Artigo
7
minutos de leitura

Subiu aos Céus, sentou-se à destra do Pai

Espiritualidade
|
29/5/2025
Equipe do Padre Leonardo Wagner

Acompanhamos durante este ano litúrgico nosso Redentor desde seu Advento e Natividade até sua Paixão, Morte e Ressurreição.

As aparições do Ressuscitado

Nestes últimos quarenta dias, contemplamos diversas palavras do Salvador e suas aparições aos discípulos para os confirmar na compreensão do mistério da Ressurreição.

Alguns autores espirituais chegam até a fazer uma correspondência entre o número de vezes em que, na Missa, o Padre — que é outro Cristo — diz “Dominus vobiscum” e o número de vezes que os Evangelistas registraram as aparições do Ressuscitado.

Ensina Santo Afonso que o lugar que competia a Jesus Ressuscitado, era o Céu, que é a morada das almas e dos corpos bem-aventurados. Quis Ele, todavia, permanecer quarenta dias sobre a terra e aparecer repetidas vezes a seus discípulos para os certificar da sua ressurreição e instruí-los nas coisas relativas à sua Igreja: "Loquens de regno Dei”, falando do reino de Deus — que é a Igreja Católica.

Onde e quando ascendeu o Senhor?

O Senhor ordenou-lhes que fossem para o Monte das Oliveiras, o lugar onde tinha começado a sua Paixão, a fim de que compreendessem que o verdadeiro caminho para ir ao Céu é o dos sofrimentos. 

Depois, cercado de 120 pessoas (segundo o mesmo Santo Afonso), repetiu-lhes mais uma vez o que já lhes havia ordenado, especialmente que fossem pregar o Evangelho pelo mundo inteiro; feito o que o divino Redentor levantou as mãos e os abençoou.

São Boaventura escreveu que o Senhor Jesus abraçou então a sua santíssima Mãe e apertou-a ao coração, animou e confortou os seus discípulos, os quais, entre lágrimas, Lhe beijaram os pés.

Ao meio-dia, ensina Dom Gueránger, com as mãos levantadas e o semblante extraordinariamente majestoso e amável, coroado e vestido como rei, Nosso Senhor se elevou lentamente ao Céu, levando em sua companhia as numerosíssimas almas dos justos, livradas do limbo dos patriarcas: São José, Adão, Eva, Abraão, Isaac, Jacó, Davi, Sant’Ana, São Joaquim, São João Batista, São Dimas, etc. 

A esta vista, todos os presentes se ajoelham novamente e o Senhor mais uma vez os abençoa — não teriam neste momento aprendido os discípulos a darem a bênção com o sinal da Cruz? 

Ao final, uma nuvem subtrai o divino Redentor da vista de todos, e Ele senta-se à destra do Pai.

Para onde subiu?

Nosso Senhor Jesus Cristo possui um corpo, e esse corpo ocupa um lugar físico. Neste momento, e até que volte para julgar os vivos e os mortos, está no Céu.

Os antigos dividiam o "céu" em três, a saber:

Primeiro Céu: Atmosférico ou Corpóreo Inferior

Refere-se à região onde habitam as aves, as nuvens e os ventos. É a camada inferior da criação, o firmamento visível, mencionado no Gênesis como o céu onde as aves voam (Gn 1,20). 

Segundo Céu: Estelar ou Corpóreo Superior

É a morada dos astros, dos corpos celestes – o espaço sideral. Os antigos, incluindo os sábios medievais, chamavam essa região de “firmamento dos astros”, onde se movem os planetas e as estrelas. É ainda criação visível, sujeita ao tempo e ao movimento, mas mais sublime que o céu atmosférico. 

Terceiro Céu: Empíreo ou da Glória

Este é o Céu propriamente dito. É o lugar espiritual e imutável onde Deus habita com os anjos e os santos. Não é visível nem mensurável, pois transcende a ordem corpórea e material. É este o Céu em que Cristo, em sua humanidade glorificada, está assentado à direita do Pai, e onde Maria Santíssima foi assunta em corpo e alma.

Santo Tomás de Aquino ensina que o Céu empíreo foi criado no mesmo instante que os anjos e é o mais elevado dos céus, perfeito em sua estabilidade.


O que significa estar “sentado à destra do Pai”? 

“Sentar-se” é símbolo de realeza, domínio e repouso depois da batalha. Santo Tomás ensina que ao sentar-Se, Cristo manifesta três coisas: o fim da Paixão e o início da glória; a posse do Reino, que é dado ao Filho do homem; e a sua intercessão sacerdotal contínua em favor dos eleitos.

O trono do Cordeiro é também altar: de lá, Ele oferece ao Pai, sem cessar, os méritos de sua cruz.

“À destra do Pai” significa o lugar de maior honra. Significa que Nosso Senhor, enquanto verdadeiro homem e verdadeiro Deus, foi elevado acima de toda criatura, participando da glória que, enquanto Deus, Lhe era eternamente devida, e que, agora, também é reconhecida em sua natureza humana.


Sempre haverá um Papa

Professar esta parte do Credo e celebrar a festa da Ascensão do Senhor nos permite refutar um erro moderno, chamado de sedevacantismo, pelo qual (em termos genéricos) se acredita que a Sé de Pedro está vazia há quase setenta anos.

Imediatamente antes de subir aos Céus, o Senhor deu sua jurisdição sobre a Igreja para seus apóstolos, e estabeleceu o Papa como princípio visível de unidade da Igreja, ao escolher São Pedro como seu vigário.

O Concílio Vaticano I deixou esta doutrina bem clara e explicada na Constituição dogmática “Pastor æternus" sobre o primado e a infalibilidade do Romano Pontífice.

Em outras palavras, não passaremos longos períodos de tempo sem um chefe visível aqui na terra; e apenas quando o último Papa morrer o Senhor voltará para assumir a chefia visível de Sua Igreja e julgar rebanhos e pastores no vale de Josafá.


Aplicação prática

Santo Afonso diz que, como a águia ensina seus filhos a voarem, assim Jesus Cristo nos ensina a alçar o nosso voo e ir com Ele ao Céu — senão com o corpo, ao menos com os afetos do coração. 

Elevemos nossas aspirações, desapeguemo-nos das coisas terrenas e desejemos ardentemente a pátria celeste, onde está a verdadeira felicidade.

Enquanto isso, mantenhamos diante dos olhos os exemplos da vida terrena de Nosso Senhor: sua humildade e doçura, seu espírito de penitência, sua caridade ardente e seu zelo pela glória do Pai.

Referências:

Dom Prosper Gueránger. The liturgical year. Fitzwilliam: Loreto Publications, 2000.

Santo Afonso Maria de Ligório. Meditações para todos os dias e festas do ano. Tomo II. Friburgo: Herder & Cia, 1921.

Concílio Vaticano I. Constituição Dogmática Pastor aeternus, sobre o primado e a infalibilidade do Romano Pontífice.

Mais artigos

Padre Leonardo Wagner © 2024. Todos os direitos reservados.