Santo Tomás de Aquino ensina que noções são ideias próprias pelas quais conhecemos uma Pessoa Divina.
Para conhecer Deus, precisamos conhecer essas ideias próprias, essas noções.
Essas noções são derivadas da origem das Três Pessoas. Para chegar a entender e conhecer Deus, precisamos saber algo sobre a origem das Três Pessoas.
Antes, revisemos o que publicamos ontem.
A teologia Trinitária envolve contar até cinco: 1, 2, 3, 4, 5.
Há um só Deus.
Ele é uno em natureza ou substância. É uno no ser — e, para Deus, "ser" é simplesmente existir.
Deus é a própria existência. Seu ser é ato puro, ser puro, existência pura. Por isso Ele disse a Moisés no monte: “Eu sou Aquele que é.” Como dizemos no Prefácio da Missa aos Domingos: "Vós sois um só Deus, um só Senhor, uma só substância, unidade na essência."
Geração e espiração.
O Filho Unigênito de Deus — o Verbo — é eternamente gerado do Pai. Essa processão chama-se geração.
Depois, o Espírito Santo procede eternamente do Pai e do Filho (Filioque). Essa processão se chama espiração (spiratio).
É essencial manter em mente que há uma ordem nas processões de Deus. A geração deve preceder a espiração — sem a geração, não se pode espirar. A espiração é a “respiração” do amor entre o Pai e o Filho.
Portanto, a geração em Deus precede a espiração (spiratio): a verdade precede o amor.
Há o conhecedor em Deus (o Pai), o conhecido em Deus (o Filho), e o amor compartilhado por ambos (o Espírito Santo).
Antes de amarmos algo, precisamos conhecê-lo.
Pai, Filho, Espírito Santo.
Se a relação em Deus é única e irrepetível, então essa relação é também uma Pessoa divina. É por isso que definimos uma pessoa humana ou angélica como alguém único e irrepetível — isso vem da teologia Trinitária.
Podemos também pensar em “pessoa” como “personalidade”. Quanto mais conseguimos nos relacionar, mais nossa personalidade se desenvolve; quanto menos nos relacionamos, mais nossa personalidade se degrada. Há uma diferença entre um santo — que se aproxima de todos — e alguém como um assassino em série. A personalidade deste se desfaz, enquanto o santo se torna mais semelhante a Deus. Ninguém é inacessível para um santo — isso vem da teologia Trinitária da Igreja.
O Espírito Santo procede do Pai e do Filho. Assim, temos apenas três relações únicas e irrepetíveis em Deus — ou seja, três Pessoas — porque uma das quatro relações é compartilhada pelo Pai e pelo Filho. Não é única.
Só isso já mostra o erro da ideia de que o Espírito Santo procede apenas do Pai, como sustentam os heterodoxos orientais: se isso fosse verdade, haveria quatro Pessoas divinas — e não três.
Paternidade, filiação, geração, espiração.
Com cada processão em Deus (geração e espiração), surgem relações verdadeiras. Como há duas processões em Deus, há quatro relações.
Isso não é difícil de entender quando olhamos para nossas famílias — pensemos nos nossos pais. Há uma relação entre nós e nossos pais: fomos gerados por eles. Há paternidade da parte deles e filiação da nossa parte. Duas relações.
O mesmo se dá em Deus: há o Pai e o Filho na geração. Depois, na e espiração do Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho, há mais duas relações — o que totaliza quatro relações.
Agora, sim, podemos avançar em nosso estudo: 1, 2, 3, 4, 5.
Para Deus Pai, há três.
Para Deus Filho, há duas.
Para Deus Espírito Santo, há uma.
Isso não soma cinco, certo? É porque duas delas são a mesma — falaremos sobre isso.
Deus Pai não procede de ninguém. Portanto, quando queremos conhecer Deus Pai, temos que perceber que Ele não tem origem.
Não pense em termos de tempo — em Deus não há tempo. Ainda assim, há origem, ou ausência dela. Nós, pobres humanos, estamos tão presos ao tempo que uma das coisas mais difíceis para nós é não pensar em termos de tempo. Mas devemos pensar em termos de ser, de existência. Uma coisa pode proceder de outra no mesmo instante — assim, há origem, mesmo sem diferença temporal.)
