Santo Tomás enumera três efeitos principais do pecado original: o obscurecimento do intelecto, a fraqueza na vontade e a inclinação para o mal (Suma Teológica, I-II, q. 85, a. 3).
Dizemos que nossa vontade foi enfraquecida (e não perdida) para deixar claro que o livre-arbítrio não foi perdido pelo pecado de Adão.
O livre-arbítrio é definido como a capacidade de escolher entre bens (Suma Teológica, I, q. 83, a. 3). Não é a capacidade de escolher entre o bem e o mal. Santo Tomás de Aquino observa que sempre que escolhemos algo que, na realidade, é um mal, nós o fazemos porque o vemos sob a aparência de algum bem (Suma Teológica, I-II, q. 8, a. 1).
Nós não temos uma capacidade natural de escolher o mal. Só temos a capacidade de escolher entre bens verdadeiros. Para escolher o mal, é necessário um desvio, uma “flexibilidade” antinatural, em que a vontade é forçada a agir contra a sua própria natureza.
A violência é definida como uma ação contrária à natureza de algo (Suma Teológica, II-II, q. 136, a. 2). Portanto, cada vez que pecamos, exercemos violência contra a nossa vontade, enfraquecendo-a. É como uma barra de ferro: se a dobramos repetidamente, ela se fragiliza até se quebrar.
Assim acontece com a vontade: quando pecamos repetidamente, ela se enfraquece cada vez mais. Essa fraqueza é uma debilitação, uma remoção da força, uma impotência que se revela na incapacidade de agir ou escolher.
Somos muito fracos: basta a menor tentação ou dificuldade para que muitos de nós desistamos. Vemos quantas pessoas inventam desculpas para não rezar, e diante da mínima resistência, já desistimos.
Essa condição atinge a todos nós — a uns, mais; a outros, menos. Só alcançamos uma verdadeira firmeza e força quando chegamos à confirmação na graça, a um estado de perfeição espiritual.
No entanto, é comum justificarmos nossas faltas dizendo: “sou fraco”. É verdade que a fraqueza pode, às vezes, atenuar a gravidade de nossos atos, mas, em muitos casos, somos nós os responsáveis por nos colocar em estado de tanta debilidade espiritual.
Herdamos sim a fragilidade do pecado original, mas o grau de fraqueza que manifestamos muitas vezes é consequência direta de nossos próprios pecados habituais.
A fraqueza é, muitas vezes, consequência dos vícios. O próprio vício é uma forma de fraqueza. A palavra virtude vem do latim virtus, ligada a vis (que significa força); já o termo vício designa justamente uma fraqueza.
A vontade é a faculdade mais suscetível ao hábito. Em outras palavras, é aquela que mais facilmente se deixa moldar por repetições. Assim, cada vez que pecamos, deixamos um resíduo habitual em nossa vontade (Suma Teológica, I-II, q. 50, a. 1).
O pecado é sempre um ato de violência contra a vontade. Ele a enfraquece, e ao mesmo tempo enfraquece também nossas faculdades inferiores, pois estas não foram feitas para o pecado. Cada queda gera nelas desordem e fragilidade.
Por isso, quando há um vício nas faculdades mais baixas — por exemplo, gula ou impureza —, sempre existe também uma fraqueza correspondente na vontade.
A fraqueza geralmente nasce do apego ao prazer e às coisas criadas. Como superá-la?
O primeiro passo para vencer isso é a continência. Santo Tomás define a continência como a firmeza da vontade que resiste aos apetites desordenados, ainda que estes estejam agitados (Suma Teológica, I-II, q. 155, a. 4).
O segundo passo é tomar resoluções concretas e repeti-las. Se alguém sabe que se irrita facilmente, pode decidir de antemão não reagir a certas provocações. Essa resolução, repetida, fortalece a vontade e vai criando hábitos virtuosos (Suma Teológica, I-II, q. 51, a. 2).
O terceiro passo é cultivar a virtude da esperança, que nos leva a confiar em Deus e não em nossas próprias forças (Suma Teológica, II-II, q. 17, a. 1). A autossuficiência é raiz de fraqueza; a esperança nos dá firmeza pela confiança em Deus. Na iconografia, a esperança é representada pela âncora, justamente por essa firmeza.
É também necessário crescer na caridade. Quanto mais amamos a Deus, mais odiamos aquilo que nos enfraquece e nos afasta d'Ele (Suma Teológica, II-II, q. 23, a. 2). Atos de fé, esperança e caridade, rezados todos os dias, inflamam o coração no amor a Deus e fortalecem a vontade.
Além disso, devemos trabalhar as virtudes morais, como a temperança e a castidade, que fortalecem as faculdades inferiores. Quando estas estão ordenadas, a vontade se torna mais forte.
A graça é indispensável, pois ilumina o intelecto e fortalece a vontade (Suma Teológica, I-II, q. 110, a. 2). Quem não é fiel à graça, inevitavelmente cede à fraqueza.
Devemos também pedir os dons do Espírito Santo, em especial a fortaleza, que nos dispõe a enfrentar o combate espiritual (Suma Teológica, I-II, q. 68, a. 4). O sacramento da Confirmação é fonte particular dessa força, pois nos torna soldados de Cristo.
Por fim, é essencial parar de pecar. O pecado é a causa da fraqueza. Se alguém diz: “nunca vencerei todos os meus pecados”, essa descrença já o derrota. Com fidelidade à graça, é possível alcançar um estado de vida praticamente sem pecado, ainda que a possibilidade de queda permaneça enquanto vivermos.
Devemos recorrer à intercessão dos santos, de nosso Anjo da Guarda e, sobretudo, da Santíssima Virgem Maria, que é “terrível como um exército em ordem de batalha” (Ct 6, 10). Sua força excede a de todos os santos e Anjos juntos. Quem se confia a Ela, jamais será vencido.
Deixemos de confiar em nossas próprias forças, e confiemos na força de Deus e da Santíssima Virgem Maria.
Santo Tomás de Aquino. The Summa Theologiæ of St. Thomas Aquinas. 2. ed. rev. 1920. Online Edition by Kevin Knight. Disponível em: https://www.newadvent.org/summa/.