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Atualidades
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October 17, 2025

A vaidade digital e o amor descartável: o colapso moral por trás das separações entre influencers

Equipe do Padre Leonardo

O amor, quando transformado em espetáculo, torna-se frágil como a plateia que o aplaude.

Em nosso tempo, o amor tem sido repetidamente fotografado, exposto, comentado e, enfim… abandonado. Não mais como um vínculo sagrado e responsável entre dois seres humanos, mas como um projeto de imagem, um espetáculo, um artifício de marketing pessoal. A recente onda de separações entre casais influenciadores — aqueles moldados pelas lentes do mundo — não é uma exceção, mas uma consequência previsível de uma cultura construída sobre o artifício e a vaidade.

Quando um casal público se separa, logo após meses (ou anos) de declarações efusivas, juras de amor em legendas cuidadosamente editadas e retratos de um cotidiano supostamente harmônico, não se rompe apenas um laço afetivo. Rompe-se uma concepção. O amor, quando reduzido a performance, degenera em vaidade; e quando a vaidade é frustrada, sobrevém o descarte.

A estrutura emocional dessas relações não é edificada sobre o silêncio, o sacrifício mútuo ou a perseverança, mas sobre a atenção do público, a estética das aparências e a ilusão de plenitude imediata. Elas não florescem na terra firme da realidade, mas num terreno artificial e instável, onde tudo é registrado para aplauso e consumo.

A vida privada — que deveria ser o santuário das relações verdadeiras — foi profanada. O ‘eu te amo’ postado no Instagram perdeu sua gravidade.

Ao observarmos essas rupturas, é evidente que não se rompe apenas o vínculo entre duas pessoas, mas a própria ideia de amor como compromisso. Vive-se uma pedagogia da substituição: tudo o que cansa, se descarta; tudo o que exige esforço, se evita; tudo o que fere o ego, se cancela.

Nesta lógica, o outro deixa de ser uma pessoa e passa a ser um recurso. E um recurso, como bem sabemos, se usa enquanto é útil. Não se ama mais o que é duradouro, mas o que é desejável. E o desejo — caprichoso e instável — não sustenta nada além do instante.

O influenciador vive do reflexo, não da realidade. Suas ações, decisões e afetos são calibrados para o olhar alheio. O problema não está no uso das redes sociais, mas na sua absolutização como medida da vida. Quando tudo é performance, não resta espaço para a intimidade — esse chão sagrado onde os afetos verdadeiros crescem.

A vocação do amor — que é o dom total de si — foi rebaixada à busca da validação instantânea.

Mas a influência que transforma o mundo não é aquela que viraliza, e sim a que edifica. Ela se manifesta na fidelidade oculta, na paciência cotidiana, no perdão silencioso, na cruz abraçada em segredo. O exemplo de uma vida coerente, mesmo sem holofotes, molda mais almas do que mil campanhas publicitárias.

Ao contrário da cultura atual, a tradição nos ensina que o amor verdadeiro não busca os seus interesses, não se vangloria, não se exibe. Ele permanece. Ele é paciente. Ele tudo espera. Ele não muda com os likes.

A cada nova separação espetacular, o mundo aplaude o direito de “recomeçar”, mas esquece de lamentar o fracasso do enraizamento. As pessoas são ensinadas a priorizar o que sentem, e não o que devem. O resultado é este: relações frágeis, almas esvaziadas e uma sociedade incapaz de sustentar vínculos.

É necessário, pois, resgatar a noção de que o amor é mais do que afeto: é decisão. Mais do que desejo: é responsabilidade. Mais do que atração: é fidelidade. Quem não está disposto a morrer para si mesmo, jamais será capaz de amar de verdade.

Num tempo em que tudo é descartável, perseverar tornou-se um ato "revolucionário". O matrimônio, quando vivido com seriedade e sobriedade, é uma das últimas fortalezas contra o colapso afetivo contemporâneo. Ele resgata o humano do utilitarismo e do narcisismo, exigindo renúncia, humildade e constância.

Na cultura da vaidade, o amor verdadeiro é escândalo. Mas é justamente este escândalo que precisamos restaurar.

Sem ele, a sociedade continuará a aplaudir a destruição — enquanto esquece que o amor, para ser real, precisa ser eterno.

Referências:

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