção ao Imaculado Coração de Maria.
Nossa Senhora disse a Lúcia:
"Olha, filha, o meu Coração cercado de espinhos, que os homens ingratos me fazem constantemente, e que não há quem faça um ato de reparação para retirar esses espinhos. E tu, ao menos, procura consolar-me, espalhando esta devoção que a meu Imaculado Coração será dada."
A devoção dos Cinco Primeiros Sábados consiste em:
Esta prática visa especialmente reparar os pecados contra o Coração Imaculado de Maria, como os pecados de blasfêmia, sacrilégio e ofensas a Nossa Senhora.
As aparições de Fátima são as mais importantes para os nossos tempos, e não podemos ignorar as advertências de Nossa Mãe do Céu.
Façamos penitência e esforcemo-nos em reparar seu Imaculado Coração.
Padre João de Marchi, I.M.C., True Story of Fatima, The Fatima Center, 2017.
Ir. Lúcia, Memórias da Irmã Lúcia I, 13.a ed. Fátima: Secretariado dos Pastorinhos, 2007.
