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A Grande Promessa

Espiritualidade
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27/6/2025
Equipe do Padre Leonardo Wagner

Nesta sexta-feira imediatamente após a oitava de Corpus Christi ocorre a Festa do Sagrado Coração de Jesus.

Por que neste dia?

Porque Nosso Senhor apareceu e pediu que fosse instituída uma festa em honra ao Sagrado Coração neste dia específico. 

Ele apareceu a Santa Margarida Maria Alacoque em 1673, na França. Santa Margarida era religiosa da Ordem da Visitação, uma congregação fundada por Santa Joana Francisca de Chantal, que havia sido dirigida por São Francisco de Sales. 

Santa Joana fundou a ordem no início daquele século. Em 1673, Nosso Senhor apareceu a Santa Margarida Maria e lhe fez três pedidos.

Os pedidos de Nosso Senhor

Em primeiro lugar, Ele pediu que aquela sexta-feira fosse dedicada à festa do Sagrado Coração de Jesus. 

Antes disso, na Idade Média, já havia se desenvolvido a devoção ao Sagrado Coração. São João Eudes, no início do mesmo séc. XVII, também promovia a devoção aos Corações de Jesus e de Maria. 

Mas estas aparições a Santa Margarida Maria deram grande impulso à devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Nosso Senhor pediu essa festa, assim como já havia pedido, séculos antes, a inserção da festa de Corpus Christi no calendário. 

A Missa de Corpus Christi, vale lembrar, foi escrita por São Tomás de Aquino no século XIII, como explicamos no artigo da semana passada.

Em segundo lugar, Ele pediu que Santa Margarida Maria fizesse uma hora santa às quintas-feiras. Por quê? 

Ele pediu de modo especial a hora santa na noite de quinta-feira, antes da meia-noite. Isso, para que ela se unisse ao tempo em que Nosso Senhor esteve no Horto das Oliveiras, na Quinta-Feira Santa, quando suou sangue antes de ser entregue. 

Ainda hoje se pode visitar o lugar na Terra Santa, onde a rocha manchada de sangue está preservada. Nosso Senhor perguntara aos Apóstolos:

“Não podeis velar comigo uma hora?”

E eles, por suas ações, responderam que não, pois adormeceram. 

Por isso, Ele pediu a Santa Margarida Maria — e a todos — que vigiassem com Ele uma hora, não necessariamente à noite, às quintas-feiras, para consolá-lo nos sofrimentos que enfrentou. Naquele momento da Quinta-Feira Santa, Ele podia ver todos os tempos, então, mesmo hoje, ao fazermos a hora santa, podemos consolá-Lo e Ele recebe este consolo.

Em terceiro lugar, Ele pediu a comunhão frequente, especialmente nas primeiras sextas-feiras. Naquele tempo não havia o costume de comungar todos os dias, ainda que o Concílio de Trento já incentivasse a comunhão frequente. 

A prática da comunhão frequente só se tornou comum há cerca de cem anos, e mesmo assim, em muitos lugares, a comunhão era oferecida apenas uma vez aos Domingos. Então, Nosso Senhor pediu a comunhão frequente, especialmente nas primeiras sextas-feiras, para unir-nos ao Seu Coração e consolá-Lo.

A Grande Promessa

Dois anos depois, ocorreu a aparição mais famosa relacionada ao Sagrado Coração. 

Nosso Senhor mostrou seu Coração a Santa Margarida Maria. Muitas vezes vemos vitrais ou pinturas em que Ele segura Seu Sagrado Coração nas mãos.

O que Ele disse?

“Eis o Coração que tanto amou os homens e nada poupou, até se consumir, para testemunhar o seu amor. Em troca, recebo da maior parte deles apenas ingratidão, pela irreverência, pelos sacrilégios e pela frieza e desprezo que têm por mim neste sacramento de amor, que é a Eucaristia.”

E disse ainda:

“Venho ao coração que te dei, para que, por teu fervor, repares as ofensas que recebo de corações tíbios e preguiçosos, que me desonram no Santíssimo Sacramento.”

Ele pediu que Santa Margarida Maria propagasse essa devoção, para reparar as ofensas de quem comunga sem respeito, sem fervor.

Então, Nosso Senhor fez a Grande Promessa:

“Prometo, na imensurável misericórdia do meu Coração, que o meu amor onipotente concederá a graça da penitência final a todos os que comungarem em nove primeiras sextas-feiras consecutivas. Não morrerão em minha inimizade, nem sem terem recebido os sacramentos, pois o meu divino Coração será seu seguro refúgio nos últimos momentos de sua vida.”

Esta promessa é uma das maiores que Nosso Senhor já fez. Ele não promete diretamente a salvação, promete a graça da penitência final; mas aquele que morre penitente, está salvo.

Nosso Senhor não promete apenas dar as graças. Ele promete que a pessoa irá para o Céu. Na promessa dos cinco primeiros sábados, Nossa Senhora diz que estará presente com as graças, de modo que a pessoa que tiver feito os primeiros sábados terá os auxílios necessários para ir ao Céu. Mas o fato de que Ela está lá com as graças ainda permite que a pessoa diga “não”.

