Neste dia 19 de agosto, a Igreja celebra a festa de São João Eudes. No dia 6 de janeiro de 1903, o Papa Leão XIII reconheceu as virtudes heroicas do nosso santo, atribuindo-lhe um título: “autor do culto litúrgico do Sagrado Coração de Jesus e do Imaculado Coração de Maria”.
O coração sempre representa o amor, que é um ato da caridade. O que Santo Tomás explica sobre a caridade, e como podemos reconhecê-la na vida do Padre Eudes?
Santo Tomás ensina que a caridade é uma virtude infusa que nos permite amar a Deus por Si mesmo e ao próximo por amor de Deus (STh II-II, q. 23, a. 1).
Por este ser um ato sobrenatural, precisamos desta virtude sobrenatural para conseguir amar a Deus por causa de Si mesmo e ao próximo por causa de Deus.
Desde jovem, João Eudes mostrava um amor ardente por Deus. O Padre Lehmann conta que, ao ingressar no Oratório de Bérulle, dizia que queria “ser todo de Jesus e Maria”. Sua vida foi marcada pela caridade sobrenatural — não buscava Deus por interesse, mas por Ele mesmo.
Essa virtude possui vários efeitos. Alguns efeitos dela são chamados “frutos”: os frutos do Espírito Santo. Santo Tomás diz que uma das características dos frutos é que eles são um sinal de perfeição, de completude. Uma árvore, por exemplo, apenas dá frutos quando atinge certo tamanho.
Durante a peste em Caen, em 1627, São João Eudes saiu do convento para assistir os doentes. Viveu meses dentro de um barril no campo para não contagiar outros. Esse gesto de amor desinteressado, pondo sua vida em risco pelos pobres, manifesta a caridade como ato sobrenatural.
Seus sermões inflamados sobre o Coração de Jesus e Maria (assim, no singular, ele chamava esses dois Corações) davam frutos abundantes de conversão. Multidões choravam e voltavam à confissão após ouvi-lo pregar. A “doçura espiritual” desses frutos era evidente.
A concórdia é um ato da caridade pelo qual os corações se unem na busca de Deus (STh II-IIæ, q. 29, a. 1). É possível amar a Deus pelos benefícios que Ele nos dá; nesse caso, não há concórdia, pois a finalidade de cada pessoa será diferente: um deseja uma consolação; outro, algum outro benefício.
Aqueles que possuem a caridade e amam a Deus por causa d’Ele mesmo, possuem concórdia, pois seus corações desejam o mesmo fim: Deus mesmo. No Céu, ensina São Paulo, Deus será tudo em todos (cf. I Cor 15, 28).
Fundador das Congregações de Jesus e Maria e das Irmãs do Bom Pastor, São João Eudes buscava harmonia espiritual entre sacerdotes e religiosas. Via a unidade dos corações como reflexo do amor divino, insistindo que todos fossem “um só coração no Coração de Jesus”.
Santo Tomás diz que a caridade é contrária à preguiça espiritual (deleite em não fazer nada). A caridade gera zelo, que é um impulso pelas coisas de Deus.
“Do amor nasce o zelo, porque aquele que ama não suporta que o bem amado seja possuído por outro.” (STh II-IIæ, q. 28, a. 4).
O zelo missionário de São João Eudes foi imenso. Ele realizou mais de 100 missões populares na França, pregando por semanas em vilarejos inteiros, confessando por horas sem descanso. Dizia: “Cristo e Maria ardem de amor pelas almas, e eu quero arder com eles.”
Penitentes esperavam dentro da igreja por três ou quatro dias para conseguirem se confessar com o Padre Eudes.
São João Eudes irradiava alegria ao ver outros crescerem na fé. O Padre Lehmann conta que, quando um pecador se convertia após suas missões, Eudes passava noites inteiras em ação de graças, cheio de alegria sobrenatural, como se tivesse encontrado aquela única ovelha perdida.
Segundo Santo Tomás, a “alegria é o deleite da vontade pelo bem presente.” (STh II-IIæ, q. 28, a. 1). Assim, quanto maior a caridade, maior a alegria interior. Precisamos chegar a tal nível de santidade que estaremos tão conscientes da presença de Deus em nós que estaremos sempre alegres pela presença constante do nosso amado.
“O amor de Deus derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5, 5) gera esta alegria.
Ensina o Doutor Angélico que “a caridade faz o homem alegrar-se com o bem do próximo.” (STh II-IIæ, q. 28, a. 4).
São João Eudes, apesar de enormes perseguições (incompreensões de bispos, ataques de jansenistas, doenças), irradiava uma alegria interior que vinha da união com Jesus e Maria.
Para ele, a alegria era inseparável da caridade: dizia que o missionário devia “arder de amor e brilhar de alegria, para atrair as almas a Cristo”.
Ele afirmava que a alegria espiritual é viver no coração de Jesus e Maria, porque ali a alma encontra repouso e plenitude.
Vimos que a Caridade é uma virtude infusa e que, portanto, é necessário que Deus no-la dê. Peçamo-la com humildade, inspirados e confiantes no Coração de Jesus e Maria (exemplos de perfeita humildade), por intercessão de São João Eudes, o “autor do culto litúrgico do Sagrado Coração de Jesus e do Imaculado Coração de Maria”.
Santo Tomás de Aquino. The Summa Theologiæ of St. Thomas Aquinas. 2. ed. rev. 1920. Online Edition by Kevin Knight. Disponível em: https://www.newadvent.org/summa/.
Pe. João Batista Lehmann. Na luz perpétua. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 1953.