Já não se ouve mais a voz de Pedro em Roma.
A sede, vacante, aguarda seu novo ocupante. Os olhos católicos, dispersos pela terra, voltam-se para o Alto, pedindo ao Bom Pastor que, mais uma vez, nos visite com Sua misericórdia.
O trono de Pedro está vazio. Não é apenas um sinal de ausência, mas uma convocação à esperança e à súplica. É neste momento de suspensão do exercício do ministério petrino que o coração da Igreja palpita com maior intensidade, pois o vazio aparente é o espaço que Deus mesmo prepara para agir.
É uma aspiração católica desejar que um novo Papa seja eleito.
É um sinal de caridade ansiar estar unido à autoridade escolhida por Deus para nos guiar.
As Chaves do Reino
Estamos às portas de um novo Conclave. Esta palavra antiga, que evoca paredes fechadas, portas trancadas e uma expectativa que ultrapassa os muros do Vaticano.
As chaves que trancam as portas da Capela Sistina fazem alusão às chaves do Reino dos Céus, as quais o Divino Mestre entregou a São Pedro, para que ele pudesse vincular e desvincular céus e terra.
É pelo poder das chaves que os méritos de Cristo e dos santos nos são dispensados e a pena devida por nossos pecados é remida, mas não somente isso. É este o maior poder que existe na terra. Se não me crês, caro leitor, creia no Papa Leão XIII, que assim escreveu:
"Portanto, Deus confiou Sua Igreja a Pedro para que ele a guardasse em segurança com seu poder invencível. Investiu-o, portanto, da autoridade necessária; visto que o direito de governar é absolutamente necessário para aquele que deve guardar a sociedade humana de forma real e eficaz. Isto, além disso, Cristo concedeu: 'A ti darei as chaves do Reino dos Céus'. E Ele claramente ainda está falando da Igreja, que pouco tempo antes Ele havia chamado de Sua, e que Ele declarou desejar construir sobre Pedro como fundamento.
A Igreja é tipificada não apenas como um edifício, mas como um Reino, e todos sabem que as chaves constituem o sinal usual da autoridade governante. Portanto, quando Cristo prometeu dar a Pedro as chaves do Reino dos Céus, prometeu dar-lhe poder e autoridade sobre a Igreja. 'O Filho confiou a Pedro a missão de difundir o conhecimento de Seu Pai e de Si mesmo por todo o mundo. Aquele que fez crescer a Igreja em toda a terra e a proclamou mais forte que os céus, deu a um homem mortal todo o poder no Céu quando lhe entregou as Chaves' (São João Crisóstomo, Hom. liv., em Mateus v., 2). Nesse mesmo sentido, Ele diz: 'Tudo o que ligares na terra será ligado também no Céu, e tudo o que desligares na terra será desligado também no Céu'. Essa expressão metafórica de ligar e desligar indica o poder de fazer leis, de julgar e de punir; e diz-se que o poder é de tal amplitude e força que Deus ratificará tudo o que for decretado por ele. Assim, é supremo e absolutamente independente, de modo que, não tendo nenhum outro poder na terra como seu superior, abrange toda a Igreja e todas as coisas confiadas a ela.” (1)
O que esperamos?
Não apenas um líder, mas um pastor. Um homem como o Rei Davi, segundo o Coração de Deus. Um Bom Pastor, e não um mercenário.
Mercenários são aqueles que não têm verdadeira preocupação com as ovelhas, mas que cuidam delas apenas por interesse financeiro. O mercenário, disse Nosso Senhor, foge diante do perigo, enquanto o Bom Pastor dá sua vida pelas ovelhas, demonstrando amor verdadeiro e sacrifício.
Com olhos voltados para o Céu, suplicamos ao Bom Pastor por excelência que afaste os mercenários da Igreja. Aquele que for escolhido pelos cardeais no conclave deverá carregar, não a glória do mundo, mas o peso da Cruz.
Ele deve estar pronto para beber o mesmo cálice do Senhor.
O cálice
A quem caberá tal sorte? Quem beberá o cálice do Senhor?
Neste dia em que celebramos o martírio de São João diante da Porta Latina, lembramos do cálice que o Evangelista disse que poderia, sim, beber (cf. Mt 20, 20 e seguintes).
O vermelho presente nas vestes dos cardeais e nos sapatos do Papa ainda hoje testemunham essa verdade: é preciso guardar, defender e transmitir a Fé ensinada por Cristo, ainda que seja necessário derramar o próprio sangue.
É este o ofício do Papa. Não é somente seu ofício mais importante, senão o único.
O fogo e a fumaça
Como São João, façamos companhia a Nossa Senhora.
É tempo de vigiar com a Santíssima Virgem Maria, no Cenáculo. A Igreja, representada no colégio cardinalício, precisa do Espírito Santo, como em Pentecostes. Por isso, antecipemos a súplica pelo Espírito Santo, a qual faremos em Pentecostes.
O mundo espera o fogo e a fumaça da Capela Sistema: esperemos o fogo da caridade e da luz do Espírito Santo. Como sobe a fumaça do incenso, suba também nossas orações ao trono da graça, para que encontremos auxílio no momento oportuno (cf. Sl 140 e Hb 4, 16).
Unamo-nos em oração. O trono está vazio, mas não está abandonado. Estamos todos reunidos em torno dele, suplicando um Bom Pastor, um mártir da verdade, um verdadeiro sucessor de São Pedro.
Que venha o novo pastor, e que seja segundo o Coração de Cristo.
(1) Leão XIII, Encíclica Satis Cognitum, n. 12 (de 29 de junho de 1896).