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Condenada à fogueira pela Igreja? A vida de Santa Joana d'Arc

História da Igreja
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30/5/2025
Equipe do Padre Leonardo Wagner

Santa Joana d'Arc não foi condenada pela Igreja. Neste artigo, explicaremos o motivo.

Contexto

Santa Joana d’Arc nasceu na festa da Epifania, em 6 de janeiro de 1412, no contexto da Guerra dos Cem Anos. A França estava dividida basicamente em duas facções: uma revolucionária e outra ligada ao reino legítimo.

O Duque de Orléans foi assassinado em 1407, o que gerou uma nova guerra civil que permitiu outras invasões inglesas. Deus então suscitou uma santa para impedir que sua filha primogênita, a França, caísse no domínio inglês e fosse posteriormente levada ao cisma de Henrique VIII.

Na vila de Domrémy, casaram-se Jacques e Isabelle Romée. Jacques era fazendeiro, Isabelle, dona de casa. Ela ensinou todos os seus ofícios domésticos, principalmente a costura, à sua filha Jeanne — Joana.

Joana ouvia a Missa com grande piedade e meditava com dedicação, especialmente nas histórias dos santos que escutava do padre no sermão da Missa. Não foi à escola e não sabia ler nem escrever.

Sua vila, Domrémy, foi invadida e saqueada pelos ingleses. Ela compreendeu então que a paz só viria com a afirmação da soberania do seu reino.

Ajuda do Céu

Para auxiliar sua mais nova santa em missão, Deus enviou companheiros: São Miguel Arcanjo, Santa Catarina de Alexandria e Santa Margarida de Antioquia, que lhe apareciam frequentemente. Depois, apenas suas vozes continuaram a orientá-la.

Isso foi atestado em seu julgamento: a única recompensa que pediu a São Miguel por seus trabalhos foi: a salvação de sua alma.

Líder militar

Santa Joana liderou o exército francês ainda muito jovem. Embora fosse treinada no uso da espada, quase não a utilizou — senão uma vez para quebrá-la nas costas de uma mulher mal-intencionada que queria levá-la ao pecado.

Para liderar o exército de Carlos VII, este quis testá-la para garantir que seus dons extraordinários não provinham de bruxaria ou heresia. Ela foi levada a Poitiers e examinada por teólogos, que a encontraram isenta de qualquer mancha: uma filha leal da Igreja.

Em cartas, assinava la Pucelle — “a Donzela”.

Carregava com ostentação uma bandeira branca com os Santíssimos Nomes de Jesus e Maria. Essa era sua arma e seu estandarte.

Proibia seus soldados de usar o nome de Deus em vão e, sempre que possível, evitava batalhas aos Domingos, exigindo também confissões frequentes dos combatentes. Se algum inimigo caía em batalha, Joana buscava a confissão dele — pois, para ela, mais importante que amigos ou inimigos, era a salvação das almas.

Tão dócil era ao Espírito Santo que sua festa insere-se bem na novena de Pentecostes.

Muitas vezes, nem percebia a grandeza de suas obras.

Inquisição

Perguntada por seus inquisidores quem era o verdadeiro Papa, respondeu: “Há mais de um?”

Na época, três homens reclamavam o título: Martinho V, Clemente VIII e Bento XIV.

Joana dizia: “Nosso senhor, o Papa, mora em Roma.”

Questionada sobre coisas que não lhe competiam, permanecia em silêncio.

Quando perguntada se estava em estado de graça, deu a única resposta possível: “Se estou, que Deus me mantenha nele; se não estou, que Deus me coloque nele.”

Confessava-se quase todos os dias. Sua maior dor era não poder assistir à Missa durante as batalhas. Indagada se obedeceria à Igreja Militante, respondeu afirmativamente, desde que não fosse algo impossível. Sempre dizia que Deus deve ser obedecido em primeiro lugar.

Nunca ofendeu seus superiores. Afirmava obedecer às suas vozes, enviadas por Deus, e alertava o bispo de Beauvais de que estava em risco de perder sua alma, pois ela era enviada por Deus, e suas vozes jamais pediam algo contra a vontade divina.

Antes morrer que pecar

No dia 17 de julho de 1429, Carlos foi coroado na Catedral de Reims. Como a invasão ainda não havia terminado, Joana foi capturada em Compiègne.