Aqui, Nosso Senhor não promete apenas as graças. Ele promete que a pessoa irá para o Céu. E não só isso — Ele promete que essa pessoa não morrerá sem os sacramentos. Vamos rever isso:

“Prometo, na imensurável misericórdia do meu Coração, que o meu amor onipotente concederá a graça da penitência final a todos os que comungarem nas nove primeiras sextas-feiras consecutivas do mês. Não morrerão em minha inimizade, nem sem terem recebido os sacramentos, pois o meu divino Coração será seu seguro refúgio nos últimos momentos da vida.”

Essa é uma das maiores promessas que Nosso Senhor já fez à humanidade — e, infelizmente, é pouco conhecida

Precisamos levar isso a sério e ser fiéis aos pedidos de Jesus.

A recompensa não é automática

Muitas pessoas fazem as nove primeiras sextas-feiras e depois param. Esquecem-se de que Nosso Senhor fez essa promessa não apenas para nos dar uma graça, mas para incentivar uma vida de reparação contínua ao Seu Coração, sobretudo pelas comunhões sacrílegas ou tíbias. Ele deseja que essa reparação continue após as nove primeiras sextas.

Curiosamente, hoje temos comunhão frequente. Antigamente não era comum exatamente por medo de que as pessoas comungassem de modo tíbio ou indigno. A ideia era que a comunhão menos frequente aumentaria o fervor quando ela fosse recebida. Mas talvez tenhamos ido longe demais no outro extremo: hoje muitos comungam sem pensar, apenas por hábito. 

Outros deixam de ir à Missa porque acham que, se não vão comungar, não vale a pena. Isso mostra como perdemos a compreensão do valor da Missa e da comunhão.

Mesmo que não se possa comungar sacramentalmente, deve-se fazer a comunhão espiritual — e quem a faz com verdadeiro fervor pode receber mais graças do que alguém que comunga de modo frio e irreverente.

A Eucaristia e o Sagrado Coração

Nosso Senhor deixou claro, nas revelações a Santa Margarida Maria, que a Eucaristia é o sacramento do Seu amor. Ele une a Eucaristia ao Seu Coração. Ele disse:

“Eis o Coração que tanto amou os homens e nada poupou, até se consumir, para testemunhar seu amor. Em troca, recebo da maior parte deles apenas ingratidão, irreverência, sacrilégios, frieza e desprezo por mim neste sacramento de amor.”

A ciência moderna confirma este vínculo: em todos os milagres eucarísticos analisados, a hóstia transformada revela-se como tecido do músculo cardíaco — uma musculatura única, diferente de todos os outros tecidos do corpo. Sempre é coração.

O propósito das nove primeiras Sextas-Feiras

O motivo pelo qual Nosso Senhor escolheu a sexta-feira após a oitava de Corpus Christi é precisamente esse: Corpus Christi celebra o Corpo e o Sangue de Cristo. Na sexta-feira seguinte, Ele nos convida a reparar pelas ofensas feitas contra esse Sacramento, sobretudo as comunhões feitas com indiferença ou desprezo.

O objetivo das nove primeiras sextas-feiras é acender em nós uma devoção constante ao Coração de Jesus, ao sacramento do Seu amor. É uma promessa imensa. Mas se a pessoa cumpre as nove sextas-feiras e depois abandona a devoção, perde o verdadeiro espírito do que Nosso Senhor deseja.

Condições da Devoção

Para alcançar a promessa, é necessário comungar em nove primeiras sextas-feiras consecutivas. Às vezes, alguém pergunta: “Eu estava fazendo, mas nesse mês tive um encontro de família, viajei e não pude comungar. Posso continuar no mês que vem?” E a resposta é: não. A promessa exige nove sextas consecutivas.

É claro que haverá dificuldades. O demônio conhece bem essa promessa e vai tentar impedir sua realização. Mas devemos perseverar.

Além disso, é importante ter a intenção correta: honrar o Sagrado Coração de Jesus, alcançar a perseverança final e oferecer a comunhão como reparação pelas ofensas contra o Santíssimo Sacramento, especialmente as comunhões frias ou sacrílegas.

Você não precisa renovar essa intenção toda vez que comungar. Pode fazê-la agora — isso se chama intenção virtual. A menos que você a retire explicitamente, ela continua válida. Por isso, diga agora:

“Senhor Jesus Cristo, nas primeiras sextas-feiras em que eu comungar, ofereço a comunhão em reparação pelas ofensas contra vosso Coração e contra o Santíssimo Sacramento.”

Além disso, é necessário fazer uma boa confissão, pelo menos uma semana antes ou depois da comunhão, para manter a alma pura para as próximas comunhões. É evidente que a comunhão precisa ser válida, ou seja, em estado de graça.

Nosso Senhor veio do Céu para pedir essa reparação. Ele quer unir-se a nós, quer habitar no coração que Ele mesmo criou. Não ignoremos esse apelo.

Se você ainda não fez a devoção das nove primeiras sextas-feiras, comece. 

Façamos tudo para cumpri-la. Mesmo depois, continuemos a reparação.

Cor Jesu Sacratissimum, miserere nobis.

Referências:

Santa Margarida Maria Alacoque. Autobiografia e cartas espirituais. São Paulo: Cultor de Livros, 2019.

Papa Pio XII. Haurietis Aquas. Encíclica sobre o culto ao Sagrado Coração de Jesus, 1956. 

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