Portanto, dizemos que a primeira noção de Deus é que o Pai é inengendrado. Ele possui inengendricidade (innascibilitas). Essa é uma palavra técnica que significa que Ele não é gerado, engendrado. Deus Pai não nasce, não é gerado. Isso é algo muito profundo. Por causa da inengendricidade do Pai, Ele não pode ser completamente conhecido sem que se recorra àqueles que procedem d'Ele, pois Ele mesmo não tem origem.
Lembre-se: noções são ideias próprias pelas quais conhecemos uma Pessoa divina. Elas são derivadas da origem das três Pessoas. Assim, o Pai é conhecido pela paternidade (paternitas) — essa é a segunda noção: Ele é Pai do Filho. Isso é uma relação. Ele também é conhecido pela espiração (spiratio) compartilhada entre o Pai e o Filho — essa é a terceira noção.
Então temos aqui três noções:
A partir disso, vemos que a inengendricidade de Deus Pai mostra que há hierarquia em Deus.
Sim, há hierarquia em Deus, mesmo que todas as Pessoas sejam iguais em natureza e dignidade.
A paternidade de Deus é a mais alta. Isso também significa que há hierarquia no universo criado por Deus. Não dá para escapar disso.
A Revolução Francesa tentou muito abolir essa hierarquia, fazer tudo igualitário — isso é um ataque direto a Deus.
Toda autoridade flui d'Ele como Autor. Ele é o Autor. Tudo começa e termina com Deus Pai.
Por isso Santa Teresa de Jesus não fazia nada sério em sua vida sem consultar seu pai espiritual no confessionário. Ela acreditava que, dentro do sacramento, pela graça, se perguntasse algo, o sacerdote falaria em nome de Deus. E se ele errasse, outro sacerdote ou alguma providência corrigiria. Ela confiava no sacerdócio — e, acredite, havia escândalos em sua época.
Ela salvou vários sacerdotes de caírem completamente no escândalo — eles já estavam quase caindo, mas ela os salvou. Se você nunca leu a vida dela, leia — vale a pena. Problemas vocacionais estão enraizados em problemas de paternidade. Ou o vocacionado entrou no seminário/convento sem consultar um sacerdote (como Santa Teresa dizia que não se deve fazer), ou saiu sem orientação de um padre, e então ficam perdidos: O que faço da minha vida? Estou tão confuso…
O Filho é conhecido como eternamente gerado pelo Pai. Portanto, a filiação é a quarta noção.
Mais uma vez: as noções tratam de ideias sobre a Pessoa — como a conhecemos por sua origem. Se quisermos conhecê-las, precisamos conhecer essas noções. Então, a noção do Filho é a filiação.
O Espírito Santo também procede do Pai e do Filho. E, assim como o Pai, o Filho é conhecido pela noção de espiração. Essa é a terceira noção, novamente.
Portanto, o Filho tem duas noções:
1. Filiação (filiatio)
2. Espiração (spiratio, compartilhada com o Pai)
O Espírito Santo é conhecido por proceder do Pai e do Filho. Portanto, Ele é conhecido pela processão (processio) — esta é a quinta noção.
Note que, das cinco noções:
Portanto, vamos conhecer Deus através de suas Pessoas, e essas Pessoas são conhecidas por suas relações.
As quatro noções que são relações:
Três dessas relações coincidem com as três Pessoas:
As propriedades significam apenas que pertencem a uma Pessoa em particular — são pessoais. Não são noções da Trindade toda, mas de uma Pessoa.
A inengendricidade é única. Ela não faz parte de uma relação, nem é uma Pessoa. É uma propriedade do Pai sozinho.
Este é o nosso resumo da teologia Trinitária: tão simples quanto 1, 2, 3, 4, 5.
Mas lembre-se: o que é simples é, muitas vezes, o mais difícil de entender.
Podemos apreender, mas não compreender totalmente — nem no Céu.
Demos graças ao Bom Deus por ter nos revelado tudo isso acerca d'Ele, e peçamos nunca d'Ele nos apartar.
Glória ao Pai, e ao Filho, e ao Espírito Santo: assim como era no princípio, agora e sempre, e por todos os séculos dos séculos. Amém.
Santo Tomás de Aquino. Suma Teológica. Benziger Bros, 1947.