
A palavra “capela” vem do latim e significa “pequena capa”, tendo passado ao sentido atual a partir da história de São Martinho de Tours, cuja festa celebramos hoje.
Quando ainda era soldado, São Martinho passou por um mendigo nu que tremia de frio. Movido de compaixão por ele, desembainhou sua espada e cortou sua capa militar ao meio, entregando uma metade ao pobre.
Naquela mesma noite, um homem apareceu-lhe em sonho, batendo à porta de sua casa, vestindo aquela mesma capa — era o próprio Cristo.
Martinho então se converteu, recebeu as ordens menores, tornou-se eremita e, em razão de suas virtudes, foi logo sagrado bispo de Tours.
Naquela época, era comum que os bispos saíssem em missão para evangelizar os pagãos nas terras do Norte; é por isso que o Evangelho é proclamado voltado para o Norte, com esse significado simbólico.
Lá, encontravam árvores sagradas dedicadas, por exemplo, ao deus Thor.
Daí vem a tradição do machadinho ou cutelo de São Martinho: o Museu Catharijneconvent, em Utrecht, possui em sua coleção uma relíquia chamada “o martelo de São Martinho de Tours” (em latim: maleus beati Martini). Ele foi confeccionado nos séc. XIII ou XIV a partir de um machado de pedra da Idade do Bronze tardia (c. 1000–700 a.C.), embora sua datação seja incerta.

Ele contém as seguintes inscrições em latim, significando:
Os ídolos caem pelo machado de Martinho. Que ninguém acredite serem deuses aqueles que caem assim.
Segundo a lenda, o machado teria pertencido a São Martinho e sido usado por ele para golpear o demônio e destruir templos e estátuas dos pagãos.
Como se veria depois em São Bonifácio, São Virgílio, São Bento e tantos outros, é de nossa tradição exterminar os ídolos pagãos — e disso nos orgulhamos.
Voltando à história da capa: os francos guardaram uma pequena capa de São Martinho como relíquia, levando-a inclusive para as batalhas, sobre a qual eram celebradas as Santas Missas.
O sacerdote responsável por guardar essa capa era chamado de capellano — em português, capelão —, e por isso esse título permaneceu, especialmente para os padres que servem aos soldados.
O uso da capela, isto é, da relíquia original de São Martinho, não pôde ser estendido a toda a Igreja por ausência de material suficiente, mas o nome, para designar pequenas igrejas, permaneceu até os nossos dias.
O culto a São Martinho era tão grande quanto hoje se tem a São Francisco. Ele foi muito invocado na Primeira Guerra Mundial, a qual terminou na 11ª hora do 11º dia do 11º mês — dia de São Martinho —, no ano de 1918.
Ele é patrono dos soldados, dos cavaleiros, dos alfaiates e dos mendigos.
São Martinho de Tours, rogai por nós!

Pe. Alban Butler. The Lives of the Saints, Benziger Bros, 1894.
Pe. João Batista Lehmann. Na luz perpétua. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 1953.
Dom Prosper Guéranger. The Liturgical Year. 15 v. Loreto Publications, 2000.