Estamos habituados a ouvir sobre a evolução do ser humano e seus avanços tecnológicos. É possível que fique a impressão de que o homem está cada vez mais inteligente — porém, uma reflexão mais profunda nos faz concluir que estamos tomando decisões cada vez menos inteligentes.
O que diz Santo Tomás sobre o assunto?
A perda da justiça original deixou nossos primeiros pais, Adão e Eva, privados da graça de Deus. Ter perdido a graça significa estar em estado de pecado mortal.
Como todos os seus filhos nascem sem essa graça santificando, nós também viemos ao mundo em estado de pecado mortal.
Além disso, perdemos também os dons preternaturais concedidos a Adão e Eva, o que gera diversas dificuldades na vida humana.
Nossa natureza foi corrompida por causa do pecado dos primeiros pais. Não significa que a essência do homem mudou, mas que nossas faculdades ficaram desordenadas.
Os três principais efeitos foram a fraqueza na vontade (que vimos no artigo passado), o obscurecimento do intelecto e a inclinação para o mal (Suma Teológica, I-IIæ, q. 85, a. 3).
Nosso entendimento foi escurecido: mesmo com muito estudo, não temos clareza plena das coisas como teríamos antes da queda (Suma Teológica, I, q. 85, a. 3).
A percepção, o julgamento e a memória foram gravemente enfraquecidos.
Adão e Eva possuíam maior agudeza de sentidos e memória perfeita antes da queda.
Adão e Eva não tinham virtudes infusas propriamente ditas, mas os dons preternaturais que mantinham as paixões em ordem, submetidas à razão (Suma Teológica, I, q. 97, a. 1-2).
Quando eles perderam os dons preternaturais, não tinham virtude para ordenar bem a vida… quando foram restabelecidos em graça, tinham apenas esse auxílio. A vida de nossos pais deve ter sido bem sofrida logo após a queda.
Segundo Santo Tomás, antes da queda os sentidos eram mais aguçados (Suma Teológica, I, q. 97, a. 3). Hoje sofremos uma espécie de entorpecimento dos sentidos e também do intelecto.
Não foi só o pecado original, mas também os pecados atuais escurecem ainda mais o intelecto (Suma Teológica, I-IIæ, q. 77, a. 2).
Ao pecar, a consciência mostra que o ato é mau, mas a vontade leva o intelecto a focar no prazer desejado.
Isso cria um hábito vicioso: o intelecto passa a julgar segundo o prazer e não segundo a verdade. Cada pecado reforça esse hábito e gera maior obscurecimento.
Os escolásticos ensinavam que o corpo se ajusta às operações da alma, então, também os sentidos ficam menos sensíveis após cada pecado.
Isso é perceptível com as crianças e as telas. A enorme quantidade de estímulo que elas recebem diante das telas faz com que fiquem menos sensíveis — e como o conhecimento vem pelos sentidos, ficam também menos propícias ao estudo.
Santo Tomás observa que no caso do sexto mandamento, a pessoa sabe o preceito geral, mas ao se encontrar na situação concreta, o prazer obscurece o julgamento e ela julga que é uma exceção. Com a repetição habitual, a pessoa passa a acreditar até mesmo que tal pecado é aceitável em geral (Suma Teológica, I-II, q. 77, a. 2).
Isso mostra como uma sociedade inteira pode ser corrompida pelo pecado habitual.
A primeira coisa a ser pedida é a fé. Santo Tomás ensina que a fé é a primeira purificação do intelecto (Suma Teológica, II-II, q. 8, a. 6). Com a fé, começamos a perceber que Deus existe, que nós não somos o centro do universo, que há uma lei natural, que há prêmio para o bem e castigo para o mal praticado, etc.
Também as virtudes intelectuais: o estudo das ciências, da filosofia e da compreensão do que é o homem, de qual é a sua natureza, etc.
Depois, as virtudes morais. Elas mantêm sob controle o prazer e as delícias que obtemos das coisas pecaminosas que praticamos. Assim, elas purificam a nossa imaginação. Precisamos da imaginação para fazer julgamentos. Mas, se ela está sob o domínio das paixões, isso afeta o nosso julgamento. Quando possuímos virtudes morais, as faculdades inferiores permanecem sob controle e só agem na medida em que a razão lhes permite. Isso impede que prejudiquem nossa capacidade de compreender a natureza das coisas e a verdade sobre elas.
Há ainda a graça. A graça ilumina o intelecto e fortalece a vontade. Ela abre os nossos olhos. Mesmo aqueles que vivem nas maiores trevas de seus pecados, às vezes Deus lhes dá a graça de ver a realidade, mas a pessoa deve ser fiel a essa graça.
Não nos esqueçamos dos dons do Espírito Santo, por exemplo: o dom da sabedoria, que é ver as coisas a partir do ponto de vista de Deus; o dom da ciência, que nos ajuda a ver a realidade como Deus a fez, e não apenas como algo que existe para nós; o dom do entendimento, que nos dá uma compreensão intuitiva das verdades da fé; o dom do conselho, que nos ajuda especialmente quando estamos perdidos e não sabemos o que fazer nem como sair de nossos pecados.
O fundamental é parar de pecar. Cada vez que pecamos, nosso intelecto se obscurece mais. Os pecados espirituais são os mais destrutivos para o intelecto.
Devemos pedir ajuda aos santos e ao nosso Anjo da Guarda (sempre me rege, guarda, governa, ilumina)… ele pode iluminar nosso intelecto: não apenas sugerindo imagens, mas também fortalecendo a mente, dando-lhe uma luz interior para perceber a verdade do que está sendo proposto. Assim, podemos pedir a ele que nos mostre a verdade.
Santo Tomás de Aquino. The Summa Theologiæ of St. Thomas Aquinas. 2. ed. rev. 1920. Online Edition by Kevin Knight. Disponível em: https://www.newadvent.org/summa/.