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São José
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7/5/2025

Sob o manto do Justo: a festa secreta de São José

Equipe do Padre Leonardo Wagner

Secreto é algo retirado, algo removido do público.

O silêncio é, portanto, algo secreto. As palavras que poderiam ser ditas, são reservadas, guardadas de qualquer publicação. A vida do ilustre carpinteiro de descendência real davídica foi algo secreto, assim como seu culto na Igreja Latina.

Dom Prosper Guéranger escreveu em seu Ano Litúrgico:

“A devoção a São José foi reservada para estes últimos tempos. Embora baseada no Evangelho, não se desenvolveria nos primórdios da Igreja. Não que os fieis fossem, de alguma forma, impedidos de prestar honra àquele que fora chamado a assumir tão importante papel no mistério da Encarnação; mas a Divina Providência tinha suas razões ocultas para retardar a homenagem litúrgica a ser prestada, a cada ano, ao Esposo de Maria. Como em outras ocasiões, também aqui: o Oriente precedeu o Ocidente no culto especial a São José; mas, no século XV, toda a Igreja Latina o adotou e, desde então, ele gradualmente conquistou a afeição dos fieis.” (1)

Porém, agora também a festa de seu patrocínio (ou proteção) foi removida do calendário litúrgico.

Neste momento, meu caro leitor, você pode estar se perguntando:

“Festa do Patrocínio de São José? Nunca ouvi falar disso!”

Lê-se no missal dos fieis, escrito pelo Padre Francisco Xavier Lassance (✝ 1946):

"Esta festa tornou-se obrigatória na Igreja Universal após a ocupação de Roma pelas tropas de Vítor Emanuel II. O Papa proclamou São José Padroeiro do lar oprimido da Fé e confiou-lhe a defesa da Igreja Católica. Em virtude de seu casamento com Maria, ele se tornou o representante do Pai Eterno na Sagrada Família de Nazaré; ele ainda continua a exercer seu cuidado paterno sobre a Igreja Católica e a extensão e continuação da vida familiar de Belém e Nazaré.
No início, a festa do Patrocínio de São José foi designada para o Terceiro Domingo depois da Páscoa, mas quando, na reforma litúrgica de Pio X, se desejou restaurar aos Ofícios Dominicais sua precedência sobre os dos santos, a festa de São José também teve que ceder e foi antecipada para a quarta-feira anterior.
Para compensar isso, foi elevada à categoria de festa de primeira classe com uma oitava comum.
Em sua Liturgia, a Igreja atribui a São José um poder especial de intercessão em favor dos moribundos. Este santíssimo patriarca foi assistido em sua própria agonia por Jesus e Maria, em cujos braços entregou sua alma a Deus, mais pela força do amor do que pela do sofrimento.” (2)

Por ter recebido este singular privilégio, São José foi agraciado com o poder de nos auxiliar e proteger nos momentos mais difíceis de nossas vidas.

É verdade que Deus é o nosso ajudante e protetor: “adjútor et protector noster”, mas esse auxílio, no desígnio da Providência, passa pelas mãos fortes e silenciosas do justo: São José, esposo da Virgem, pai nutrício de Jesus, patrono da Igreja universal e defensor do Papado.

Neste momento crucial, a saber, a eleição do novo Romano Pontífice, precisamos recorrer a São José e nos apoiarmos em seu singular patrocínio.

Modelo de obediência e autoridade

Precisamos de uma autoridade firme na Igreja.

São José é também nosso modelo de autoridade.

A autoridade legítima nasce da obediência à vontade divina. São José foi escolhido por Deus para ser o Chefe da Sagrada Família, e o fez dócil, humilde, casto, forte, fiel, obediente.

Os mesmos princípios fundam o Papado: não é o homem que se eleva ao trono, é Deus quem imbui de autoridade o escolhido, e essa autoridade será tanto mais legítima quanto mais obediente aos mandamentos e conselhos do Divino Mestre.

O Papa não é o presidente da associação católica na terra; é o Vigário de Cristo.

Isso significa que ele, o Papa, está fazendo as vezes de Nosso Senhor e, portanto, não pode ordenar nada que seja contrário ao que o próprio Deus nos revelou e que está guardado no depósito da Fé.

O Guardião do guardião

São José é o Guardião da Sagrada Família. Se a Família de Nazaré foi o berço da Redenção, a Igreja é o seu fruto. Como um pai que acompanha o crescimento dos filhos com desvelo, assim o glorioso Patriarca vela sobre o Corpo de Cristo, o rebanho do Senhor, e principalmente sobre o guardião desse rebanho.

No silêncio de seu ofício, ele é o modelo dos que servem com discrição. Enquanto o mundo clama por líderes ruidosos, revolucionários, José guia com o silêncio que comunica a paz dos justos. Enquanto o mundo exige demonstrações portentosas de poder, José aponta para o menino Deus, dormindo em seus braços. Enquanto o mundo teme e geme ansioso pelo futuro e suas incertezas, José mostra o caminho da confiança na Providência Divina, ao obedecer sem questionar.

Uma solenidade providencial para tempos de tribulação

Quando esta festa foi instituída, o mundo católico passava por perseguições, e o Papado, ameaçado por poderes terrenos, clamava por auxílio. O Céu respondeu com a luz de São José. Hoje, novamente, a Igreja parece tremer — escândalos, confusão doutrinal, ataque às verdades imutáveis — e o Papado, muitas vezes incompreendido, vê-se como Moisés diante do mar vermelho.

É hora de ir para José.

Aplicação prática: consagrar-se à Providência

Viver sob o Patrocínio de São José não é apenas recordar de uma festa pretérita, mas consagrar-se atualmente a ele. É entregar a vida, a família, a Igreja e o Papa a esse Custódio silencioso. É renunciar ao desespero e abraçar a esperança. É compreender que a Providência Divina se manifesta na figura paterna do carpinteiro de Nazaré.

Assim, nesta festa sagrada, tomemos um propósito: invocar diariamente a proteção de São José. Que cada lar católico tenha um pequeno oratório sob seus auspícios. Que cada trabalho nosso seja feito em união com o silêncio da oficina de Nazaré.

Assim, sob o patrocínio do Terror dos demônios, sigamos firmes. Pois, como ele protegeu o Menino Deus da fúria de Herodes, protegerá Sua descendência do dragão que os tenta devorar. Como ele guardou a pureza da Virgem, guardará também para nós a pureza da Fé.

"Ite ad Ioseph!” — Ide a José!
E fazei tudo quanto ele vos disser.

Referências:

(1) Dom Prosper Guéranger, O.S.B., The Liturgical Year, Loreto Publications, 2000, vol. VII, p. 174

(2) Fr. Lassance, The New Roman Missal, Benziger Brothers, 1936, pp. 1690-1691

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