Suas vozes a haviam avisado que seria uma longa prisão. Temendo ser entregue aos ingleses e que sua pureza estivesse em perigo, desobedeceu às vozes e saltou da torre — preferia morrer a perder sua pureza.

Isso é lição para os tempos atuais, em que muitos, por medo, desobedecem a Deus.

Processo ilegal

Joana foi capturada novamente e julgada por um bispo que não tinha jurisdição. Todo o processo foi ilegal. Mesmo alertando o bispo de que fazia a vontade de Deus, foi injustamente condenada por abuso de autoridade.

Novamente foi questionada: “Você não quer obedecer à Igreja?” Respondeu que sim, epediu para ser julgada em Roma.

Porém, foi enviada à fogueira em 30 de maio de 1431, quando entregou sua santa alma a Deus.

Vinte e cinco anos depois, Carlos VII solicitou novo julgamento, e Joana foi exonerada. Todo o processo foi declarado nulo.

Em 1920, Santa Joana d’Arc foi canonizada solenemente por São Pio X.

Uma figura da Igreja

Santa Joana era uma virgem pura — assim como a Igreja. O Beato Francisco Palau relatou que viu a Igreja sempre jovem, sempre virgem, sem mancha.

Joana pavimentou o caminho para a coroação do rei: entrou em Reims no dia de Nossa Senhora do Carmo, 16 de julho; e a coroação foi no dia seguinte.

As carmelitas mártires de Compiègne morreram no mesmo 17 de julho. Joana foi capturada naquela cidade.

Assim também a Igreja pavimentará o caminho do futuro grande monarca, profetizado por tantos santos. Este estabelecerá a ordem do mundo sobre Deus e sobre a Igreja. Na vida de Joana, vemos já como os maus também agirão no futuro. Sempre há um (ou mais) Judas para trazer a Paixão da Igreja.

O Padre Frederick Faber disse: “Se todos os maus estivessem de um lado e os bons de outro, não haveria perigo para os eleitos. Mas os bons farão o trabalho do Anticristo que crucificará Nosso Senhor novamente. Nisso consiste o engano: homens bons estando do lado errado.”

São João da Cruz também foi aprisionado por seus próprios irmãos. Joana foi queimada por membros da Igreja — alguns, talvez homens bons, mas do lado errado.

Ela foi chamada por Deus a entrar na política — evidenciando o erro de afirmar que Igreja e Estado devem estar separados. O poder espiritual deve estar acima do temporal, como a alma governa o corpo. Em outras palavras, foi o que ensinou o Papa Leão XIII na Immortale Dei (1885).

Joana foi condenada por um bispo que, em vez de religioso, era político. Dom Pierre Cauchon queria ascender na hierarquia e obter mais poder junto ao Estado. Reuben Parsons afirma que o prelado procedeu em conluio com os ingleses, ignorou os direitos do Papa, e seu tribunal agiu com documentos falsos e pressão política.

A revisão oficial do processo, conduzida por ordem do Papa Calixto III, declarou nulo, injusto e fraudulento o julgamento realizado por Cauchon, afirmando que os artigos usados para condená-la foram manipulados, e que o bispo e seus asseclas agiram de forma ilegítima.

No futuro, pode ser que um Papa olhe para nossos tempos e conduza um novo julgamento das injustiças que ocorrem, anulando erros e restaurando todas as coisas em Cristo, como era o lema do Papa São Pio X, o qual elevou a donzela de Orleáns à glória dos altares e fixou sua festa para este dia.

Santa Joana d’Arc, rogai por nós.

Referências:

PARSONS, Reuben. Studies in Church History. Philadelphia: John Joseph McVey, 1886.

PETITOT, Jules Étienne Joseph. Procès de condamnation et de réhabilitation de Jeanne d'Arc. Paris: Renouard, 1841.

CLÉMENT, Félix. Vie de Jeanne d’Arc. Paris: Didier, 1852.

PALAU, Francisco. Mis relaciones con la Iglesia. Barcelona: Tipografía de Narciso Ramírez y Cía., 1869.

FABER, Frederick William. Spiritual Conferences. London: Burns & Oates, 1860.

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