"Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29).
Assim como a Virgem Maria nos conduz a Jesus Cristo, o mês de Maria (maio) nos conduz ao mês de junho, dedicado ao Sagrado Coração de Jesus.
Este Coração é chamado “Sagrado” porque o Coração humano de Cristo está unido substancialmente à sua divindade.
Por esse motivo, devemos prestar culto de latria ao Coração de Jesus — isto é, o culto de adoração que se presta somente a Deus. Adoramos esse Coração não por ser humano, mas precisamente porque sua humanidade está perfeitamente unida ao Verbo Divino.
Esse Coração é paciente e cheio de misericórdia. Como rezamos na ladainha: “Coração de Jesus, cheio de misericórdia”. Misericórdia significa literalmente “um coração compassivo”, do latim: misereo (compassivo) e cor (coração).
Por isso, pedimos todos os dias, três vezes no Ofício de Prima e nove vezes na Santa Missa: Kyrie, eleison. Christe, eleison. Kyrie, eleison. Senhor, tende compaixão de nós!
Cultuamos esse Coração não apenas por sua divindade e misericórdia, mas também porque Ele escolheu morrer por nossos pecados. Na agonia do Horto, Ele disse ao Pai: “Não se faça a minha vontade, mas a Vossa.” Isso significa que, embora sua vontade humana tivesse a inclinação natural à autopreservação, ela se submeteu perfeitamente à vontade divina, sabendo que isso significava a própria morte. Por isso, rezamos na ladainha: “Propiciação pelos nossos pecados”.
Meditando sobre o Sagrado Coração de Jesus, alcançamos graças. Nós, que temos forte devoção a Ele, meditamos em suas virtudes, e, por meio de tudo o que está presente nesse Coração, podemos ser santificados. O coração humano de Cristo é mediador da graça que recebemos.
Na ladainha, rezamos: “Fonte de vida e santidade”, porque toda santidade vem do Sagrado Coração de Jesus. Toda vez que recebemos graça santificante — isto é, somos feitos santos —, também recebemos os dons do Espírito Santo e as virtudes infusas.
Assim, invocamos: “Coração de Jesus, abismo de todas as virtudes, tende piedade de nós”.
Temos devoção ao Sagrado Coração por compaixão aos seus sofrimentos. Ele é “saturado de opróbrios”, isto é, cheio de humilhações. É “atribulado por nossas iniquidades”, ou seja, atormentado por nossos crimes. “Coração de Jesus, obediente até à morte… Coração de Jesus, vítima pelos nossos pecados.” Esses títulos devem objeto de nossa meditação, pois este Coração morreu especialmente porque nós pecamos.
“Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração”. Aqueles que cultivam a devoção ao Sagrado Coração tornam-se mansos. Por isso, essa é a devoção mais eficaz para vencer a ira e a raiva.
Também leva à temperança, ajudando a vencer a impureza e a gula. O devoto torna-se humilde e compreende que não deve buscar com excesso os prazeres terrenos.
As formas de cultivar essa devoção incluem, entre outras, a prática das nove primeiras sextas-feiras, os atos de reparação ao Sagrado Coração de Jesus — por nossos pecados e pelos pecados dos outros —, e a oferta do sacramento da confissão. Podemos também meditar nos mistérios do terço, especialmente nos dolorosos, mas até mesmo os gozosos, como a Encarnação; por exemplo, no Coração de Jesus sendo formado no seio da Virgem Mãe.
Podemos ainda consagrar nossa casa ao Sagrado Coração de Jesus e entronizar sua imagem em lugar de honra. Ele prometeu abençoar os lares onde essa imagem for exposta e honrada. Outras práticas piedosas incluem a Via Sacra e a oferta de nossos sofrimentos unidos aos d’Ele, para que nosso coração se conforme e se una ao d’Ele.
As promessas do Sagrado Coração são muito fortes. Ele prometeu conceder todas as graças necessárias ao estado de vida. Por exemplo, pais e mães, mesmo que não enfrentem grandes dificuldades, devem cultivar essa devoção — pois Ele trará paz às famílias. Segundo Santo Agostinho, a paz é a tranquilidade da ordem, e com essa paz, tudo estará em seu devido lugar: a esposa se submeterá ao marido, e os filhos obedecerão a ambos.
Ele também prometeu consolar os seus devotos em todas as suas aflições. Quando enfrentamos dificuldades, não precisamos temer, pois Cristo nos dará a graça do consolo. Prometeu ser nosso refúgio nesta vida, e especialmente na hora da morte.
Os pecadores encontrarão nesse Coração uma fonte inesgotável de misericórdias — o que é crucial para os nossos dias, quando o pecado se multiplica e os padres estão cada vez menos disponíveis.
A misericórdia é para os contritos. Os devotos do Sagrado Coração terão um coração penitente. Sentirão dor por ter ofendido a Deus, e sua maior alegria será receber a graça da penitência final em sua última hora. Aqueles que não corrigem suas vidas naturalmente se afastam dessa devoção. E os indiferentes aos sofrimentos de Nosso Senhor provavelmente sofrerão a impenitência final.
A graça da penitência final não é concedida a todos no leito de morte. A Igreja ensina que Deus dá a todos a graça suficiente para a salvação — o que significa que, em algum momento da vida, a pessoa recebeu o necessário para se converter. No entanto, isso não significa que receberá essa graça no fim da vida. Se fosse garantido, não haveria razão para rezarmos sempre pela “penitência final”.
Devemos cultivar essa devoção ao Sagrado Coração de Jesus para obtermos essa graça suprema.
Ele também prometeu que as almas tíbias (isto é, mornas) tornar-se-iam fervorosas. No livro do Apocalipse, Nosso Senhor diz que vomitará os mornos de sua boca. Já as almas fervorosas subirão rapidamente à perfeição. Logo, é lógico concluir que os devotos do Sagrado Coração de Jesus verão em suas vidas sinais de predestinação ao Céu.
Jesus, manso e humilde de coração, fazei o nosso coração semelhante ao vosso!
LEÃO XIII. Encíclica Annum Sacrum, sobre a consagração ao Sagrado Coração, 1899.
PIO XII. Encíclica Haurietis Aquas, sobre o culto ao Sagrado Coração de Jesus, 1956.