Vida dos Santos
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10.09.2025

O padroeiro das almas do purgatório

PL
Equipe do Padre Leonardo Wagner
Formação Católica

Neste dia 10 de setembro, dia do trânsito de São Nicolau de Tolentino, celebramos sua festa litúrgica. Para os santos, o dia a ser celebrado é o dia de sua morte, quando recebem a coroa e o prêmio de seus trabalhos aqui na terra.

Pelo pecado original, todos nascemos privados da graça de Deus; nascemos com uma inclinação ao mal; nascemos com o intelecto obscurecido e uma vontade débil.

Ser santo, portanto, não é uma tarefa fácil, pois precisamos lutar com e vencer o pior dos inimigos: nós mesmos. O mundo tem suas seduções, mas podemos lançar mão de artifícios para o evitar ou até para sair dele. O demônio não pode nos obrigar a nada… é um cão acorrentado.

Não é possível escapar, contudo, de nós mesmos. Assim, considerando as consequências do pecado original em nós, podemos concluir que somos nossos mais terríveis inimigos.

Para vencer-se a si mesmo, adotou São Nicolau um profundo espírito de mortificação. Escreveu sobre ele o Padre João Batista Lehmann:

“Em si, reconhecia o elemento mais inútil da Ordem [dos Eremitas de Santo Agostinho]. Cumprir a vontade dos outros era-lhe o maior prazer, pois assim se lhe dava ocasião de mortificar a sua. Levou a mansidão a tal ponto de perfeição, que as maiores contrariedades não conseguiam perturbá-lo ou fazê-lo perder a paciência.”

Quem foi São Nicolau de Tolentino?

Ele não é dos santos mais conhecidos. Foi um frade agostiniano do final do século XIII e início do século XIV que foi concebido como resposta a uma oração: seus pais foram a um santuário de São Nicolau de Mira (em Bari, na Itália) e pediram a graça de ter um filho. 

Em 1245, nasceu um menino, a quem deram o nome de Nicolau, em honra a seu intercessor. Sua família era pobre — não miserável, mas humilde —, e isso muitas vezes favorece quem deseja seguir a vida religiosa.

Aos 16 anos, Nicolau entrou para os eremitas de Santo Agostinho. Muitas vezes, nas vidas dos santos, vemos famílias nobres ou ricas se oporem à vocação religiosa de seus filhos por causa do prestígio e da herança. A riqueza se torna, assim, um obstáculo ao Evangelho — algo que o próprio Cristo previu. No caso de Nicolau, não houve impedimento: ele pôde entregar-se totalmente a Deus.

Ele dedicava longas horas à oração, fazia jejuns e penitências, dedicando também tempo aos estudos para o sacerdócio. Depois de 9 anos como frade, foi ordenado padre.

Logo ganhou reputação de bom pregador e confessor, conhecido também por sua mansidão. Por isso, foi encarregado de distribuir alimento e esmolas no portão do mosteiro. Todos os dias, muitos pobres batiam à porta, e ele lhes entregava pão ou o que fosse possível. Ainda hoje há a tradição do “pão de São Nicolau”. 

O pão de São Nicolau

Certo dia, após longos jejuns, Nicolau estava fraco e doente. Teve então uma visão da Santíssima Virgem, de Santo Agostinho e de Santa Mônica, que lhe pediram que comesse um pão bento, marcado com o sinal da cruz e molhado em água. 

Ele obedeceu e logo recuperou as forças. A partir daí, passou a distribuir esse pão bento aos doentes, que também alcançavam curas. Muitos testemunhavam melhoras, e o fato atraiu tanta gente que o prior chegou a acusá-lo de gastar demais os recursos do mosteiro.

Pacificador

“Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.” (Mt 5,9).

Depois de 18 anos no mosteiro, São Nicolau começou a ouvir vozes angelicais que o diziam: “Tolentino, Tolentino!”. 

Na época, Tolentino era uma cidade marcada por violentas disputas entre duas facções rivais: guelfos (apoiadores do Papa) e gibelinos (apoiadores do Imperador). 

Havia mortes, vinganças e intrigas. Movido pelo chamado de Deus, Nicolau mudou-se para lá a fim de ser instrumento de paz.

Assim como São Francisco de Assis e, mais tarde, Santa Catarina de Sena e São Bernardino de Sena, Nicolau buscou reconciliar essas famílias em conflito. Seu trabalho baseava-se em três atividades principais:

  1. Oração e penitência: passava longas horas em vigília, jejuava rigorosamente (não comia carne) e vivia austeramente. Isso o fortalecia espiritualmente e impedia o demônio de encontrar brechas em sua vida.
  2. Caridade: tornou-se conhecido pela bondade com os pobres e doentes, pela distribuição do pão bento e pelos milagres que aconteciam. As pessoas o escutavam porque viam coerência entre sua pregação e seu modo de viver.
  3. Contato direto com os líderes e famílias rivais: ele os abordava pessoalmente, exortando-os ao perdão, à reconciliação e à conversão. Sua santidade impressionava e dava peso às suas palavras.

Conta-se também um episódio milagroso em que certa vez, serviram-lhe carne por engano. Ao fazer o sinal da cruz sobre o alimento, a ave voltou à vida e voou pela janela!

Padroeiro das almas do purgatório

São Nicolau de Tolentino é o padroeiro das almas do purgatório. Ele tinha grande devoção por elas e celebrava Missas em seu sufrágio. 

Uma vez, um frade falecido lhe apareceu pedindo Missas por sua alma. Nicolau ofereceu por ele sete Missas, após as quais teve uma nova visão: aquele frade e muitas outras almas haviam alcançado o Céu.

Diz-se que o demônio, irritado com o bem que Nicolau realizava, chegou a agredi-lo fisicamente com uma vara. Assim como ocorreu com outros santos, quando o inimigo não consegue vencer pela tentação, recorre à violência infantil, como quem tem um ataque de fúria.

São Nicolau morreu em Tolentino no ano de 1305, aos 60 anos de idade.

De sua vida, tiramos algumas lições: Ele nasceu pobre e viveu pobre, sem os obstáculos da riqueza para seguir Nosso Senhor. Viveu sempre na penitência e na austeridade, lembrando-nos de que nós, no conforto moderno, muitas vezes estamos mais afastados de Deus justamente pelos excessos e facilidades. Nicolau uniu oração e trabalho: rezava, fazia penitência, ajudava os pobres, pregava, intercedia pelos mortos e buscava reconciliar os inimigos.

Peçamos, pois, sua intercessão. Que possamos, como ele, abraçar a austeridade, a penitência e praticar a caridade aos vivos e aos mortos.

Referências:

Pe. Alban Butler. The Lives of the Saints, Benziger Bros, 1894.

Pe. João Batista Lehmann. Na luz perpétua. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 1953.

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