São Luís Gonzaga nasceu no dia 9 de março de 1568, no castelo de Castiglione, sendo o primogênito de uma nobre família. Desde cedo, sua alma manifestava uma inclinação sobrenatural. Mesmo entre os esplendores da casa paterna, o menino não se apegava às vaidades, mas buscava com seriedade as coisas de Deus.
Aos 7 anos de idade, já rezava diariamente, de joelhos, o ofício de Nossa Senhora e os sete salmos penitenciais. Esta devoção o acompanhou por toda a vida, mesmo em dias de enfermidade.
Desde pequeno, foi provado pela adversidade, como quem é preparado logo para a eternidade. Escapou milagrosamente de um naufrágio em um rio agitado e, certa noite, enquanto rezava antes de dormir, esqueceu de apagar a vela. Um incêndio tomou seu quarto, mas foi salvo a tempo.
Com apenas 8 anos, foi enviado à corte do Duque de Toscana, e depois à de Madri, junto ao príncipe Dom Diogo. Em meio ao luxo e à dissipação da vida cortesã, Luís permaneceu puro como um lírio entre os espinhos. Os que o conheciam o chamavam de “anjo da corte”.
Mesmo cercado por festas e distrações mundanas, cultivava o silêncio interior e evitava fixar os olhos em qualquer coisa que ameaçasse sua modéstia. Conservava tão bem sua pureza que, sem exagero, dizia-se que não distinguia a rainha das outras damas.
Aos 9 anos de idade, fez voto de virgindade perpétua e, por uma graça especial, foi para sempre isento de tentações contra a pureza.
Em Madri, fez sua primeira confissão com tanto arrependimento que caiu sem sentidos aos pés do confessor. Recebeu sua primeira comunhão das mãos de São Carlos Borromeu.
Tinha um coração totalmente voltado para Deus. Logo discerniu sua vocação, e foi na festa da Assunção que recebeu de Nossa Senhora o convite:
“Deves entrar na Companhia de Jesus.”
A mãe do santo alegrou-se ao saber de sua determinação em se tornar religioso, mas seu pai recusou seu consentimento por três anos. O Marquês Dom Fernando Gonzaga não aceitava que seu herdeiro trocasse os títulos nobres pela vida oculta de um religioso. Recorreu a promessas, ameaças, humilhações e até à expulsão.
Luís, firme em sua resolução respondia com paciência e perseverança. Intensificou as penitências, jejuava, flagelava-se e orava com mais fervor. A cada resistência paterna, mais se entregava à divina providência. O conflito se tornou tão profundo que só foi resolvido quando seu pai o viu, com os próprios olhos, em uma mortificação extrema, e, então, comovido, cedeu.
Antes de deixar sua casa definitivamente, foi enviado a Milão para tratar de negócios, ocasião em que, mesmo acompanhado de nobres e submetido a festas, conservou sua alma intacta. Ao retornar, foi enfim autorizado a seguir sua vocação.
Aos 17 anos, São Luís foi aceito como noviço na Companhia de Jesus. Desejando viver como o último entre os irmãos, pedia aos superiores que não lhe concedessem distinção alguma. Sua humildade se manifestava em cada gesto, e sua obediência era pura, pronta e alegre.
Dedicava-se ao estudo com zelo e santidade, cultivando também uma vida de intensa oração. Visitava o Santíssimo Sacramento antes e depois das aulas, e preparava-se para cada lição com orações fervorosas. Em tudo queria agradar a Deus, mesmo nas coisas mais pequenas. A modéstia de seu porte era tal que movia à devoção todos os que o viam.
Enviado a Nápoles por motivos de saúde, logo teve de retornar devido ao clima, que lhe era adverso. Em Roma, fez seus votos religiosos e continuou seus estudos de metafísica e teologia. Sua fama de santidade já se espalhava, mas ele se escondia sob o véu da simplicidade e do silêncio, como quem prefere ser esquecido pelos homens para ser lembrado por Deus.
Ele costumava dizer que duvidava que, sem penitência, a graça continuasse a resistir à natureza, que, quando não afligida e castigada, tende gradualmente a recair em seu antigo estado, perdendo o hábito de sofrer adquirido pelo trabalho dos anos.
"Sou um pedaço de ferro torto", disse ele, "e entrei na religião para ser endireitado pelo martelo da mortificação e da penitência."
No ano de 1591, uma peste assolou Roma. São Luís se ofereceu aos superiores para ajudar os doentes nos hospitais e nas ruas. Pedia esmolas para os pobres e lavava com suas mãos os corpos empestados. Oferecia seu corpo e sua juventude por amor àqueles que sofriam.
Foi então contagiado e prostrado por febres violentas. Sabia por revelação que sua hora se aproximava. Não pedia a cura, mas unia-se ao sofrimento de Cristo com mansidão. Mantinha o crucifixo e o Rosário junto ao peito e, mesmo entre dores, suas palavras eram doces e serenas. “É melhor que eu vá”, respondeu a quem lhe desejava vida longa.
Na noite de 21 de junho de 1591, oitava de Corpus Christi, com apenas 23 anos, partiu para o Céu pronunciando os santos nomes de Jesus e Maria. Sua alma parecia antecipar as alegrias da eternidade. Treze anos depois, foi beatificado, e em 1726 foi canonizado.
Hoje, é padroeiro da juventude e das Congregações Marianas, exemplo vivo de pureza, obediência, penitência e devoção mariana.
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O Cardeal São Roberto Belarmino, confessor do jovem santo, testemunhou que este nunca havia ofendido mortalmente a Deus. No entanto, castigava seu corpo rigorosamente, levantava-se à noite para rezar e derramava muitas lágrimas por seus pecados.
Rezemos para que, não tendo seguido sua inocência, possamos ao menos imitar sua penitência.
Pe. Alban Butler. The Lives of the Saints, Benziger Bros, 1894.
Pe. João Batista Lehmann. Na luz perpétua. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 1953.