A caridade procura a união, pois o efeito próprio do amor é unir o amante ao amado, já que o amor é um certo movimento da alma em direção ao objeto amado (Summa Theologiæ, I-IIæ, q.28, a.1).
Santo Tomás de Aquino ensina que há modos de construir essa união e os laços de caridade dentro do nosso próprio lar.
Mas que sinais mostram que precisamos desses laços?
Alguns sinais claros são: mentiras e desconfiança; sentir-se distante dos familiares; guardar raiva ou punir com silêncio algum descontentamento; discussões frequentes; procurar muitos afazeres para ficar sem tempo para dar atenção aos membros da casa.
Tudo isso vai contra a caridade e indica que há um problema em casa.
Algo comum em muitas famílias é a necessidade de reduzir as ocupações excessivas.
Se atividades externas, como esportes, compromissos com amigos e trabalhos extras estão impedindo refeições ou orações em conjunto e convivência, elas precisam ser reduzidas ou eliminadas, a depender de cada caso.
Além disso, é preciso cultivar uma comunicação verdadeira entre marido e mulher e entre pais e filhos, especialmente com adolescentes, o diálogo não pode ser deixado de lado.
A caridade se fortalece por meio de demonstração adequada de afeto. Alguns casais fazem isso entre si de maneira imprópria.
Também os filhos devem sentir-se amados, mas isso inclui a correção e a disciplina. Diz a Escritura:
“Quem poupa a vara odeia seu filho; mas quem o ama, cedo o corrige.” (Pr 13, 24).
Outro ponto fundamental é o perdão. Quanto mais se convive com uma pessoa, mais ocasiões existem para a ofender. Se não há perdão, se não se desapega do rancor, uma bola de neve de ressentimentos se forma e, cedo ou tarde, ficará insuportável a convivência.
O perdão é uma estrada de mão dupla: deve-se dar o perdão e também pedir o perdão. Quantas vezes? Nosso Senhor disse: sempre (Mt 18, 22 e Summa Theologiæ, II-IIæ, q.33, a.1 ad.2).
Com nossos familiares também devemos agir com mansidão — virtude que nos permite não ir a extremos em nossas reações (Summa Theologiæ, II-IIæ, q.157, a.1).
Não precisamos estar certos o tempo todo; não precisamos ter sempre a última palavra. Precisamos abdicar da vingança e da aspereza no trato com os outros.
É também preciso entender que homens e mulheres tendem a buscar a unidade de modos diferentes.
Para as mulheres, o princípio de unidade são os relacionamentos, são as pessoas.
Para os homens, o é uma tarefa ou um objetivo em comum.
No matrimônio, esses dois aspectos se unem: o relacionamento é baseado em pessoas específicas (um pai específico, uma mãe determinada e os filhos que Deus enviar), e todos devem trabalhar para o mesmo objetivo, que é a salvação eterna.
Santo Afonso disse que, quem reza, se salva; e quem não reza, certamente se condena. Ora, se uma família quer se salvar, precisa rezar.
A oração em conjunto é uma fonte de unidade, pois nos une a Deus e aos que rezam conosco. É preciso ter uma determinada determinação de rezar juntos, custe o que custar, especialmente o santo terço.
O Catecismo de São Pio X nos ensina:
“Deus nos deu o exemplo de uma família perfeita na Sagrada Família, na qual Jesus Cristo viveu sujeito a Santíssima Virgem e a São José, até aos trinta anos, ou seja, até quando começou a desempenhar a missão que Lhe confiara o Padre Eterno de pregar o Evangelho.” (n. 405).
Tenhamos um altar, se possível, para a Sagrada Família de Nazaré, modelo perfeito de união na caridade, e peçamos sempre seu auxílio para nossa própria família.
Santo Tomás de Aquino. The Summa Theologiæ of St. Thomas Aquinas. 2. ed. rev. 1920. Online Edition by Kevin Knight. Disponível em: https://www.newadvent.org/summa/.
São Pio X. Catecismo Maior. Rio de Janeiro: Permanência, 2025.