Os frutos do Espírito Santo são um sinal de que a pessoa atingiu certo estágio de maturidade na vida espiritual, assim como uma árvore apenas produz fruto depois de ter raízes sólidas e ter atingido certa maturidade em sua vida vegetal.
Eles são para nós, portanto, um indicativo para sabermos em que estágio da vida espiritual estamos.
Os frutos do Espírito Santo são doze:
1. Caridade (Caritas)
Não se trata apenas da virtude infusa da caridade, mas da sua floração: amor abundante a Deus e ao próximo por amor de Deus.
Esse amor profundo traz consigo a presença contínua de Deus na alma. O principal efeito da caridade é a união; assim, quanto mais amamos a Deus, mais unidos a ele estamos.
2. Alegria (Gaudium)
Deleite é a presença do bem em uma das faculdades apetitivas. Quando essa presença é na vontade, o deleite chama-se alegria.
Porque amamos a Deus, gozamos de Sua presença contínua; e o resultado disso é a alegria.
Mesmo em sofrimentos intensos, a alma permanece jubilosa. A alegria provém da presença constante de Deus, e é por isso que os santos irradiam contentamento mesmo na dor.
3. Paz (Pax)
Quando há caridade, estamos sempre na presença de Deus. Assim, tudo o que fazemos está ordenado para Ele; e o deleite de querer fazer tudo por Ele é a nossa alegria
A caridade tem, portanto, um efeito ordenante. Santo Agostinho define a paz como a tranquilidade da ordem. Quando tudo na alma está ordenado para Deus, há repouso e serenidade interiores. Mesmo em meio ao caos, a alma que ama perfeitamente a Deus permanece em repouso.
Por isso, há aquela famosa citação das confissões do mesmo santo:
“Fizeste-nos para vós e nosso coração está inquieto enquanto não repousa em vós.”
4. Paciência (Patientia)
Se realmente se ama a Deus, se está disposto a sofrer tudo o que for necessário para O alcançar. Isso é a paciência, do latim pati (sofrer): disposição firme de sofrer o mal.
Quando, no trânsito, precisamos esperar o sinal vermelho, é um momento escolhido por Deus para que exercitemos a paciência.
A paciência permite suportar longamente a dor, sem perder a paz ou a alegria. É o autocontrole que conserva a alma unida a Deus mesmo nas provações.
5. Longanimidade (Longanimitas)
Essa palavra vem do latim "longus animus”, “longura de ânimo”, que é a capacidade de esperar o bem com perseverança.
Não é suportar o mal (paciência), mas suportar o atraso do bem, com serenidade e sem ansiedade.
Santa Mônica esperou a conversão de seu filho por 30 anos, provando sua longanimidade.
6. Bondade (Bonitas)
É a disposição interior da vontade que deseja o bem para todos. Um coração bondoso escolhe sempre o maior bem possível, sem inveja, sem malícia, sem egoísmo.
Toda vez que se peca, se comete uma maldade, pois se escolhe um bem menor em vez de um bem maior (e essa é a definição de maldade).
Quando a disposição da vontade está para o bem, se diz que o homem é de boa vontade. Por ocasião do Natal do Senhor, os Santos Anjos cantaram:
“Paz na terra aos homens de boa vontade” (Lc 2, 14).
7. Benignidade (Benignitas)
Enquanto a bondade é intenção de fazer o bem (porque está na vontade), a benignidade é a ação concreta em favor do próximo. É fazer o bem com mansidão e constância.
Caridade é amar a Deus e amar ao próximo por causa de Deus. Algumas vezes, o ato mais caridoso para com o próximo é corrigi-lo, discipliná-lo; ser gentil causaria maior dano.
A benignidade não é sinônimo de conforto emocional, é fazer o bem, e talvez isso inclua uma correção firme. O Espírito Santo ensina:
“Quem poupa a vara, odeia seu filho” (Pr 13, 24).
Odiar é desejar o mal para alguém.
A omissão na correção pode ser uma forma de malícia, pois impede a criança de associar dor ao erro e prazer ao bem, fundamentos psicológicos e morais fundamentais na infância, quando a criança não tem o uso da razão e só opera através das associações e não dos raciocínios.
