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Ele prendeu o Papa! Napoleão contra Pio VII e a festa de Nossa Senhora Auxiliadora

História da Igreja
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23/5/2025
Equipe do Padre Leonardo

Como se deu a instituição da Festa de Nossa Senhora Auxiliadora, que celebramos hoje?

Em 2 de dezembro de 1804, na Catedral de Notre-Dame de Paris, Napoleão Bonaparte tomou a coroa das mãos do Papa Pio VII, colocou a coroa sobre sua própria cabeça e depois coroou também sua esposa Josefina.

Por que Napoleão foi tão audaz?

A ascensão de Napoleão

Bonaparte já havia aproveitado o colapso da monarquia e a ascensão da república durante a revolução francesa; ganhou fama como general nas campanhas da Itália (1796) e do Egito (1798); no golpe de 18 de brumário de 1799 derrubou o Diretório (o regime republicano em vigor); estabeleceu o Consulado, tornando-se primeiro-cônsul, praticamente um ditador.

Criou reformas administrativas e jurídicas (inclusive o Código Civil, conhecido como Código Napoleônico) e com apoio do Senado e após um plebiscito controlado, declarou-se “Imperador dos Franceses” (e não da França, o que indicava domínio sobre o povo, não apenas sobre o território).

Segundo o Pe. João Batista Lehmann, Napoleão via o Papa como um possível instrumento do império, pretendendo reduzir sua autoridade espiritual a uma função subordinada ao poder civil. Pio VII, por sua vez, procurou manter a paz, assinando a Concordata de 1801. No entanto, resistiu firmemente a qualquer ingerência imperial nos assuntos da Igreja.

A prisão do Papa

Pio VII é levado em uma carruagem

Em 1809, após conflitos crescentes, os Estados Pontifícios foram anexados ao Império Francês e Roma foi ocupada. Numa operação noturna e secreta, tropas francesas prenderam o Papa no Palácio do Quirinal. 

O Pe. Lehmann descreve com força a violência simbólica desse ato, que rompeu com séculos de respeito à autoridade papal. Pio VII foi levado prisioneiro, inicialmente a Savona e, depois, a Fontainebleau, onde permaneceu sob vigilância e forte pressão por cinco anos.

Durante o período em que esteve no cárcere, o Papa Pio VII enfrentou não apenas a violência do confinamento físico, mas, sobretudo, as angústias espirituais e morais impostas pela tirania de Napoleão. Em 1812, gravemente enfermo, separado de seus conselheiros fiéis e rodeado por eclesiásticos submissos ao imperador, o Pontífice foi levado, em meio à confusão e ao esgotamento, a assinar um documento que concedia prerrogativas indevidas ao poder secular sobre a Igreja. No entanto, tão logo recuperou a clareza interior, reconheceu o erro cometido sob coação e, com nobre humildade, retratou-se pessoalmente por escrito, restabelecendo a dignidade da Sé Apostólica com uma paz e firmeza que atestam a grandeza de sua alma sacerdotal.

A queda de Bonaparte

O Papa fez um voto em seu cárcere de instituir uma Festa a Nossa Senhora Auxílio dos Cristãos se ele fosse liberto. Ouvindo Deus as preces de seus filhos, a partir de 1812, com o fracasso da campanha russa, o poder de Napoleão começou a desmoronar.

A derrota militar veio acompanhada da crescente oposição interna e externa ao império. Em 1814, Pio VII foi finalmente libertado. 

O retorno do Papa a Roma, em 24 de maio daquele ano, foi acolhido com uma explosão de alegria popular, pois foi um sinal claro do triunfo da fé sobre os poderes humanos.

A instituição da festa

Auxílio dos Cristãos

Com profunda gratidão à Providência Divina, Pio VII atribuiu sua libertação à intercessão da Santíssima Virgem, a quem havia confiado o assunto.

Como gesto de ação de graças, instituiu oficialmente a festa de Nossa Senhora Auxiliadora dos Cristãos, fixando-a no mesmo dia de sua entrada triunfal em Roma — 24 de maio.

A festa tornou-se expressão pública dessa confiança, e um convite contínuo a recorrer à Mãe de Deus nas lutas espirituais da Igreja e de cada um dos fiéis.

Num mundo em que a Igreja frequentemente se vê cercada por hostilidades visíveis e invisíveis, esta celebração recorda que Maria Santíssima continua a ser o amparo dos cristãos e a protetora constante da Esposa de Cristo, a Santa Igreja Católica.

Em nossas tribulações, quando tudo parecer perdido e não houver mais esperanças humanas, depositemos também nós toda a confiança n'Aquela que é o Auxílio dos Cristãos, e assim comprovaremos em nossas próprias vidas o valimento da Mãe de Deus.

Nossa Senhora Auxiliadora, rogai por nós!

Referências:

Pe. João Batista Lehmann, Na Luz Perpétua. Petrópolis: Vozes, 1955.

Reuben Parsons, Studies in Church History. Vol. II. Philadelphia: John Joseph McVey, 1900.

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