“A caridade de Deus está difundida em nossos corações pela habitação de Seu Espírito em nós.”
Estas belas palavras de São Paulo aos Romanos foram colocadas como intróito da Missa de São Filipe Néri.
Ele era um homem profundamente unido ao Espírito Santo: não passava um dia sequer sem que ele pedisse a ajuda divina, especialmente após longas horas de oração, penitência e vigílias nas igrejas de Roma.
Seu sono era pouco, mas suas orações eram longas.
Nascido em 1515, o jovem adulto Filipe estava certo dia em meditação nas catacumbas de São Sebastião, durante a vigília de Pentecostes do ano 1544.
Tinha ele naquela época menos de 30 anos de idade e ainda não era sacerdote. De repente, viu descer do céu uma esfera de fogo que lentamente se dirigia até ele.
Para sua surpresa, essa esfera de fogo entrou por sua boca, tomou residência em seu coração e ali cresceu de tamanho.
Para que houvesse espaço para seu agora dilatado e inflamado coração, segundo o Pe. Lehmann, duas costelas (a segunda e a quarta) se quebraram para acomodar o novo tamanho do órgão.
Nesse momento, sentiu um amor tão intenso de Deus que acreditou que morreria. Gritou aos céus:
"Não mais, Senhor! Não mais! Eu sou apenas um homem mortal!"
Nele se cumpriu literalmente a Palavra do Senhor:
“De excelso misit ignem in ossibus meis” (Lm 1, 13): Enviou do alto um fogo aos meus ossos (texto para o primeiro alleluia do próprio de sua Missa) e “Viam mandatorum tuorum cucurri, cum dilatasti cor meum” (Sl 118, 32): Percorri a via dos teus mandamentos, tendo Vós dilatado o meu coração (ofertório).
Santa Maria Madalena de Pazzi, que viveu experiência semelhante, dizia que o fogo do Espírito a consumia tanto que precisava jogar água gelada no peito.
Como esta mesma santa afirmava, o Espírito Santo repousa nas almas preparadas para recebê-lo. São Filipe era puro e estava pronto para receber o Divino Espírito.
Desde então, seu corpo tremia além do normal. Às vezes mais, às vezes menos, mas aqueles que se sentavam ao seu lado no mesmo banco sentiam a terra tremer, como se fosse um terremoto.
Mesmo no inverno rigoroso de Roma, até o fim de sua vida quase com oitenta anos, ele frequentemente precisava ser esfriado, tal era o fogo espiritual que o consumia.
Mais que nunca, a Igreja necessitava de santos como ele em tempos tão turbulentos, marcados por cismas e heresias espalhadas pela ação do demônio e pela imaginação dos homens.
Por isso, junto com São Pedro e São Paulo, São Filipe Néri é conhecido como o Apóstolo de Roma.
O efeito daquela visita divina foi que ele se encheu plenamente do Espírito Santo, a tal ponto que precisava se esforçar para pensar nas coisas da terra.
Até celebrar a Missa lhe era difícil, tantas vezes tomado de êxtase, tendo de ser ajudado para concluir o santo sacrifício.
São Filipe era conhecido por seu senso comum, sabedoria e bom humor.
Conquistava desde os simples até cardeais e papas. Uma vez, enviou uma jovem para trabalhar num orfanato. Ela voltou irritada, coçando o nariz, incomodada com os piolhos que infestavam as camas das crianças.
São Filipe então lhe ordenou: "Volte lá e coma um!" Ela protestou: “Padre, o senhor não pode estar falando sério!”. “Volte lá e faça como eu disse”, respondeu ele. A moça obedeceu, mas ao chegar lá, não encontrou mais nenhum piolho. Voltou correndo para contar. O santo nada disse, apenas sorriu.
A alegria é um dos frutos do Espírito Santo.
Pessoas deprimidas vinham até ele, encostavam a cabeça em seu peito e saíam curadas. Muitas vezes, sequer conseguiam se aproximar dele, mas apenas permaneciam do lado de fora de sua casa, e já sentiam alívio.
Amava celebrar a Santa Missa com grande reverência. Incentivava devoções como as 40 horas de adoração ao Santíssimo Sacramento e peregrinações aos diversos santuários de Roma. Recomendava cantar hinos e ler a vida dos santos.
Apesar de tudo isso, preferia permanecer desconhecido e escondido. Seu lema era:
“Amar ser desconhecido.”
Morreu no dia 26 de maio de 1595, festa de Corpus Christi naquele ano. Tinha acabado de celebrar a Missa com fervor extraordinário e alegria exuberante, contando já com 80 anos.
Volte, São Filipe! Precisamos de um santo com essa estatura!
Ele dizia:
“Busquemos o Espírito Santo com pureza de coração, porque Ele habita nas almas cândidas e simples. O Espírito Santo é mestre da oração e nos faz permanecer em contínua paz e alegria, que é uma antecipação do paraíso.”
São Filipe Néri, rogai por nós!
Pe. Alban Butler. The Lives of the Fathers, Martyrs and Other Principal Saints. Vol. V. Dublin: James Duffy, 1866.
Pe. João Batista Lehmann. Na Luz Perpétua. São Paulo: Paulinas, 1956.