8. Mansidão (Mansuetudo)
Virtude pela qual não vamos aos extremos em nossas reações. Um animal manso é um animal domado. Um homem manso é aquele que domou seu animal, ou seus instintos animais, suas paixões.
A mansidão é uma virtude oposta à ira. Nosso Senhor manifestou justa ira no Templo, mas com perfeita moderação. Ira é a percepção de uma injúria com desejo de vingança; ali, Deus estava sendo injuriado, e Cristo O vingou (do latim “vindex”, defensor ou protetor).
Já na Paixão, Ele guardou silêncio e suportou os ultrajes com mansidão, orientado pelo fim maior: a salvação das almas. Esta disposição revela domínio das paixões em prol do bem superior.
9. Fé (Fides)
A virtude da fé é infusa em nosso intelecto, pela qual podemos dar assentimento ao depósito da fé (o que Deus revelou). Assim, conseguimos ver a verdade que a Igreja Católica propõe para que acreditemos.
Um dos sinais que não há fé nas pessoas é que elas não aceitam tudo o que ensina a Igreja. Santo Tomás diz que aqueles que não dão assentimento a todo o depósito da fé, não possuem a virtude sobrenatural da fé, mas somente uma opinião (por exemplo, que Cristo é Deus).
Distingue-se o fruto da fé da virtude teologal infusa. Aqui, a fé como fruto é uma certeza crescente da verdade revelada, proporcionada pela caridade. Quanto mais santo é alguém, mais evidente e luminosa torna-se a doutrina católica em sua mente e coração.
Há aspectos de Deus que apenas os mais santos conseguem ver, pois possuem o fruto da fé. Essa fé torna-se tão clara que parece ser conhecimento — mas ainda não é, e só o será no Céu.
10. Modéstia (Modestia)
É a regulação os prazeres no que se refere à coisas exteriores. Ela regula o modo como falamos, nos vestimos, andamos, e até como nos comportamos diante da autoridade.
Esse fruto protege a pessoa contra a falta ou excesso nos exteriores: excesso de maquiagem, de joias, de roupas que não são adequadas para o estado de vida, ou falta de vestido; protege contra a loquacidade.
Vulgaridade, linguagem indevida e desrespeito a superiores são ofensas à modéstia.
Há várias sub-virtudes da modéstia. Dentre elas, duas são enumeradas pelo Apóstolo como frutos do Espírito Santo: continência e castidade.
11. Continência (Continentia)
Virtude da vontade pela qual se permanece firme apesar do tumulto dos apetites, geralmente em relação a assuntos referentes ao 6º Mandamento.
O homem continente usa as coisas permitidas com a devida moderação e até se abstém do que é lícito para praticar abnegação. A continência geralmente vem antes da castidade.
12. Castidade (Castitas)
É a virtude que modera os prazeres do tato em relação à matéria pertinente ao 6º Mandamento. A pessoa que é casta não tem movimentos antecedentes à razão; ela nunca deseja, por exemplo, ter relações conjugais fora do contexto de quando elas são permitidas. Não há inclinação emocional a elas, exceto quando é retamente ordenada.
Esse fruto do Espírito Santo faz com que a virtude seja muito mais ativa: os apetites ficam mais restringidos e não se movem quando são contrários à Lei de Deus.
Assim, não se é levado ao pecado. A continência está na vontade: ainda que haja movimento dos apetites, a pessoa consegue se conter. A castidade está no apetite, e previne o apetite de se mover a essas coisas, exceto quando é lícito.
Conclusão
Quanto mais santa se torna uma pessoa, maior é a ordem em sua vida e maior é a alegria que vem dessa ordem. Se não vemos esses frutos em nossa vida, peçamo-los com maior fervor nestes dias que restam da oitava de Pentecostes, para que o Espírito Santo opere livremente em nossas almas e nos faça santos — e esta é a vontade de Deus a nosso respeito (cf. I Ts 4, 3).
Santo Tomás de Aquino. Suma Teológica. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2001. v. 5.
Santo Agostinho. Confissões. 3. ed. São Paulo: Paulus, 1999.